Mandetta diz que o Brasil pode atingir 100 mil mortes em semanas
O ex-ministro da Saúde pressionou para que o país fizesse quarentena logo no início da pandemia, mas foi demitido após entrar em desacordo com Bolsonaro
Janaína Ribeiro
Publicado em 23 de julho de 2020 às 21h17.
Última atualização em 23 de julho de 2020 às 21h33.
Três meses depois de ser demitido como ministro da Saúde, o pior temor de Luiz Henrique Mandetta está se tornando realidade.
Na terça-feira, o Brasil registrou quase 68.000 novos casos de covid-19, um recorde que eclipsa o anterior em mais de 20% e rivaliza com números vistos nos Estados Unidos, cuja população é 50% maior.
Mandetta, que pressionou para que o país fizesse quarentena logo no início da pandemia, foi demitido em meados de abril, depois de entrar em desacordo publicamente com o presidente Jair Bolsonaro. Em entrevista na terça-feira, o médico de 55 anos criticou a condução da crise no país e disse que é apenas questão de semanas antes que as mortes ultrapassem 100.000.
“A gente está vivendo uma baderna científica porque ninguém mais tem credibilidade para vir a público e falar o que fazer no Brasil”, disse Mandetta em entrevista do Mato Grosso do Sul, seu estado natal. “O Ministério da Saúde e o governo federal saíram do assunto.”
O país está sem ministro titular da Saúde desde 15 de maio, quando Nelson Teich, substituto de Mandetta, se recusou a liberar o uso da cloroquina e renunciou depois de apenas 29 dias no cargo. O general Eduardo Pazuello, que comanda interinamente o ministério, não tem experiência na área médica.
O coronavírus matou 82.771 pessoas no Brasil, que tem 2,23 milhões de infectados. Os casos ativos somam cerca de 613.000. Embora o Ministério da Saúde não tenha comentado sobre o aumento de terça-feira, há indícios de que o recorde pode ser em parte consequência de problemas no sistema que computa os casos. O estado de São Paulo afirmou na quarta-feira que havia tido dificuldades em inserir os dados devido à instabilidade técnica nos sistemas do ministério, segundo o G1.
Procurada por e-mail, a assessoria de imprensa da Presidência não quis fazer comentários para esta matéria.