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Mercosul, déficit e metas econômicas: veja o que Lula falou em encontro com jornalistas nesta sexta

Ele também ressaltou temas como alianças do Mercosul, metas econômicas para 2024, as indicações para o Banco Central e a questão da segurança no Rio de Janeiro

O chefe do Executivo avalia que um rombo de 0,5% ou 0,25% não é "nada" e reforçou que vai tomar a decisão "que seja melhor para o Brasil" (Ton Molina/Getty Images)

O chefe do Executivo avalia que um rombo de 0,5% ou 0,25% não é "nada" e reforçou que vai tomar a decisão "que seja melhor para o Brasil" (Ton Molina/Getty Images)

Publicado em 27 de outubro de 2023 às 15h19.

Última atualização em 27 de outubro de 2023 às 15h20.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta sexta-feira, 27, durante um café com jornalistas no Palácio do Planalto, que dificilmente o Brasil atingirá o déficit zero nas contas públicas em 2024, como proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Ele também ressaltou temas como alianças do Mercosul, metas econômicas para 2024, as indicações para o Banco Central e a questão da segurança no Rio de Janeiro.

Veja o que Lula falou em encontro com jornalistas nesta sexta

Déficit

O chefe do Executivo avalia que um rombo de 0,5% ou 0,25% não é "nada" e reforçou que vai tomar a decisão "que seja melhor para o Brasil".

"Tudo que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai fazer. O que posso dizer é que ela não precisa ser zero. A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo um corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse País", disse Lula no período da manhã desta sexta-feira durante café com jornalistas.

"Eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando a meta que eles acreditam que vai ser cumprida. Então, eu sei da disposição do Haddad, sei das vontades do Haddad, sei da minha disposição, e quero dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos e obras. Se o Brasil tiver o déficit de 0,5% o que é? 0,25% o que é? Nada. Então vamos tomar a decisão correta e nós vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil", continuou o presidente.

Apesar da descrença do mercado financeiro e de setores do Congresso em relação ao cumprimento da meta fiscal estabelecida pela equipe econômica, Haddad tem insistido, em público e nos bastidores, na importância de se perseguir o objetivo fixado no arcabouço para dar uma sinalização de responsabilidade fiscal ao mercado.

A discussão sobre mudar a meta de 2024 ganhou força com o apoio da ala política do governo, incluindo a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann. A avaliação feita por esses aliados de Lula é que o ajuste fiscal precisa ser mais gradual para evitar uma desaceleração do crescimento econômico.

O ministro da Fazenda, contudo, tem resistido ao "fogo amigo" da ala política do governo. Tanto ele, quanto outros integrantes da equipe econômica mantêm o discurso de que a meta não será alterada.

A posição de Haddad recebeu o respaldo do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que no comunicado de sua mais recente reunião ressaltou que perseguir a meta fiscal ajuda a ancorar as expectativas de inflação, o que facilita o ciclo de queda dos juros. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, também já fez questão de dizer que é importante o governo persistir na meta.

No Congresso, deputados e senadores têm avaliado como difícil a missão definida por Haddad, mas há um consenso de que não há clima para alterar a meta sem combinar com o governo, como mostrou a reportagem.

Acordo do Mercosul com União Europeia

Lula também destacou que é necessário aproveitar o momento atual no qual ele preside o Mercosul e o espanhol Pedro Sánchez está à frente da União Europeia para fechar o acordo comercial entre os dois blocos. Do contrário, o acerto pode não sair.

Ele disse que ainda precisa falar com diversos líderes internacionais, como o chinês Xi Jinping, sobre a guerra entre Israel e Hamas. Também citou o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, mas ressalvou que, nesse caso, não seria uma conversa sobre o conflito. Nesse momento, mencionou os acordos comerciais.

"O presidente Pedro Sánchez, que é o presidente da União Europeia, não é para discutir a guerra, é para discutir o acordo comercial Mercosul e União Europeia que nós temos que fazer enquanto eu sou presidente do Mercosul e enquanto ele é presidente da União Europeia", comentou Lula.

E alertou: "Se nós dois, que somos amigos, não fizermos um esforço muito grande para fazer esse acordo (Mercosul-UE), acho que esse acordo não sairá. Eu quero tirar do papel esse acordo."

Pedro Sánches é do Partido Socialista Operário Espanhol, que tem boas relações com o PT de Lula. A Espanha é parlamentarista, mas o nome oficial do cargo de primeiro-ministro é "presidente del gobierno".

Metas econômicas

O presidente da República disse que 2023 foi positivo na economia, com um crescimento previsto de até 3% na economia brasileira. Já com relação ao ano de 2024, Lula destacou os problemas da economia global, e falou em se preparar para evitar que a "doença se prolifere"

"Por conta da queda do investimento da China, a queda do crescimento da China e do aumento de juro na taxa de juros americanos", disse Lula, o próximo ano se apresenta como um desafio.

Ele fez uma analogia com uma doença e falou em fazer check-ups para evitar "surpresas com doenças que não tem mais cura". "Nós não vamos ficar parados", disse.

