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Metade das vítimas de estupro no Brasil são crianças

Mesmo os casos de estupro coletivo têm como vítima, majoritariamente, crianças de até 13 anos

Estupro; vítima de estupro (KatarzynaBialasiewicz/Thinkstock)

Estupro; vítima de estupro (KatarzynaBialasiewicz/Thinkstock)

Luiza Calegari

Luiza Calegari

Publicado em 10 de junho de 2018 às 06h30.

Última atualização em 10 de junho de 2018 às 06h30.

São Paulo — Quando uma mulher é vítima de estupro, os casos de ataques em locais escuros por um homem desconhecido são minoria. Na verdade, metade das vítimas são crianças, e a maioria de seus estupradores são parentes ou conhecidos da família.

Em 2016, 49.497 casos de estupro foram registrados pelas polícias dos estados brasileiros. No sistema de saúde, as notificações representam quase a metade (22.918).

Os dados foram apresentados no Atlas da Violência 2018, divulgados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FSBP) com base em dados nacionais do sistema de saúde e do sistema policial.

Crianças

Usando microdados do sistema de saúde, o relatório mostra que 50,9% das vítimas de estupro no Brasil são crianças. Esse número se mantém em relativa estabilidade desde 2011.

Outros 17% das vítimas são adolescentes, entre 14 e 17 anos de idade. A proporção vem diminuindo desde 2011, quando estava em 19,4%.

32,1%, quase um terço, são de vítimas maiores de idade, uma proporção que vem crescendo (eram 29,9% em 2011).

Infográfico sobre vítimas de estupro - Atlas da Violência 2018

Estupros coletivos

O relatório também apresenta um recorte dos estupros coletivos, de acordo com a faixa etária.

As crianças ainda representam um percentual alarmante das vítimas de estupro coletivo: 43,7%. Adolescentes são 20,1% das vítimas, e maiores de idade, 36,2%.

Infográfico sobre vítimas de estupro - Atlas da Violência 2018

Raça ou cor

Os dados analisados por raça ou cor das vítimas mostram um abismo de realidade: enquanto, de 2011 a 2016, a proporção de estupros de mulheres brancas diminuiu, a de estupros de mulheres pardas aumentou.

A proporção de mulheres indígenas que notificou estupro também quase dobrou desde 2011: de 0,6% do total para 1,1% do total.

Infográfico sobre vítimas de estupro - Atlas da Violência 2018

Grau de parentesco

O perfil do estuprador varia de acordo com a idade da vítima, como mostra a tabela abaixo.

Quando a vítima é adulta, 53,52% dos casos de estupro são cometidos por desconhecidos; outros 18,82% são perpetrados por conhecidos ou amigos, e 8,2% pelo próprio cônjuge.

No caso das adolescentes, quase um terço (32,5%) dos agressores são desconhecidos, outros 26% são amigos ou conhecidos, e mais 9% dos estupros partem do próprio namorado.

Padrastos, pais e irmãos de adolescentes são responsáveis por 7,38%, 6,54% e 1,55% dos casos de estupro.

Já contra as crianças, os agressores são amigos ou conhecidos da família (30,13%), pais (12,03%) e padrastos (12,09%), na maioria dos casos. A categoria "outros" também tem prevalência entre crianças (17,59%).

Nesta tabela, as colunas não somam 100% porque pode haver mais de um agressor para um mesmo caso de estupro.

VínculoCriança (até 13 anos)Adolescente (14 a 17 anos)Adulto (18 anos ou mais)
Desconhecido(a)9,41%32,50%53,52%
Amigos/conhecidos30,13%26,09%18,82%
Cônjuge1,56%3,39%8,20%
Ex-cônjuge0,27%0,53%5,44%
Outros17,59%7,58%4,48%
Ex-namorado(a)0,93%2,14%2,65%
Namorado(a)7,78%9,01%1,66%
Padrasto12,09%7,38%1,23%
Pai12,03%6,54%1,30%
Irmão (ã)3,26%1,55%0,72%
Pessoa com relação institucional1,07%0,94%0,63%
Filho(a)0,26%0,13%0,28%
Policial/agente da lei0,08%0,10%0,32%
Cuidador(a)0,99%0,28%0,18%
Patrão/chefe0,09%0,20%0,40%
Mãe2,48%1,63%0,18%

Estados

Como era de se esperar, o estado de São Paulo foi o que registrou o maior número de estupros no Brasil, com mais de 10 mil.

Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná ficaram todos na casa das 4 mil notificações.

Na maioria dos casos, as notificações feitas à polícia foram mais numerosas do que os registros do sistema de saúde, exceto em Amapá, Roraima, Rio Grande do Norte, Paraíba, Rondônia, Espírito Santo, Sergipe e Tocantins.

LocalNotificações saúdeNotificações polícia
Brasil22.91849.497
São Paulo35610.055
Rio de Janeiro1.5884.308
Paraná9174.164
Rio Grande do Sul1.9284.144
Minas Gerais1.1683.926
Santa Catarina3003.084
Pará2303.002
Bahia1.5112.709
Pernambuco2.1001.976
Mato Grosso1311.614
Ceará1211.538
Mato Grosso do Sul1131.458
Maranhão434995
Amazonas156930
Rondônia875790
Goiás598670
Distrito Federal544666
Piauí559653
Sergipe861541
Alagoas443500
Amapá1.082385
Tocantins733385
Paraíba137376
Roraima1.460234
Rio Grande do Norte4.088206
Espírito Santo270188
Acre215-

Subnotificação

O maior problema na catalogação de dados sobre violência sexual é a subnotificação. Por vários motivos, as mulheres nem sempre procuram a polícia quando sofrem estupro.

No Atlas da Violência, os pesquisadores apontam estimativas dos Estados Unidos de que apenas 15% dos casos naquele país, o que indica que aqui também o número real de estupros é bem maior do que os dados mostram.

Se a proporção de casos não notificados aqui no Brasil chegar a 90%, como estimam os pesquisadores, isso significa que a prevalência de estupro no Brasil seria entre 300 mil a 500 mil a cada ano.

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