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Lula x Bolsonaro: como está a rejeição aos candidatos e a avaliação do governo?

Avaliação do governo Bolsonaro melhorou gradualmente nas pesquisas de segundo turno. Até onde pode avançar o presidente?

Bolsonaro com apoiadores em Nova York: grupo que não vota no presidente "de jeito nenhum" está perto de 50% (Leandro Fonseca/Exame)

Bolsonaro com apoiadores em Nova York: grupo que não vota no presidente "de jeito nenhum" está perto de 50% (Leandro Fonseca/Exame)

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Carolina Riveira

Publicado em 27 de outubro de 2022 às 06h56.

Última atualização em 27 de outubro de 2022 às 11h32.

A poucos dias do segundo turno, a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) aposta na diminuição gradual de sua rejeição para virar o jogo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu no primeiro turno. Desde o fim de setembro, diferentes pesquisas registram quedas de dois a seis pontos na rejeição do atual presidente. Paralelamente, sondagens mostram o aumento da avaliação ótima ou boa do atual governo no mesmo período -- e queda da avaliação ruim ou péssimo.

Apesar de números mais favoráveis, muitas dúvidas rodeiam a questão: a menor rejeição se refletirá em mais votos? Se sim, serão capazes de mudar o resultado final da campanha?

Em uma eleição com votos mais cristalizados entre os candidatos para presidente desde 2010, é natural que o pleito se transforme em uma batalha de rejeições, como definiu em diversas ocasiões à EXAME o pesquisador Maurício Moura, fundador do Instituto Ideia.

Um desafio para a campanha de Bolsonaro é que, embora os números de rejeição tenham melhorado, a intensidade e velocidade do movimento podem não ser suficientes para virar o jogo até 30 de outubro. Além disso, no segundo turno é comum que a intenção de votos capturada em pesquisas se aproxime da avaliação do candidato. Em outras palavras, quem votou em Bolsonaro no primeiro turno pode melhorar a avaliação que tem do governo às vésperas da decisão final.

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Vale uma ressalva: a queda na rejeição pode ser vista por algumas métricas diferentes e a pergunta principal que mede o conceito é a parcela de eleitores que não votam no candidato "de jeito nenhum".

Nessa frente, a rejeição de Bolsonaro caiu 4 pontos no Ipec, 2 pontos no Datafolha e 5 pontos na Quaest desde as últimas pesquisas feitas antes do primeiro turno, no fim de setembro.

Ao mesmo tempo, a rejeição a Lula subiu 6 pontos no Ipec, 7 pontos no Datafolha e caiu 3 pontos na Quaest.

Embora a tendência seja de diminuição da diferença entre os candidatos, Bolsonaro ainda lidera essa batalha de rejeições, variando de 4 a 6 pontos percentuais à frente de Lula.

Avaliação do governo melhora

Outra métrica relevante para medir a rejeição de um candidato à reeleição está na avaliação que os brasileiros fazem de seu governo. Nessa seara, a boa notícia para Bolsonaro é que a percepção de ótimo ou bom cresceu enquanto os que descrevem o governo como ruim ou péssimo diminuiu.

Desde o fim de setembro, caiu mais a fatia dos que acham o governo ruim/péssimo (-7 pontos no Ipec e -5 no Datafolha) e a dos que desaprovam “a maneira” de Bolsonaro governar (-7 pontos em uma pergunta do Ipespe desde o fim de setembro).

É a curva que mais se parece à chamada “boca de jacaré”, com aproximação entre os detratores e apoiadores do governo, afirmam analistas.

Essa visão “menos ruim” do governo pode caminhar para, eventualmente, reduzir a rejeição, o que aumentaria a chance de voto em um candidato. Se o eleitor não considera o governo péssimo, o próximo passo pode ser colocar o presidente Bolsonaro em seu rol de possibilidades.

“O eleitor tem duas grandes motivações para votar: vai votar de acordo com sua preferência, escolher aquele que ele mais gosta; mas também vai votar de um jeito estratégico, para evitar que aquele que ele menos gosta vença a eleição”, diz Glauco Peres da Silva, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento.

Na teoria da ciência política, a rejeição gera o chamado “teto”, o limite até onde a votação pode chegar. Para vencer, um candidato com alta rejeição tem de “fazer esse teto mudar de lugar”, afirma Silva. “Os políticos vão tentar atuar para mudar isso e, se fica estável, significa que não está funcionando.”

