Comida: houve avanço em relação a 2009, quando 11,3 milhões de pessoas vivam sob ameaça da fome (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de dezembro de 2014 às 14h41.
Rio - A maior parte (43,3%) das famílias que enfrentaram falta de alimento em 2013 tentou resolver a dificuldade comprando fiado, aponta pesquisa sobre segurança alimentar do brasileiro divulgada nesta quinta-feira, 18, pelo IBGE.
A segunda maior estratégia foi pedir alimentos emprestados a outras pessoas. Em menor incidência, houve quem tenha deixado de comprar alimentos supérfluos; pedido dinheiro emprestado; reduzido o consumo de carnes e recebido doações, entre outras respostas.
O suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrou que 7,2 milhões de pessoas no país convivem com a fome.
Elas moram em 2,1 milhões de domicílios onde pelo menos uma pessoa passou um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar comida, nos três meses anteriores à pesquisa.
No termo técnico, essas pessoas vivem em insegurança alimentar grave e são 3,6% do total de moradores em domicílios particulares (193,9 milhões).
Houve avanço em relação a 2009, quando 11,3 milhões de pessoas (5,8% do total) vivam sob ameaça da fome - uma redução de 36%.
A pesquisa não revela quantas pessoas efetivamente passam fome no País. Em 2013 o IBGE investigou pela primeira vez a atitude das famílias diante da falta de alimentos e não há comparação com outros anos.
Presente à divulgação da pesquisa, o secretário de Avaliação e Gestão da Informação do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), demógrafo Paulo Jannuzzi, disse que grande parte das pessoas que vivem em insegurança alimentar grave está em áreas de difícil acesso e de extrema pobreza do Norte e Nordeste.
"Povos isolados da região Norte e bolsões de pobreza no Nordeste já estão sendo objeto de ações específicas, mas outras ações precisarão ser deflagradas para garantir que tenham acesso a alimentos. A distribuição de cestas básicas é uma das estratégias de que o governo se vale, pela dificuldade de produção nas próprias comunidades. Procuramos identificar população quilombola, índios, ribeirinhos, povos da floresta. É uma estratégia que ainda tem que persistir, com seus desafios, inclusive pelo isolamento de muitas comunidades", afirmou.
Jannuzzi considerou positivo que a maioria das famílias recorra à compra fiado para resolver o problema. Para o secretário, é um indicativo de que elas têm crédito no mercado, graças a programas sociais.
"Recorrer à compra fiado revela o sucesso da estratégia do governo brasileiro em fazer a ampliação dos programas de transferência de renda para a população mais pobre. Exatamente no Norte e Nordeste é que mais recorrem ao comércio para pedir fiado, porque eles têm crédito na praça. O cartão do Bolsa Família garante ao comerciante que aquela dívida será honrada. É revelador que um menor número de famílias peça a vizinhos, como era a estratégia há dez ou quinze anos. Ou recorria a entidades religiosas. Muitas dessas famílias preferiram comprar fiado do que deixar de comer carne ou frutas", destacou.
O representante do MDS fez questão de esclarecer que a informação de que 7,2 milhões de pessoas vivem em insegurança alimentar grave não significa que todas passem fome.
"Não é correto dizer que temos sete milhões de pessoas que passam fome. São pessoas residentes em domicílios onde foi reportado que pelo menos um indivíduo deixou de se alimentar propriamente e passou fome nos últimos três meses. Dos 52 milhões que vivem em algum grau de insegurança, 34 milhões vivem em domicílios onde há preocupação de que venha a faltar alimento. Não estão passando fome de modo algum", afirmou o secretário.
É considerada insegurança alimentar leve a situação em que a família tem preocupação ou incerteza quando à disponibilidade de alimentos no futuro.
A insegurança média refere-se à família onde houve redução da quantidade de alimentos entre os adultos.