Candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, durante evento em Brasília 29/08/2018 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 12h50.
A estratégia da candidata Marina Silva (Rede) de combater o discurso de um dos seus maiores adversários, o deputado Jair Bolsonaro (PSL), também é adotada pelo seu candidato a vice, Eduardo Jorge (PV). O médico e ex-deputado federal usa, no entanto, o mesmo tom nas críticas aos planos de governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os comentários, mais ácidos do que depreciativos se justificam pela certeza de que Marina é a única que pode ganhar do PT no 2º turno.
“Nossa tática é derrotar o Bolsonaro no 1º turno e depois enfrentar o Lula no 2º turno. Só Marina tem condição de derrotar o Lula”, diz Eduardo Jorge em entrevista à Bloomberg em sua casa, em São Paulo - referindo-se ao potencial de transferência de voto do ex-presidente, cuja candidatura foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral. A história dela é épica, até mais que a de Lula, diz ele.
O candidato a vice afirma ainda que a saída de Lula da disputa eleitoral foi melhor para o ex-presidente. “Lula não quer governar, Lula quer mandar, quer terceirizar”, diz fazendo referência a Fernando Haddad, vice que deve herdar a cabeça de chapa.
Sobre o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), Eduardo Jorge, que já trabalhou diretamente com o tucano, afirma que ele não tem condição de ganhar um disputa contra o PT. “Alckmin é o candidato tradicionalmente paulista. Há preconceito contra a força de SP, principalmente no Norte e Nordeste.”
Ele se mostra, entretanto, pragmático sobre o desenrolar da corrida presidencial. O ideal para derrotar Bolsonaro, diz, seria a formação, lá atrás, de uma ampla frente de centro, para ganhar votos e limitar o avanço dos extremos. Agora, o trabalho é mais difícil e será preciso "apelar para o bom senso" do eleitorado.
A chapa Marina-Eduardo conta ainda com a margem de votos acumulada antes da propaganda de rádio e TV, que garante o segundo lugar nas pesquisas, no cenário sem Lula. Eles acreditam que o candidato que estiver à frente entre os centristas faltando 15 dias para o pleito pode herdar parte dos votos úteis.
Por ora, Eduardo Jorge acredita que o atual cenário de pulverização eleitoral só beneficia os dois candidatos que lideram as pesquisas até o momento, enquanto nomes como João Amoedo (Novo) e Alvaro Dias (Podemos), que ele faz questão de dizer que são candidaturas legítimas, estão na verdade “ajudando a estratégia" do PT e do PSL.
O candidato a vice se diz consciente, uma vez eleito, das dificuldades para governar e formar maioria no Congresso a favor das reformas que a chapa defende em seu programa. O ideal, segundo ele, é Marina lançar mão de uma "tática parlamentarista”, ou seja, "oferecer o programa para ajustes e concessões", se valendo do diálogo.
Parte dessa negociação está refletida no próprio programa de governo com, segundo ele, 90% de concordância. Temas controversos como descriminalização de drogas e aborto -- defendidos pelo PV em eleições passadas -- ficaram de fora, mas com alguns avanços que levaram ao consenso.
Ao mesmo tempo, ele vê Marina "amadurecida" após 2014, quando concorreu a vice e herdou a cabeça da chapa após a morte de Eduardo Campos (PSB). "Sonhática, mas tem que ter o pé no chão."