Metrô de SP tem prejuízo de R$ 1,7 bilhão, corta trens e aumenta espera
O resultado decorre da queda do número de passageiros no sistema por causa da pandemia do coronavírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de abril de 2021 às 14h28.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 14h29.
A Companhia do Metropolitano de São Paulo ( Metrô ) de São Paulo registrou um tombo histórico em suas receitas no ano de 2020, terminando o ano com um prejuízo inédito de R$ 1,7 bilhão. O resultado decorre da queda do número de passageiros no sistema por causa da pandemia do coronavírus.
Na crise, a empresa retirou trens de circulação e aumentou o tempo de espera nas plataformas no momento em que os passageiros precisaram estar mais distantes uns dos outros.
A retirada de trens ocorreu tanto nos intervalos entre os horários de rush quanto nas horas de pico. Os dados são do Relatório Integrado Anual Metrô, que a empresa tem de publicar em seu Portal da Transparência. Ao longo de 2020, em mais de uma ocasião, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, afirmou que operava com "100% da frota disponível" ante as queixas de lotação.
O relatório, entretanto, mostra que a diminuição do uso da frota foi generalizada. No pico, a Linha 2-Verde, que opera na Avenida Paulista, rodou com oito trens a menos do que o comum (redução de 27 para 19 trens em circulação). Na Linha 3-Vermelha, a mais lotada da cidade, o governo retirou apenas três composições da linha nos picos, mas cortou o serviço de oito trens no intervalo entre os horários de rush. Ao todo, nas Linhas 1-Azul e 3-Vermelha, houve uma redução de cerca de 17% no total de partidas diárias de trens (de cerca de mil por dia para cerca de 850) na comparação entre 2020 e 2019. Na Linha 2-Verde, a diminuição foi de 29% (de 833 para 627).
Riscos
O prejuízo já coloca em risco o equilíbrio financeiro da empresa segundo o relatório, o que pode comprometer as operações. "Caso a situação de confinamento persista, o Metrô não vai conseguir recuperar a demanda em nível suficiente para restabelecer equilíbrio econômico-financeiro. As ações de redução de custos e as atividades de obtenção de receitas tarifárias não serão suficientes."
Os dirigentes do Metrô falam em cortes de investimentos e atrasos na execução de obras diante desse cenário. Da série de ações previstas para cortar custos está o fechamento de 25 bilheterias em estações. Os investimentos programados para este ano ainda estão em análise.
O Estadão questionou o Metrô e a Secretaria dos Transportes Metropolitanos. "No relatório integrado, os registros de despesas administrativas contemplam também a provisão de recursos para processos judiciais, que em 2020 foi da ordem de R$550 milhões", informou a nota oficial. "O prejuízo geral é decorrente da queda na arrecadação como consequência da pandemia que afetou o setor de transportes em todo o mundo. E, mesmo assim, o Metrô manteve uma alta oferta do serviço, incluindo a intensificação da limpeza nos trens e estações."
O presidente do Sindicato dos Metroviários, Altino de Melo Prazeres Júnior, destaca que o prejuízo se deve, em parte, ao fato de que o Metrô não recebe subsídios do Estado. "A maioria dos metrôs do mundo tem subsídio, porque os governos entendem que o serviço é essencial", afirma.
A redução dos trens também resultaria da falta de funcionários, uma vez que parte da equipe está em casa por causa da crise do coronavírus e parte se infectou. "Já tivemos 22 mortes", diz Prazeres. Além disso, afirma ele, funcionários da manutenção relatam falta de insumos para a manutenção dos trens, o que faria com que a frota ficasse mais tempo parada.
Especialistas sugerem máscara
Especialistas da Saúde ouvidos pelo Estadão admitem a dificuldade de evitar a contaminação no transporte público. "Não tem solução mágica", afirma Airton Stein, professor-titular da Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. "Mesmo que tenha sido encontrado o vírus em objetos como maçanetas e bancos, a transmissão ocorre basicamente de indivíduo para indivíduo", diz.
A principal medida de contenção dos riscos é o uso de máscara N95/PFF2 ou, caso essa não esteja disponível, usar uma proteção dupla, com uma de pano (por cima) e uma cirúrgica (por baixo). A higienização das mãos com álcool em gel, antes e depois de usar o transporte público, também é primordial. "Se possível, também usar óculos ou algo do tipo dentro do transporte, e procurar o local com melhor ventilação, como portas e janelas não vedadas", aconselha Eduardo Flores, virologista da Federal de Santa Maria (UFSM) no Rio Grande do Sul, que ainda frisa a importância de não falar, conversar ou atender telefonemas durante a viagem. "Trocador, motorista ou operador de metrô precisa cumprir o mesmo protocolo."
Renato Grinbaum, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, comenta ainda que os próprios patrões podem ajudar oferecendo orientação educacional, álcool em gel e equipamentos. "Três máscaras custam (o mesmo que) um litro de leite, então quem tem baixa renda não consegue trocar (o item) com tanta facilidade", aponta Flores.