Manuela D'ávila: inquérito sigiloso, ao qual a reportagem teve acesso, mostra que os dois conversaram por nove dias via aplicativo de mensagens, do dia 12 e 20 de maio deste ano (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de outubro de 2019 às 15h17.
Última atualização em 4 de outubro de 2019 às 15h21.
São Paulo — A ex-deputada Manuela D"Ávila (PCdoB-RS) afirmou à Polícia Federal (PF) que parte das conversas que teve com o hacker Walter Delgatti Neto, o "Vermelho", desapareceu dos arquivos do seu aparelho celular. Segundo ela, as mensagens tratavam de um perfil no Twitter que atacava o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, e sobre o uso da sua conta no aplicativo Telegram.
Manuela intermediou o contato de Delgatti com Greenwald. O jornalista é um dos responsáveis por divulgar mensagens pessoais capturadas pelo hacker nos celulares de procuradores da Lava Jato. Delgatti está preso desde julho por invadir o telefone de autoridades do País.
Em depoimento prestado à PF no dia 28 de agosto de 2019, Manuela disse que tirou prints das mensagens trocadas com Delgatti, mas que essas "fotografias das mensagens" não incluíam algumas das conversas que ela teve com o hacker e, por isso, não foram incluídas no inquérito policial.
Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo, o contato do hacker com Manuela D"Ávila foi além de uma mera troca de contato telefônico, como ela chegou a afirmar. O inquérito sigiloso, ao qual a reportagem teve acesso, mostra que os dois conversaram por nove dias via aplicativo de mensagens - do dia 12 e 20 de maio deste ano.
No depoimento, a ex-deputada afirma que o contato entre os dois se estendeu além disso, pelo menos até o fim de junho. Essas mensagens, porém, não chegaram a ser entregues às autoridades policiais.
Em uma conversa apagada, segundo contou Manuela à PF, Delgatti contava à ex-parlamentar que tinha descoberto quem eram as pessoas por trás do perfil "Pavão Misterioso", uma página no Twitter que promove ataques a Greenwald e à "Vaza Jato", como o site The Intercept Brasil batizou a série de mensagens de procuradores divulgadas.
Manuela disse à PF que "não se interessou pelo assunto e que por isso não se preocupou em fazer prints". Uma segunda conversa não entregue à PF teria ocorrido, segundo Manuela, no fim de junho de 2019.
A troca de mensagens teria sido provocada pela própria ex-deputada, após ela perceber que sua conta no Telegram estava coberta pelo modo de verificação em duas etapas (um dispositivo de segurança do aplicativo).
À PF, Manuela disse que procurou o hacker porque estava impossibilitada de fazer a instalação do Telegram em outro aparelho celular.
"Também tinha receio de não conseguir usar mais o Telegram caso o hacker resolvesse "deslogar" o aplicativo", disse ela ao delegado Flávio Zampronha, responsável pela Operação Spoofing.
Ela contou ao delegado da PF que o primeiro contato com o hacker se deu às 11h de 12 de maio de 2019, quando recebeu uma mensagem no Telegram de um número da Virgínia (EUA).
Segundo Manuela, logo em seguida recebeu uma ligação, que ela acreditou na ocasião ter partido do próprio Telegram: "Telegram, Telegram", disse, segundo ela, uma pessoa do outro lado da linha.
Após a ligação, a ex-deputada afirmou que recebeu uma mensagem na qual o nome aparecia como sendo o senador Cid Gomes (PDT), mas que na verdade era Delgatti, já pedindo "ajuda" para vazar as mensagens.
No depoimento, Manuela ainda disse que nunca trocou mensagens de voz com Delgatti e afirmou que nunca falou pessoalmente com o hacker. Ela também colocou seu celular à disposição da perícia para que os investigadores pudessem tentar acesso a informações necessárias ao inquérito.