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Mesmo na crise, deputados querem aumentar cargos de confiança

Para não mexer no orçamento, a estratégia dos deputados é reduzir as funções comissionadas dos servidores públicos para abrir espaço aos apadrinhados

Câmara: deputados dizem que só vão reorganizar as funções na casa, tirando comissão de quem recebe em outros cargos (Wilson Dias/Agência Brasil)

Câmara: deputados dizem que só vão reorganizar as funções na casa, tirando comissão de quem recebe em outros cargos (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de março de 2017 às 10h24.

Brasília - Apesar do período de austeridade fiscal, a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados planeja aumentar o número de funcionários de confiança dos parlamentares, os chamados cargos de natureza especial (CNE).

Para fazer a mudança sem alterar o orçamento, a estratégia é reduzir as funções comissionadas dos servidores públicos lotados na Casa para abrir espaço aos apadrinhados políticos.

A possibilidade de elevar cargos de confiança começou a ser discutida ainda durante o processo eleitoral para a presidência da Câmara, quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) se reelegeu.

Atualmente, a Câmara possui 3.124 servidores concursados, que recebem entre R$ 15.035 mil a R$ 28.801,02 por mês. Desses funcionários, 1.719 acumulam funções comissionadas, que variam de R$ 3.500 a R$ 9.430.

Entre os cargos de confiança, há 1.621 ocupantes de CNE's, que ganham salários de R$ 3.346 a R$ 18.172; e 10.171 secretários parlamentares, recebendo de R$ 936 a R$ 14.334 mensais. A Câmara permite um total de gastos de R$ 101.971 por gabinete para contratações.

No sábado, 4, integrantes das áreas de Recursos Humanos e Pessoal da Câmara se reuniram, a pedido da presidência, para discutir uma proposta sobre o assunto, que deverá ser apresentada na próxima reunião da Mesa.

O objetivo é que a medida seja aprovada por meio de resolução antes da instalação das comissões da Casa. Maia negou, contudo, que pretenda incentivar a criação de novos cargos.

"Apenas pedi para entender porque quase metade dos servidores da Câmara receba por funções gratificadas".

Cabide de emprego

Em nota, a Frente Ampla de Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público pela Democracia acusa a Mesa Diretora de querer retirar mais de cem cargos de comando (FC's) de servidores concursados para transferir os recursos para a criação de cargos especiais.

A frente diz que o objetivo é "aumentar o cabide de empregos" na Câmara. "Órgãos da Casa tradicionalmente técnicos, encarregados de garantir a lisura do processo democrático, estão se tornando estruturas fantasmas povoadas de apadrinhados políticos daqueles que estão no comando", afirma a nota.

'Reorganização'

O primeiro-secretário da Câmara, deputado Fernando Giacobo (PR-PR), afirmou que não existe orientação da Mesa para aumentar os cargos especiais, e sim para "reorganizar os trabalhos" a fim de economizar recursos.

"A cada dois funcionários concursados, um recebe FC", comentou. Ele afirmou ainda que muitos funcionários "são chefes de si mesmos" e usam as gratificações de maneira inadequada.

"Tem pessoas que passam no concurso, ainda estão no estágio probatório e já ganham FC. Acho que isso está um pouco bagunçado", avaliou.

O primeiro-secretário garantiu que a realocação desses funcionários também entraria na reorganização das funções. "Queremos otimizar os trabalhos, sem gastar nada a mais para isso", defendeu.

Giacobo disse ainda que existem muitos servidores de confiança dos deputados trabalhando em áreas administrativas da Casa, o que não deveria ser permitido.

Os cargos de confiança são direcionados principalmente aos gabinetes dos deputados e às lideranças partidárias.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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