Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Delfim estava internado desde a última semana (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 07h31.
Última atualização em 12 de agosto de 2024 às 09h47.
Morreu nesta segunda-feira, 12, aos 96 anos, o ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto. Segundo informações confirmadas pela EXAME, ele faleceu nesta madrugada e estava internado desde a última segunda-feira, 5, no Hospital Israelita Albert Einstein por conta de complicações de saúde causadas pela idade.
Delfim Netto deixa uma filha e um neto. Segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa, não haverá velório aberto ao público e seu enterro será restrito à família.
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), Delfim Netto foi um dos ministros da Fazenda que ocupou o cargo por mais tempo, exercendo a função entre os anos de 1967 e 1974.
No período em que foi ministro da Fazenda, a economia brasileira registrou as maiores taxas de crescimento em sua história (média anual de 9% de crescimento do PIB de 1968 a 1974).
O crescimento aconteceu na época mais dura do AI-5, com restrição de liberdades e perseguição a opositores da ditadura em vigor. Delfim estava presente na reunião que aprovou o ato institucional e foi um de seus defensores.
O legado desta época de grande avanço econômico com supressão política foi foco de intensos debates nos últimos meses quando foram lembrados os 60 anos do golpe militar de 1964.
Delfim é o autor da frase “é preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo", em que defendia que era preciso ampliar o PIB para depois distribuir a riqueza. Sua visão enseja até hoje discussões no Brasil, um país marcado pela concentração de renda.
Foi, ainda, ministro do Planejamento entre 1979 e 1985. Nesse período, comandou a economia brasileira durante a segunda maior crise financeira mundial do século 20, causada pelo choque dos preços do petróleo e pela elevação dos juros americanos para quase 22% ao ano.
Após o fim do regime militar, Delfim Netto participou das eleições em 1986 como candidato à Câmara dos Deputados. Foi eleito deputado federal por cinco vezes consecutivas, a primeira delas como constituinte.
Em 2014, durante uma das etapas da Operação Lava Jato, Delfim Netto prestou depoimento e afirmou que recebeu R$ 240 mil em espécie da Odebrecht em outubro daquele ano pelo que chamou de "motivos pessoais, por pura conveniência", devido a um serviço de consultoria que ele teria prestado à empreiteira.
Em 2018 teve R$ 4,4 milhões bloqueados em meio a investigações sobre recebimento de propina para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
Em 2014, Delfim Netto doou para a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), sua biblioteca pessoal, com um acervo de mais de 100 mil títulos, acumulados em quase oito décadas.