Marco Aurélio Mello: "Meu dever maior não é atender à maioria indignada, meu dever maior é tornar prevalecente a Constituição" (Adriano Machado/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 4 de abril de 2018 às 22h33.
Última atualização em 4 de abril de 2018 às 22h53.
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), votou hoje (4) por conceder o habeas corpus preventivo com o qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta evitar sua prisão após condenação na segunda instância da Justiça Federal no caso do tríplex no Guarujá. Ele é o quarto ministro a votar a favor da concessão do habeas corpus; cinco votaram contra.
"Meu dever maior não é atender à maioria indignada, meu dever maior é tornar prevalecente a lei das leis, a Constituição Federal", referindo-se a manifestantes que são a favor da prisão de Lula.
Em seu voto, Marco Aurélio confirmou seu firme posicionamento de que a Constituição é clara ao dizer que ninguém pode ser considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença condenatória, ou seja, até que estejam esgotados todos os recursos, inclusive no Supremo.
Para o ministro, a condição posta pela Constituição para que uma pessoa possa ser considerada culpada "é um limite para chegar-se ou uma condição para chegar-se à execução da pena".
Segundo ele, o texto constitucional "é de uma intensidade alarmante. Não abre esse preceito campo a controvérsia em semânticas", argumentou Marco Aurélio. "No Brasil, todos presumem que são todos salafrários até que provem o contrário", criticou ele ao defender a garantia da presunção de inocência.
Durante o julgamento desta terça-feira, em diferentes momentos Mello protestou contra o que chamou de "estratégia" da presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, que pautou para análise em plenário o habeas corpus de Lula antes de duas ações declaratórias de constitucionalidade (ADCs) sobre o assunto relatadas por ele e prontas para julgamento desde dezembro.
Durante o julgamento, o fato da questão não poder ser discutida em um caso específico, mas somente depois no julgamento das ADCs, foi usado como argumento pelos ministros que votaram contra Lula até o momento - o relator Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux.
Após Marco Aurélio, restam votar o ministro Celso de Mello, o mais antigo da Corte e que possui posição firme contra a execução após segunda instância, e Cármen Lúcia, que tem defendido posição contrária e deve proferir o voto que formará a maioria para negar o habeas corpus de Lula.
O habeas corpus preventivo de Lula começou a ser julgado no dia 22 de março, quando foi interrompido para ser retomado nesta quarta. Na ocasião, Lula ganhou um salvo-conduto para não ser preso até a decisão de hoje.
Lula foi condenado em junho do ano passado pelo juiz federal Sérgio Moro a nove anos e seis meses de prisão e teve a sentença confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, que aumentou a pena para 12 anos e um mês na ação penal do tríplex do Guarujá (SP), na Operação Lava Jato.