Paulo Oliveira Jr, diretor-presidente da Brasil Investimentos & Negócios (Reprodução/Febraban)
Da Redação
Publicado em 18 de novembro de 2010 às 16h35.
São Paulo - As medidas do Brasil na "guerra cambial" são legítimas, mas o governo precisa ter muito cuidado para não afastar o investimento estrangeiro e atrofiar a liquidez no país, alertou nesta quinta-feira o diretor-presidente da Brasil Investimentos & Negócios (Brain), associação que visa a promover o mercado de capitais local.
Paulo Oliveira Jr. disse à Reuters entender a conjuntura e as "compreensíveis" medidas de defesa, mas que o país não pode mudar de direção sob o risco de perder "a maior oportunidade que nós temos de crescer integradamente".
"Temos visto o governo tomando atitudes na direção de impedir o capital de curto prazo, e a gente concorda plenamente com isso. Agora, não podemos matar o capital de longo prazo."
"Tem duas maneiras de conseguir eliminar uma doença. Uma delas é matando o paciente. Espero que o Brasil não resolva o problema cambial simplesmente criando uma aversão ao investimento no país", acrescentou Oliveira.
A Brain, fundada em março, reúne BM&FBovespa, Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Cetip, Fecomercio e oito bancos, entre os quais Banco do Brasil e Itaú Unibanco.
No mês passado, o governo elevou o imposto sobre a entrada de capital estrangeiro para investimentos em renda fixa, numa tentativa de barrar especuladores e frear a queda do dólar, que prejudica as exportações de bens manufaturados.
Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não vê a necessidade de novas medidas no momento. O dólar tem sido cotado acima de 1,70 real nos últimos dias, com queda de apenas 1 por cento desde o começo do ano.
Mercado quer liquidez em real no Brasil
Oliveira comentou também a importância das emissões de títulos do Tesouro no Brasil. Como consequência das medidas do governo na área cambial, que diminuíram a demanda dos estrangeiros por títulos no país, o governo reduziu a oferta de papéis de longo prazo no mercado local e retomou as emissões de bônus denominados em reais no exterior.
"A gente conversa com o Tesouro sobre isso, que é interessante ter uma curva em reais e uma curva em dólar. Mas, claramente é interesse do país, do governo e das instituições, que a liquidez maior esteja em real e esteja aqui dentro."
"O que o governo está fazendo e diz é que, (com) você criando uma curva lá fora e uma curva aqui dentro, aumenta a oportunidade de arbitragem, aumenta a integração das curvas, e isso é bom. É um raciocínio correto. A questão é a dose. Nós não podemos exportar nosso mercado", argumentou.
O aumento da liquidez no mercado local é um dos fatores essenciais para o projeto do governo e da Brain de fomentar o crédito privado de longo prazo no país. Atualmente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem sido o responsável pela maioria dos financiamentos de longo prazo.
A Brain participa das discussões com o governo sobre medidas que devem ser anunciadas em breve para estimular o financiamento via mercado de capitais, com o desenvolvimento do mercado secundário para títulos privados.
Segundo Oliveira, as medidas devem ter o seguinte teor: "primeiro, medidas de padronização. Segundo, pulverização do investidor; ou seja, que sejam títulos focados no varejo, que gere um mercado que qualquer um possa entrar a qualquer momento. E, obviamente, tem que ter um tratamento fiscal adequado também".
Sem prazo para conversibilidade
O diretor-presidente da Brain também evitou fazer uma previsão sobre a possível conversibilidade do real no futuro. "Para os propósitos da Brain, a conversibilidade não é um objetivo nem uma necessidade. É uma consequência", disse.
"Estamos propondo uma agenda de eficiência, competitividade e de escala. Essa agenda acontecendo, é natural uma integração maior com os demais países", explicou.
Nesse sentido, Oliveira afirmou que o principal desafio do governo de Dilma Rousseff é o ganho de eficiência na máquina pública e um maior controle fiscal.
"Não podemos ter uma estrutura pública inchada. As empresas estão se integrando e se fundindo; o governo não pode ficar aumentar o número de ministérios", defendeu.
A favor do próximo governo, porém, Oliveira lembrou que o interesse no Brasil ainda é "amplo, geral e irrestrito".
"É impressionante como as pessoas estão olhando para o Brasil. E tem uma razão de fundo. Não é uma questão de atração de juro alto, que também existe e sempre existiu. O interesse no Brasil é porque o mundo inteiro está passando por uma realocação de portfólio", disse, destacando o interesse de investidores da região da Ásia e Pacífico, não só na China.
"Existe uma atenção no mundo em relação ao que está acontecendo aqui. Isso que eu chamo de janela de oportunidade, conjuntura favorável. Que não dura para sempre."