Do uso da máquina ao antipetismo

No caso do presidente Bolsonaro, o pesquisador, que tem estudado o comportamento de histórico de votação dos eleitores em São Paulo, aponta que faz sentido a redução da rejeição com medidas pré-eleição do governo, como aumento do Auxílio Brasil e ações para baratear temporariamente a gasolina.

Nos últimos meses, foram iniciados ou ampliados programas como:

  • aumento do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600;
  • ampliação do vale gás;
  • criação de auxílio diesel para caminhoneiros;
  • mudança na Constituição para comportar os novos gastos;
  • articulação junto ao Congresso para desoneração de ICMS (imposto estadual) de combustíveis;
  • redução da fila de espera do Auxílio Brasil;
  • programa de crédito consignado na Caixa Econômica Federal para beneficiários do Auxílio Brasil.

Antonio Lavareda, do Ipespe, reforça ao mesmo tempo que o dado da rejeição ou da avaliação do governo tem de ser visto com cautela nesta etapa. "Perto dos turnos, historicamente, começa a haver uma equalização entre a intenção de voto e a avaliação", explica Lavareda.

No fim do primeiro turno, como a EXAME mostrou, um dos principais diagnósticos é de que houve uma migração de última hora de eleitores de Simone Tebet e Ciro Gomes para Bolsonaro, de modo a evitar uma vitória de Lula no primeiro turno, em movimento calcado no antipetismo.

Assim, uma tendência é que quem votou em Bolsonaro para evitar Lula, por exemplo, mas que avaliava o governo como apenas regular, começa a avaliar melhor o governo para justificar o voto. Na pesquisa Ipespe, a desaprovação à "maneira" de Bolsonaro de governar também caiu.

VEJA TAMBÉM: Creomar, da Dharma: rejeição a Lula foi alimentada na reta final e é recado para 2º turno

Pouco tempo e poucos eleitores

Um desafio para a campanha de Bolsonaro é que, embora os números de rejeição tenham melhorado, a intensidade e velocidade do movimento podem não ser suficientes até 30 de outubro. O presidente segue rejeitado por quase 50% dos eleitores que afirmam que não votariam nele “de jeito nenhum” nas diversas pesquisas.

Paralelamente, aumentar a rejeição do adversário é outra das possibilidades e, nessa seara, Lula também é muito rejeitado. Ainda assim, a rejeição de Lula segue abaixo à de Bolsonaro.

São 6 pontos de rejeição a mais para Bolsonaro no Ipec, 4 no Datafolha e 5 na Quaest. Em uma eleição apertada, essa curta lacuna pode ser suficiente para evitar que o presidente vire o jogo, caso as pesquisas se mostrem corretas.

No primeiro turno, foram 6 milhões de votos a mais para Lula frente a Bolsonaro, enquanto os demais candidatos tiveram mais de 10 milhões de votos. Não se sabe ao certo como está essa conta hoje, e as pesquisas vão de sondagens com Bolsonaro na frente a pesquisas com Lula na frente.

Outros fatores, como a abstenção (que caminha para prejudicar mais Lula do que Bolsonaro), também podem influenciar.

Em entrevista anterior à EXAME, o pesquisador Maurício Moura, fundador do Ideia, reforçou que a eleição 2022, mesmo antes do primeiro turno, já poderia ser definida como uma "batalha de rejeições", com os votos muito cristalizados, poucos indecisos e um grande grupo dizendo que não vota de jeito nenhum no outro candidato.

"Esse fenômeno não é uma realidade apenas brasileira", disse Moura. "Tivemos na América Latina, com Peru, Chile e Colômbia mais recentemente, e até mesmo nos Estados Unidos. A implicação prática nesse movimento é que o eleitor vota muito mais tentando evitar a vitória do outro do que para prestigiar as propostas do candidato que ele escolheu."

Por isso, uma rara unanimidade entre especialistas é que a vitória, de quem quer que seja, será apertada pelas informações até o momento. Enquanto isso, continua o esforço de Bolsonaro para se tornar um candidato mais palatável à fatia que, se não é grande apoiadora do governo, o acha ao menos “regular”, cerca de 20% do eleitorado. A campanha do presidente corre contra o tempo — e abre o caixa — para transformar uma parcela desse grupo em votos.

(Com Gilson Garrett Junior)

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