Lula nega acordos ilícitos com Odebrecht e diz que Palocci mentiu
Demonstrando irritação em alguns momentos, Lula falou por cerca de duas horas nesta quarta-feira diante do juiz Sérgio Moro
Reuters
Publicado em 13 de setembro de 2017 às 19h35.
Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 19h37.
Brasília - Em seu segundo depoimento ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter feito qualquer acordo ilícito com a Odebrecht e afirmou que seu ex-ministro Antonio Palocci mentiu ao envolvê-lo diretamente na compra de um terreno pela empreiteira para o Instituto Lula, em troca de manter um bom relacionamento com o governo.
Demonstrando irritação em alguns momentos, Lula falou por cerca de duas horas nesta quarta-feira no processo em que é acusado de ter recebido vantagens ilícitas da Odebrecht, incluindo a compra de um imóvel para sediar seu instituto, em São Paulo.
"A única pessoa que falou comigo desse prédio foi o presidente do instituto, Paulo Okamoto. Nós já tínhamos visitado outros para alugar ou para fazer oferta de compra", disse o ex-presidente. "Fui uma única vez e disse na hora 'não me interessa, é inadequado'", afirmou.
Em depoimento na semana passada no mesmo processo, o ex-ministro afirmou que Lula havia negociado pessoalmente com Marcelo e Emílio Odebrecht um pacote de vantagens ilícitas em troca de manter um bom relacionamento com o governo de Dilma Rousseff, que costumava ser mais dura com a empresa.
O pacote, segundo Palocci, incluiria o imóvel para o instituto Lula, a compra do sítio em Atibaia e uma conta com 300 milhões de reais a ser usada pelo ex-presidente e o PT.
Em sua fala, Lula acusa Palocci de mentir para obter os benefícios da delação e de ser frio, calculista e simulador e que seu depoimento foi "cinematográfico", armado para que o ex-ministro dissesse o que o Ministério Público queria ouvir.
"Eu conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse um ser humano ele seria um simulador. Ele é tão esperto que ele é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Ele é médico, calculista, é frio. Nada daquilo é verdadeiro. A única coisa que tem de verdade ali é ele dizer que está fazendo aquela delação porque ele quer o benefício da delação", disse o ex-presidente.
Lula, no entanto, disse não estar com raiva de Palocci.
"Muita gente achou que eu ia chegar com muita raiva do Palocci. Eu achei que o Palocci está preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre", disse. "O que não pode é se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros."
O advogado de Palocci na negociação do processo de delação, Adriano Bretas, disse à Reuters que repudiava "com veemência" as declarações de Lula e que ele não tem condições de criticar quem opta pela colaboração.
"Eu devolvo para ele esses mesmos atributos. Dissimulado é o Lula, que nega tudo aquilo que o contraria, que quando falam alguma coisa contra ele é mentiroso, quando o documento é apresentado, é falso", disse.
Embate
Como em seu primeiro depoimento, o encontro de Lula com Moro teve momentos de embate entre o ex-presidente e o juiz. Lula chegou a acusar o juiz de ser "desrespeitoso" e mostrou irritação ao ser questionado sobre atos de sua esposa, dona Marisa, morta no início deste ano.
De novo, o juiz pediu que o ex-presidente não fizesse campanha ou discurso e se ativesse às perguntas, sem sucesso.
Lula criticou fortemente a Lava Jato e o Ministério Público, e chegou a citar o caso da delação do empresário Joesley Batista,
"Estamos vendo o que está acontecendo com (Rodrigo) Janot, o que está acontecendo com (Marcelo) Miller. E a força-tarefa da Lava Jato está tratando de destruir o MP contando inverdades", afirmou. "Eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o MP, sobretudo a força-tarefa, para provar minha inocência. Só quero que eles tenham a grandeza de um dia pedir desculpas."