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Lula manda recados a Bolsonaro em 1º grande discurso após deixar prisão

Lula atacou veementemente as políticas econômicas do atual governo e comparou com as medidas adotadas em seus dois mandatos, de 2003 a 2010

Lula: ex-presidente criticou políticas econômicas atuais (Marcelo Goncalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo)

Lula: ex-presidente criticou políticas econômicas atuais (Marcelo Goncalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo)

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EFE

Publicado em 10 de novembro de 2019 às 10h20.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma mensagem e quase um desafio ao atual chefe de governo, Jair Bolsonaro, durante discurso em São Bernardo do Campo neste sábado, um dia depois de ter sido solto da prisão em Curitiba.

"Eles não sabem o quanto eu quero lutar por este país e pelos trabalhadores", disse Lula a milhares de pessoas reunidas em frente à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, um dia depois de ser liberado, graças à decisão do Supremo Tribunal Federal de proibir prisões logo após a condenação em segunda instância.

O ex-mandatário continua condenado a oito anos e dez meses de prisão por corrupção, que já foi ratificada em três casos, mas ainda tem um recurso pendente.

Nesta sexta-feira, ao sair da prisão onde permaneceu por 580 dias, ele já tinha dito que pretende unir a oposição ao governo de Bolsonaro, líder de uma extrema direita que cresceu no país no calor de escândalos de corrupção ocorrido durante a administração de Lula e sua sucessora, Dilma Rousseff.

Desafio à extrema direita

Neste sábado, frente a milhares de apoiadores, Lula foi mais direto que no pronunciamento em frente à prisão em Curitiba. Disse ter a intenção de percorrer o Brasil em caravana contra a desigualdade.

"Quero andar por todo o Brasil, porque não é possível que vivamos em um país em que os ricos ficam mais ricos e os pobres estão mais pobres", declarou o ex-presidente, que culpou o ministro da Economia Paulo Guedes pelo aumento da desigualdade, chamando-o de "destruidor de sonhos".

O líder petista voltou a se dizer vítima de uma armação para tirá-lo das eleições presidenciais do ano passado, mas, em tom desafiador, disse que a esquerda derrotará Bolsonaro daqui a três anos.

"Tudo o que fizeram foi para me tirar da disputa eleitoral. O que eles não sabem é que vocês não dependem de uma pessoa, vocês dependem do coletivo. Se a gente souber trabalhar direitinho, em 2022 a chamada esquerda, de que o Bolsonaro tanto medo tem, vai derrotar a ultradireita", afirmou.

Lula atacou veementemente as políticas econômicas do atual governo e comparou com as medidas adotadas em seus dois mandatos, de 2003 a 2010. "Já provamos que é possível governar para as pessoas mais necessitadas, levar os pobres às universidades, gerar emeprego e prosperidade", salientou.

O político, que depois do discurso foi carregado por simpatizantes, também mencionou o suposto vínculo entre Bolsonaro e grupos paramilitares do Rio de Janeiro. "O cidadão (em referência a Bolsonaro) foi democraticamente eleito, então nós aceitamos o resultado, mas ele foi eleito para governar para os brasileiros e não para a milícia do Rio", afirmou.

Prisão, e não exílio.

Lula lembrou que ainda tem processos contra si, os quais classificou como "uma mentira atrás da outra", e garantiu não ter por que sentir culpa. Por isso, segundo ele, decidiu se entregar em abril do ano passado em vez de se exilar.

"Eu tomei a decisão de ir lá para a Polícia Federal (em 7 de abril de 2018, quando se entregou). Eu poderia ter ido para uma embaixada, mas eu tomei a decisão de ir lá, porque eu preciso provar que o juiz Moro não era juiz, era um canalha que estava me julgando", bradou, se referindo ao atual ministro da Justiça e responsável por seu primeiro julgamento.

Ao falar dos processos que enfrenta, o presidente do Brasil de 2003 a 2010 garantiu não ter por que sentir culpa. "Cá estou eu, livre como um passarinho. Durmo com a consciência tranquila de um homem justo e honesto", afirmou o petista, que ressaltou que o mesmo não acontece com Moro nem Jair Bolsonaro.

"Durmo com a consciência tranquila dos homens justos e honestos. Duvido que Moro durma assim, que os promotores durmam assim e que Bolsonaro durma assim", comparou.

"Tudo o que fizeram foi para me tirar da disputa eleitoral. O que eles não sabem é que vocês não dependem de uma pessoa, vocês dependem do coletivo. Se a gente souber trabalhar direitinho, em 2022 a chamada esquerda, de que o Bolsonaro tanto medo tem, vai derrotar a ultradireita", acrescentou.

A reação de Bolsonaro

O atual presidente, que até agora não havia se pronunciado de maneira direta sobre a liberação de seu maior adversário político, enfim falou a respeito neste sábado ao saudar alguns apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, sua residência oficial em Brasília.

"A grande maioria do povo brasileiro é honesto, trabalhador, e não vamos dar espaço e contemporizar com presidiário. Ele está solto, mas com todos os crimes dele nas costas", disse Bolsonaro, que antes havia usado o Twitter para falar sobre soltura de Lula.

"Iniciamos a (SIC) poucos meses a nova fase de recuperação do Brasil e não é um processo rápido, mas avançamos com fatos. Não dê munição ao canalha, que momentaneamente está livre, mas carregado de culpa", escreveu. EFE

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