Araújo: foi do Ministério da Saúde opção por mínimo de doses no Covax
Ex-chanceler também afirmou que a Saúde providenciou a chegada de 2 milhões de doses de hidroxicloroquina ao Brasil, em julho do ano passado
Alessandra Azevedo
Publicado em 18 de maio de 2021 às 11h52.
Última atualização em 18 de maio de 2021 às 12h33.
Em depoimento à CPI da Covid , nesta terça-feira, 18, oex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo afirmou que partiu do Ministério da Saúde a decisão de contratar a quantidade mínima de doses pelo Covax Facility, criado para facilitar a distribuição de vacinas contra a covid-19 . Ao aderir ao consórcio, em setembro de 2020, o governo brasileiro optou pela quantidade mínima de doses, suficientes para imunizar 10% da população.
A pasta poderia ter escolhido vacinar 50% da população pelo Covax Facility. "Essa decisão não foi minha. O Ministério da Saúde que optou [ pela quantidade mínima ], dentro de sua estratégia de vacinação", disse Araújo. "Jamais fui contra a iniciativa Covax", ressaltou. Segundo ele, assim que o consórcio "tomou forma", em julho de 2020, o Itamaraty assinou uma carta ao gestor, dizendo que o Brasil tinha interesse em aderir.
Araújo também afirmou que o Ministério da Saúde quenegociouas 2 milhões de doses de hidroxicloroquina doadas pelos Estados Unidos em junho de 2020. Em julho do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) concluiu que o medicamento não deveria ser indicado em casos de covid-19, porque não havia "benefício claro" aos pacientes.
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), lembrou que o Itamaraty comemorou a doação e a entrega das doses que, segundo nota do Ministério das Relações Exteriores, seriam usadas “como profilático para ajudar a defender enfermeiros, médicos e profissionais de saúde do Brasil contra o vírus”.
Araújo afirmou que a entrega não foi feita por solicitação de autoridades brasileiras, mas por iniciativa dos Estados Unidos. “Foi um oferecimento de autoridades americanas”, disse. Segundo ele, o recebimento da doação foi comunicado ao Ministério da Saúde, que providenciou a chegada dos medicamentos.
O ministério, então liderado por Eduardo Pazuello, “foi comunicado e, inclusive, fez o desembaraço aduaneiro da doação, quando chegou ao Brasil”, disse o ex-chanceler. “Não se verificou nenhuma razão para rejeitar essa doação, inclusive porque, nesse momento, não havia sido ainda solucionada a problemática da falta ou escassez de hidroxicloroquina no sistema de saúde brasileiro”, afirmou.
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), lembrou que a OMS emitiu nota sobre a questão da hidroxicloroquina em julho. Mas, mesmo depois disso, “o Ministério das Relações Exteriores ainda estava atrás de insumos de cloroquina”, apontou o senador.
Perguntado sobre quem definiu a forma de distribuição dos medicamentos, Araújo disse que não tinha conhecimento, mas que imagina que tenha sido o Ministério da Saúde. Ele negou ter participado das negociações sobre o assunto, mas não soube responder se os presidentes dos dois países deram alguma orientação. “Não que eu tenha conhecimento”, disse.