Protestos miram Renan e levam milhares às ruas
As manifestações, marcadas em mais de 140 cidades do país, miram principalmente a classe política, em especial os parlamentares.
Reuters
Publicado em 4 de dezembro de 2016 às 16h38.
Última atualização em 4 de dezembro de 2016 às 17h25.
Brasĩlia - Manifestantes tomaram as ruas neste domingo em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e outras cidades brasileiras para protestar contra corrupção , com foco em parlamentares e no presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Com gritos de "fora Renan" e vestidos com camisas verdes e amarelas e da seleção de futebol do Brasil, milhares de moradores do Rio de Janeiro foram à orla de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.
O ato a favor da Operação Lava Jato e contra a corrupção no país teve carros de som, faixas e placas com frases de protesto, bonecos infláveis e até um homem a cavalo enrolado na bandeira do Brasil.
O clima ameno e a falta de som favoreceu o protesto, que começou a tomar corpo no final da manhã. A Polícia Militar acompanhou de perto o protesto, mas não foram registrados incidentes. Nem a PM nem os organizadores informaram estimativa de presentes, mas o grupo fechou as duas pistas da orla, entre os postos 5 e 6, em Copacabana.
"Nós não podemos parar e temos que ir até o fim. Aqueles que quebraram o Brasil já saíram, mas ainda tem muita gente ruim e muito ladrão no Congresso para vazar. E agora, com medo das ruas e do povo, tentam na calada da noite intimidar aqueles que estão lutando contra a roubalheira nesse país", afirmou o comerciante Flávio Santos.
Em Brasília, a concentração foi em frente ao Congresso Nacional. Também vestidos de verde e amarelo, o grupo levava cartazes com ratos representando os parlamentares e em defesa da das medidas contra corrupção. Um dos cartazes mostrava o presidente do Senado, Renan Calheiros, como um rato com o rabo preso em uma ratoeira.
Em nota à imprensa, Renan avaliou que as manifestações são legítimas e devem ser respeitadas.
"Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais", disse.
Os manifestantes cantavam "Somos Sérgio Moro" a maior parte do tempo e denunciavam os "ratos" do Congresso.
"Nós deixamos esses ratos nos governarem por tempo demais", disse Sônia, uma das manifestantes, que preferiu não dar seu sobrenome por ser funcionária pública. "Renan é o maior canalha de todos", disse, referindo-se aos 11 casos de corrupção sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF) e seu papel na tentativa de acelerar a votação no Senado do pacote anti-corrupção, alterado na Câmara.
"Os deputados nem se importam mais com que o povo nas ruas pensa, estão mais preocupados em não serem presos do que em se reeleger", afirmou.
Também em nota divulgada nesta tarde, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), destacou que as manifestações são consideradas "democráticas".
"Manifestações desse tipo, em caráter pacífico e ordeiro, servem para oxigenar nossa jovem democracia e fortalecem o compromisso do Poder Legislativo com o debate democrático e transparente de ideias", disse.
De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, cerca de 5 mil pessoas compareceram à manifestação em Brasília, enquanto os organizadores calcularam o grupo em 15 mil pessoas.
Protestos aconteceram durante a manhã também em Belo Horizonte, onde cerca de 5 mil pessoas ocuparam a praça da Liberdade, no centro da cidade, e em Recife, onde o mesmo número protestou na orla da cidade, de acordo com informações da Globo News.
Em São Paulo, onde a manifestação começou à tarde na Avenida Paulista, uma grande faixa com os dizeres "Congresso Corrupto" foi estendida na rua. Manifestantes gritavam "Viva Sérgio Moro" e "Fora Renan", com a maior parte do público se posicionando nas proximidades dos seis carros de som que ocupavam a avenida.
Insatisfação
As manifestações, marcadas em mais de 140 cidades do país, miram principalmente a classe política, em especial os parlamentares, depois que nesta semana foram aprovados projetos polêmicos que, segundo investigadores da Operação Lava Jato, ameaçam as investigações sobre o bilionário esquema de corrupção na Petrobras.
A aprovação com alterações pela Câmara dos Deputados das chamadas medidas contra a corrupção gerou reações contrárias de diversas entidades e autoridades, como a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e dos membros da força-tarefa da Lava Jato, que ameaçaram com uma renúncia coletiva caso o texto aprovado seja sancionado.
Isso, aliado à tentativa fracassada de parte dos senadores de acelerar a votação na Casa do pacote aprovado na Câmara, deve dar combustível aos manifestantes, que prometem protestar contra "o jeito corrupto de fazer política" e a favor da Lava Jato.
A semana que passou também foi marcada por protestos violentos em Brasília na terça-feira, contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece um limite para os gastos públicos e que foi aprovada em primeiro turno no Senado.
Diante desse cenário, o presidente Michel Temer disse na quinta-feira, em discurso feito durante evento em São Paulo, que as manifestações de rua são próprias da democracia e não preocupam o governo. Reconheceu, entretanto, que é necessário ouvir.
"O Executivo e o Legislativo têm que levar muito em conta a opinião pública, e é o que se deve fazer no país", defendeu o presidente que voltou, mais uma vez a afirmar que é necessário "pacificar o país".