Marinha: O comando rotativo está nas mãos do Brasil em um momento de escalada de tensões entre países do Ocidente e a milícia houthi no Iêmen (TED ALJIBE/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 5 de fevereiro de 2024 às 09h37.
A Marinha do Brasil assumiu, no final de janeiro, o comando da Combined Task Force (CTF) 151 — Forças Marítimas Combinadas, em português — com a missão de coordenar forças navais multinacionais, em operações de combate à pirataria, em uma das principais rotas marítimas mundiais, que inclui o Golfo de Áden, a Bacia da Somália e o Mar da Arábia. O comando rotativo está nas mãos do Brasil em um momento de escalada de tensões entre países do Ocidente e a milícia houthi no Iêmen.
O mandato no comando do grupo, que inclui Bahrein, Brasil, Dinamarca, Japão, Jordânia, Kuwait, Paquistão, Filipinas, Nova Zelândia, República da Coreia, Singapura, Tailândia, Turquia, Reino Unido e EUA, pode variar de três a seis meses. Quem estará à frente da força-tarefa é o contra-almirante brasileiro Antonio Braz de Souza, que afirmou que o foco estará nos casos de pirataria e os ataques a navios mercantes praticados pelos rebeldes houthis do Iêmen.
— Ao aceitar o convite para liderar esta força mais uma vez, a Marinha do Brasil, primeiro país sul-americano a desempenhar papel de destaque nesta coalizão marítima multinacional, reafirma sua dedicação à comunidade marítima e, particularmente, às Combined Maritime Forces. Esse compromisso visa intensificar a segurança e estabilidade global, contribuindo para o bem-estar coletivo — disse o contra-almirante durante a cerimônia de assunção de Comando, no Bahrein.
O contra-almirante assume o comando da CTF 151 após passagem como Chefe do Estado-Maior do Comando-Chefe da Esquadra. Ele já participou de várias missões navegando no Oceano Atlântico Sul, incluindo o resgate dos sobreviventes da queda do voo 447 da Air France em 2009. Ele também liderou missões de pesquisa oceanográfica e participou como conselheiro-chefe do programa de desenvolvimento de submarinos.
Esta é a terceira vez que o Brasil vai comandar a CTF 151, mas a primeira em que estará supervisionando uma área de aproximadamente 3,2 milhões de milhas — cerca de oito milhões de quilômetros quadrados — de águas internacionais em momento de escalada de ataques. O grupo multinacional é um dos cinco operacionais da força-tarefa internacional Combined Maritime Forces (CMF), que também atua no enfrentamento ao tráfico de pessoas e à pesca ilegal.
A CTF 151 já foi liderada por 16 países, e foi criada em janeiro de 2009 como resposta aos ataques de pirataria na Somália, "com um mandato específico baseado em missões de pirataria”.
Entre as missões no comando do grupo, o Brasil deverá manter uma vigilância proativa 24 horas por dia e denunciar atividades suspeitas às autoridades. Nos navios que operam no local, as forças costumam fazer a remoção de escadas de acesso; proteger os pontos de acesso mais baixos; utilização de iluminação de convés, redes, arame farpado, cercas elétricas, mangueiras de incêndio e equipamentos de vigilância e detecção dos piratas.
Desde os primeiros dias da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, os houthis, que controlam parte do Iêmen e são apoiados financeiramente e militarmente pelo Irã, têm realizado ataques contra embarcações comerciais que transitam pelo Mar Vermelho, uma das mais movimentadas rotas marítimas do planeta, por onde passam 12% das exportações globais.
Segundo o grupo, as ações são uma forma de apoiar a "resistência" em Gaza, e têm como alvos navios de bandeira ou propriedade de empresas de Israel, ou que tenham como destino portos israelenses, mesmo que seja uma passagem rápida. Em novembro, um navio cargueiro chegou a ser capturado pela milícia, em uma ação cinematográfica que contou com um helicóptero.
Com tantos riscos, em uma área que era conhecida anteriormente pelos ataques de piratas da Somália, seguradoras elevaram os preços cobrados das embarcações que tinham o Mar Vermelho em suas rotas, elevando com isso o valor do frete. Algumas gigantes do setor de transporte marítimo, como a dinamarquesa Maersk, chegaram a interromper suas operações por alguns dias depois de ataques ou tentativas de ataques, e não foram poucos os que tomaram uma decisão ainda mais drástica: contornar a África para ligar a Europa à Ásia e Oriente Médio.
Segundo a agência Reuters, o tráfego de cargueiros pelo Mar Vermelho foi o mais afetado pelos ataques, enquanto o número de embarcações de transporte de petróleo e gás, oriundas do Golfo Pérsico, praticamente não sofreu alterações. Os houthis afirmam que entram em contato com as tripulações assim que elas cruzam o Estreito de Bab el-Mandeb, que dá acesso ao Mar Vermelho, e concedem ou não autorização, dependendo da bandeira e destino. As principais empresas de navegação negam qualquer tipo de acordo do tipo com os rebeldes.