Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: escalação de Lula ocorre num momento em que cresce no PMDB a força daqueles que querem o fim da aliança nacional com o PT (Adriano Machado/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2014 às 21h56.
Brasília - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu de vez pelo PT a articulação com o PMDB para tentar garantir a aliança nacional entre os dois partidos, fazendo reuniões com senadores peemedebistas, num ambiente de forte desconfiança sobre as vantagens de manter o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Nas últimas semanas, Lula se reuniu duas vezes com senadores do PMDB que enfrentam dificuldades para formar alianças com o PT em vários Estados e uma nova rodada de conversas está agendada para a próxima semana, segundo relato de peemedebistas que estiveram numa reunião realizada segunda-feira com o ex-presidente.
A escalação de Lula ocorre num momento em que cresce no PMDB a força daqueles que querem o fim da aliança nacional com o PT e depois de tentativas frustradas de outros interlocutores petistas nas negociações de palanques estaduais, como o presidente da legenda, Rui Falcão, e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
“O Lula não vai deixar o projeto ficar em jogo”, disse um senador nesta terça-feira à Reuters, pedindo para não ter seu nome revelado. A declaração, porém, foi mais em tom de esperança do que de certeza.
Esse senador disse que é muito difícil prever o que vai acontecer na convenção nacional do partido no próximo dia 10 de junho, o que já ficou evidente numa reunião da Executiva Nacional do PMDB com os diretórios estaduais na semana passada.
“O voto secreto é perverso”, comentou ele, sugerindo que pode haver muitas traições na hora de decidir a manutenção da aliança nacional.
Já o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), que participou da reunião com Lula, disse à Reuters que há uma margem de segurança de aproximadamente 100 votos a favor da aliança na convenção.
Mas alertou que Dilma precisa melhorar sua interlocução com a base, em especial com o PMDB, para vencer as eleições. “Tem muito blefe, mas não vejo risco para a aliança na convenção”, argumentou Braga.
Esses 100 votos, porém, não representam uma grande vantagem se forem consideradas as condições da votação. Há pouco menos de 500 peemedebistas com votos, mas muitos deles têm mais de um voto na convenção.
Há alguns com até quatro votos, num universo de 750 no total. Um outro peemedebista, que acompanha essa rodada de conversas de Lula com os senadores de perto, considera que a iniciativa do ex-presidente é importante, mas ainda não surtiu efeitos.
“Por enquanto, o Lula tem funcionado como um divã para esses senadores que estão descontentes”, disse sob condição de anonimato. “Mas as soluções políticas estão sendo encaminhadas. Ainda não sabemos o desfecho”, disse.
“Essa participação do Lula ocorreu porque a presidente tem, de fato, pouca influência no PMDB”, disse essa fonte, que considera dois cenários para a convenção nacional.
No mais otimista, as alianças estaduais se resolvem como querem os peemedebistas e Dilma pode ter até 80 por cento dos convencionais. No mais pessimista, Dilma poderia ter apoio de 60 por cento da convenção nacional.
O PMDB apoia oficialmente o PT em apenas duas disputas, no Distrito Federal e em Minas Gerais, mas reclama que não consegue reciprocidade dos petistas e temem perder sua principal força nas eleições, que é eleger grandes bancadas no Senado e na Câmara dos Deputados.
Esse temor de perder importância no Congresso em relação ao PT e outros partidos é uma avaliação crescente no PMDB e serve de pano de fundo para os questionamentos sobre a vantagem da aliança entre os dois partidos.
O apoio do PMDB à reeleição é considerado fundamental pelo governo, por conta da capilaridade nacional peemedebista e pelo tempo na propaganda de rádio e TV.
Nos planos do Palácio do Planalto, é essencial ter muito mais tempo que os adversários durante a campanha eleitoral.