Balanço para 'prestação de contas'

O presidente também afirmou que pretende fazer um balanço do governo no final deste ano para oferecer uma "prestação de contas" à sociedade com relação ao seu trabalho.

Lula adiantou otimismo, no entanto, e comemorou os investimentos e entregas realizadas neste primeiro ano do Lula 3.

Indicações do BC

Com a expectativa de anúncio dos novos indicados ao Banco Central em breve, Lula esquivou-se de perguntas relacionadas ao tema durante café com jornalistas no período da manhã desta sexta-feira, 27. Segundo Lula, neste ano ele tem que indicar "muita gente" e os nomes serão anunciados quando tiverem que ser.

O aval ainda depende de conversas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"Na primeira oportunidade que tiver que indicar alguém eu vou. As coisas vão acontecer no momento que tiver que acontecer, eu tenho que indicar muita gente neste ano, não sei se vocês estão acompanhando", disse o presidente da República. "Eu tenho que indicar muita gente esse ano. Eu tenho que indicar mais alguns ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), quatro pessoas do Cade, procurador-geral da República ou procuradora, ministro ou ministra da Suprema Corte. Tudo isso", afirmou.

Soluções econômicas

Lula afirmou, ainda, que o Brasil precisa encontrar soluções para a economia independentemente do cenário internacional. Ele também se disse confiante com a aprovação da reforma tributária.

Além disso, o presidente disse que o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, viajarão para vender projetos brasileiros voltados a energias limpas.

Lula mencionou as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023 acima de 3%, e disse que desde o começo do governo de Dilma Rousseff o País não tem um avanço dessa monta na economia.

"Não adianta ninguém encucar 'ah, porque está ruim, o juros americanos estão ruim'. Não quero saber, eu quero saber do Brasil", declarou o presidente da República. "Nós temos que encontrar solução aqui. Temos que ser criativos aqui. Temos que aceitar os desafios aqui. Eu na minha vida não aceito a ideia de que tem coisas que são impossíveis. Na minha experiência de vida a única coisa impossível é Deus pecar. O resto, a gente pode fazer qualquer coisa, é só querer", disse Lula.

Energias limpas e renováveis

Ele também disse que o Brasil tem condições de ser um dos líderes globais em energias limpas e renováveis. "É por isso que o companheiro Alckmin, a partir do momento que eu puder viajar internamente, o companheiro Rui Costa e outros companheiros do governo vão colocar todos os projetos que nós temos sobre energia verde, colocar embaixo do braço, e viajar o mundo. Viajar. Vendendo os projetos", declarou o presidente.

"Queremos construir parcerias produtivas para que as pessoas não venham com seus fundos aqui apenas explorar a taxa de juros alta. Que eles venham para cá para investir em coisas produtivas que gerem um produto, que gere um emprego, que gere um salário, que gere um dinamismo no crescimento de nossa economia brasileira, que é o que estamos precisando", disse Lula. "Estamos com a responsabilidade de aprovar a política tributária. Estou confiante de que ela vai ser aprovada", declarou o presidente.

O relator da reforma tributária no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), apresentou o relatório do projeto nesta semana.

"Estou confiante de que a gente vai mudar a relação capital e trabalho. Estamos tentando manter negociação com as empresas de aplicativo para cuidar das pessoas que trabalham com Uber, para cuidar das pessoas que trabalham com moto, para cuidar das pessoas que trabalham de bicicleta", afirmou o presidente da República. "Estamos sobretudo preocupados em não permitir que a juventude brasileira perca a expectativa que o jovem tem que ter", disse ele.

Violência no Rio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar do papel dos militares no seu governo. Com críticas à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula disse que o que houve no 8 de janeiro em Brasília foi um "desvio" de um governante "que achava que poderia utilizar as instituições como instrumento dele para fazer política". Lula reforçou a ideia de distanciar militares na ativa da política, e afirmou que não pretende usar este efetivo para atuar nas questões de segurança do Rio de Janeiro.

"Eu não quero as Forças Armadas na favela, brigando com bandido. Não é esse o papel das Forças Armadas", disse o presidente durante café da manhã com jornalistas nesta sexta-feira, 27. Lula também foi enfático ao declarar que não pretende acionar a o dispositivo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante sua gestão. "E, enquanto eu for presidente, não tem GLO. Eu fui eleito para governar esse país e vou governar esse País", afirmou.

A questão no Rio de Janeiro, pontuou, deve ser feita com uma ação conjunta de todas as forças de segurança, mas cada uma dentro do seu limite. "Mas a gente não vai fazer nenhuma intervenção, como já foi feita há pouco tempo atrás, em que se gastou uma fortuna com o Exército do Rio de Janeiro e que não resolveu nada. Quando você faz uma intervenção abrupta, os bandidos tiram férias", declarou o presidente.

Sobre militares, o presidente disse que seu governo está tentando mostrar para a sociedade que "que militar não é melhor que civil e civil não é melhor que militar". "Os dois são brasileiros, os dois estão subordinados a uma Constituição", disse.

Lula concluiu falando sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que determina que o militar que quiser entrar na política deixe as Forças Armadas. "Ele não pode entrar na política e voltar para dentro da caserna", afirmou o presidente.

(Com Estadão Conteúdo)

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