Meirelles: o ministro deixou aberta a possibilidade de uma disputa à Presidência (Pilar Olivares/Reuters)
Da Redação
Publicado em 22 de setembro de 2017 às 18h04.
Última atualização em 8 de dezembro de 2017 às 10h26.
Brasília - Lenta retomada do crescimento econômico, uma candidatura do ex-presidente Lula e o desgaste por participar de um governo tão impopular quanto o do presidente Michel Temer são os três principais obstáculos que levaram o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a mudar sua estratégia para candidatar-se à Presidência da República, disseram cinco pessoas próximas ao ministro sob condição de anonimato. Meirelles foi convencido de que precisa esperar e só pretende voltar a fazer movimentos públicos a favor da campanha no fim do ano ou início de 2018.
O anseio de Meirelles ao mais alto cargo público do País não é segredo em Brasília, mas a avaliação interna é de que o pré- anúncio feito pelo seu partido, o PSD, foi em um momento errado e que os passos não foram calculados. A estratégia a partir de agora será mais lenta: não confirmar, mas também não negar uma candidatura, até porque esse ar de desejo pela sucessão agrada Meirelles.
Em entrevista à Bloomberg em Nova York esta semana, o ministro deixou aberta a possibilidade: “Nunca diga nunca”.
Em resposta a esta reportagem, Meirelles reafirmou que não é pré-candidato e que está focado na sua atuação como ministro. “Vejo as menções sobre a possibilidade de uma candidatura apenas como reconhecimento do trabalho que está sendo realizado”.
Mesmo se esforçando para mostrar mais simpatia - os sorrisos e brincadeiras em público ficaram mais frequentes - o dirigente da Fazenda precisa entregar algo para além dos atuais indicadores da melhora da economia. “Para que seja um candidato viável, a economia precisa estar explodindo no sentido de bem-estar à população”, disse o cientista político do Insper, Carlos Melo em entrevista por telefone.
Enquanto a maior economia da América Latina começa a ver os primeiros, e modestos, sinais de recuperação após a pior recessão de sua história, Meirelles é fiador, em parte, de uma inflação e juros mais baixos. Mas essa melhora ainda não é significativa para os brasileiros, particularmente para os 13 milhões que ainda estão desempregados. “Ele vai entregar uma economia melhor, mas é o mercado que está sentindo isso e não o consumidor. E quantos votos o mercado possui?”, disse Melo.
Mesmo que haja sinais de recuperação mais consistentes em 2018, Meirelles ainda terá outros desafios até sua candidatura. O governo Temer, marcado por escândalos de corrupção, tem a aprovação de apenas 3% da população, e o ministro da Fazenda é o segundo homem mais importante dessa gestão.
Pesquisas recentes apontam Lula e o militar da reserva e deputado federal Jair Bolsonaro com mais intenções espontâneas de votos em 2018.
O deputado, de extrema direita, é famoso por suas explosões homofóbicas e questões duras sobre temas que envolvem a lei e a ordem.
Dois outros potenciais candidatos, os tucanos João Doria e Geraldo Alckmin, dividem a preferência do mercado e aparecem na terceira e quinta posições, respectivamente.
Os levantamentos para a próxima eleição mostram ainda que os eleitores estão desapontados com os políticos tradicionais e buscam uma nova geração, descrição em que o ex-chefe do Banco Central não se encaixa exatamente.
Uma candidatura bem-sucedida requer boa plataforma, credibilidade, baixas taxas de rejeição, alianças e votos partidários, afirmou o deputado Rogério Rosso, do mesmo partido de Meirelles. “Alguns desses ingredientes Meirelles precisaria fortalecer quando chegar o tempo”, disse em entrevista à Bloomberg. “Para ser candidato, ele teria que deixar o ministério, o que não seria positivo neste momento crucial”.
Meirelles é mais otimista. Em Nova York, o ministro afirmou que a população rejeita o tipo de populismo econômico que ajudou a desencadear a recessão e que um candidato centrista e tecnocrático teria boa chance na eleição do próximo ano.
Se Meirelles não puder superar alguns desses desafios, ainda seria um bom companheiro de equipe, emprestando uma parte da credibilidade a outro candidato, diz o cientista político, Carlos Melo. “Ele é um bom nome como vice para Alckmin ou Doria”.