Protesto em Cannes: "Um país sem cultura é um país sem alma e um país sem alma é um país sem razão de existir", defendeu Calero (Yves Herman / Reuters)
Da Redação
Publicado em 6 de junho de 2016 às 15h18.
São Paulo - O ministro da Cultura, Marcelo Calero, classificou a manifestação de artistas contra o governo interino de Michel Temer em Cannes, na França, como infantil, totalitária e irresponsável.
Segundo Calero, a manifestação de uma "tese política" feita dessa forma é ruim, pois causa prejuízos à imagem internacional do País.
"Estão comprometendo (a imagem do Brasil no exterior) em nome de uma tese política. Isso é muito ruim, acho que até um pouco totalitário, porque você quer pretender que aquela sua visão específica cubra a imagem de um país inteiro", disse em entrevista ao programa "Preto no Branco" do Canal Brasil, na noite deste domingo, 5.
"A democracia precisa ser muito respeitada e acho que é um desrespeito você falar em golpe de Estado com aqueles que viveram o golpe realmente, de 1964. Pessoas morreram e as pessoas esquecem isso, por causa daquela quebra institucional que houve em 64, então acho de uma irresponsabilidade, é uma coisa quase infantil", completou e acusou ainda o discurso de 'golpe' contra o governo Temer de ser patrocinado de forma "raivosa".
Em 17 de maio, artistas do filme "Aquarius", que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes, posaram para uma foto no tapete vermelho com cartazes em que diziam que o Brasil passa por um golpe de Estado.
A foto foi republicada em diversos veículos de imprensa pelo mundo.
De forma menos enfática, o ministro criticou também o titular da Educação, Mendonça Filho (DEM), que foi inclusive o responsável pela indicação de Calero para o posto na Cultura.
Mendonça protagonizou um episódio polêmico ao receber o ator Alexandre Frota em seu gabinete. Frota é criticado por inúmeras posturas, entre elas ter relatado em um programa de TV ter abusado sexualmente de uma mulher quando ela estava desacordada.
Questionado se receberia alguém como Frota em seu gabinete, Calero não respondeu abertamente, mas disse que procurará escolher bem seus interlocutores.
"Sempre procuro me encontrar com pessoas que sejam interlocutores importantes da sociedade, que a gente possa identificar neles a condução de teses que sejam importantes para o debate nacional. E, mais do que isso, pessoas que com sua trajetória de vida possam de fato agregar à nossa."
Lei Rouanet
O ministro saiu em defesa da Lei Rouanet, que estabelece a política de incentivos fiscais para projetos de cultura, mas que é criticada por atender a projetos que teriam condições de ser financiados exclusivamente pela iniciativa privada.
Calero afirmou que a lei não pode ser demonizada e que a gestão Dilma Rousseff contribuiu para essa satanização.
"Precisa de ajustes? Claro que precisa. Precisa de transparência? Sem dúvida alguma. Agora, a gente não pode pegar um ou outro caso, de um musical que poderia ter conseguido sem a lei Rouanet a sua viabilidade e dizer que a lei é uma porcaria e pegar tudo e jogar na lata do lixo. São mais de 3 mil projetos que são financiados pela Lei Rouanet e, se considerarmos o todo das isenções fiscais, a Cultura fica com 0,6%, é muito pouco, não justifica esse discurso do ódio com a Lei Rouanet", afirmou.
Calero argumentou que outros países têm leis de estímulo à cultura semelhantes à Rouanet e chamou a lei de uma "conquista como experiência civilizatória" no Brasil, essencial para manter a cultura nacional.
"Um país sem cultura é um país sem alma e um país sem alma é um país sem razão de existir", defendeu.
O ministro rejeitou que esteja comandando um ministério 'rebelado' e defendeu ter experiência de diálogo por sua carreira diplomática - a pasta da Cultura foi destituída do status de ministério no início da gestão Temer e retornou a essa condição após diversos protestos pelo País, o que acirrou os ânimos no meio cultural.
Calero afirmou também que está estudando novos projetos e novas formas de financiamento para a Cultura, juntamente à sua equipe, mas não adiantou detalhes.