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Mudanças na Cultura acentuam conservadorismo e deixam produtores em alerta

Perfil mais conservador da pasta pode, segundo os profissionais, dificultar aprovação de projetos considerados mais ousados

Roberto Alvim: mudanças promovidas pelo secretário de Cultura acentuaram o perfil mais conservador para a área (YouTube/Reprodução)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 09h52.

As mudanças promovidas pelo secretário de Cultura , Roberto Alvim em sua pasta acentuaram o perfil mais conservador para a área, o que colocou produtores de conteúdo em alerta.

"Projetos que tratam de assuntos como diversidade cultural ou mesmo que tenham artistas trans terão mais chances de serem vetados com essa nova administração", comentou um poderoso produtor ao jornal O Estado de S. Paulo, sob a promessa de anonimato. "Além da dificuldade em conseguir aprovação para as leis de incentivo, esse mesmo projeto terá dificuldade em obter patrocínio, pois muitas empresas temem associar sua marca a produtos que não agradam ao governo."

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O comentário refere-se principalmente à mudança na Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, órgão que dita as diretrizes gerais dos mecanismos de fomento, como a Lei Rouanet. O novo responsável é Camilo Calandreli, professor e cantor de ópera e um dos fundadores do Simpósio Nacional Conservador de Ribeirão Preto. "Ele é do meio artístico, entende dos problemas da área, mas têm uma visão conservadora, o que deverá refletir na escolha de projetos com conteúdo mais conservador", continua o produtor.

Calandreli é um dos nomes anunciados oficialmente nesta quinta-feira, 28, pela Secretaria da Cultura, agora vinculada ao Ministério do Turismo. Todos são mais alinhados com o perfil ideológico cristão e conservador de Alvim que, por sua vez, é coerente com o pensamento do presidente Jair Bolsonaro - antes, era um perfil mais técnico que definia a escolha dos nomes.

Assim, além de Calandreli, outros nomes tomaram posição: Katiane de Fátima Gouvêa é a nova secretária do Audiovisual; o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo é o novo presidente da Fundação Palmares, órgão responsável pela promoção da cultura de matriz africana; Janicia Ribeiro Silva, nova secretária de Diversidade Cultural, está ligada a uma empresa chamada Associação Cristã de Homens e Mulheres de Negócios; o doutor na área econômica Reynaldo Campanatti Pereira assume a secretaria da Economia Criativa.

Katiane é membro da Cúpula Conservadora das Américas que já pregou, entre outras questões, a promoção de filmes que destaquem valores patrióticos e de preservação da família - ela também esteve ligada a um documento que incentivou Bolsonaro a extinguir a Agência Nacional do Cinema (Ancine).

Já o novo presidente da Fundação Palmares utilizou as redes sociais para divulgar opiniões polêmicas, como atacar o movimento negro e minimizar o racismo no Brasil, considerado por ele como "nutella": "Racismo real existe nos EUA. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", escreveu Sérgio Camargo, que defendeu ainda a extinção do Dia da Consciência Negra ("É uma vergonha e precisa ser combatido incansavelmente até que perca a pouca relevância que tem .").

Tais comentários repercutiram entre partidos políticos. O PSOL, por exemplo, apresentou uma representação na Procuradoria-Geral da República a fim de solicitar a anulação da nomeação de Camargo. No documento, o partido alega que a nomeação é "absolutamente antijurídica e contrária ao interesse público, uma vez que sua trajetória, historicamente, é radicalmente contrária aos interesses que a Fundação busca defender".

Também contrária à nomeação do jornalista colocou-se a Fraternidade Universalista da Divina Luz Crística, que abriu um abaixo-assinado, na manhã de quinta-feira, 28, pedindo a anulação da nomeação - até o meio-dia, já havia mais de 20 mil assinaturas.

Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro se esquivou de perguntas sobre as bandeiras defendidas por Camargo e disse, nesta quinta, 28, que não o conhece pessoalmente.

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