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Luciana Genro (PSOL): hora de ir do discurso à prática

Camila Almeida A ex-deputada e ex-candidata a presidente Luciana Genro, do PSOL, lidera as pesquisas à prefeitura de Porto Alegre. Segundo a mais recente, divulgada pelo Ibope na segunda-feira 22, ela tem 23% das intenções de voto, seguida pelo ex-prefeito Raul Pont, do PT, com 18%. Em entrevista a EXAME Hoje, Luciana falou sobre seu […]

LUCIANA GENRO: segundo pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira 22, ela tem 23% das intenções de voto em Porto Alegre / Divulgação
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Da Redação

Publicado em 23 de agosto de 2016 às 13h44.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h08.

Camila Almeida

A ex-deputada e ex-candidata a presidente Luciana Genro, do PSOL, lidera as pesquisas à prefeitura de Porto Alegre. Segundo a mais recente, divulgada pelo Ibope na segunda-feira 22, ela tem 23% das intenções de voto, seguida pelo ex-prefeito Raul Pont, do PT, com 18%. Em entrevista a EXAME Hoje, Luciana falou sobre seu favoritismo, sobre as divergências com o PT, sobre o futuro da esquerda, e sobre por que decidiu tentar mais uma vez a prefeitura depois de se lançar à presidência em 2014.

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Camila Almeida

A ex-deputada e ex-candidata a presidente Luciana Genro, do PSOL, lidera as pesquisas à prefeitura de Porto Alegre. Segundo a mais recente, divulgada pelo Ibope na segunda-feira 22, ela tem 23% das intenções de voto, seguida pelo ex-prefeito Raul Pont, do PT, com 18%. Em entrevista a EXAME Hoje, Luciana falou sobre seu favoritismo, sobre as divergências com o PT, sobre o futuro da esquerda, e sobre por que decidiu tentar mais uma vez a prefeitura depois de se lançar à presidência em 2014.

A senhora lidera a corrida como legítima representante da esquerda. A esquerda não faliu no Brasil?
A velha esquerda que governou o Brasil por 14 anos e terminou de forma desastrosa, sim. O desafio do PSOL é renovar os ideais da esquerda e separar dessa experiência do PT, da qual, aliás, nós saímos há muitos anos. Eu fui expulsa do PT em dezembro de 2003, antes, inclusive, do mensalão. Justamente por não aceitar uma lógica de pactuação do governo aos interesses do capital financeiro, das elites econômicas, da lógica de governar atacando os trabalhadores. Temos que nos afirmar como um terceiro campo que rejeita a volta ao modelo anterior, do PT e do PSDB, e também PMDB do Temer.

O PSOL naturalmente vai receber essa esquerda insatisfeita?
O fato de o PSOL ser um polo de atração e uma confluência de diferentes forças políticas e sociais é muito positivo. É positivo porque a esquerda é muito diversa, porque existem vertentes de pensamentos diferentes, que se aglutinam em torno de lutas, em torno de ideais que vem de muitos anos. Não vejo que o PSOL seja – por força de  lei ou de destino – o novo partido da esquerda brasileira. Acho que é um dos embriões de uma nova experiência que a esquerda está desenvolvendo e, até o momento, me parece ser o embrião mais forte, com mais chances de vingar.

Hoje o PSOL só tem duas prefeituras importantes e pouca experiência com o poder executivo. Como isso pode afetar sua campanha?
O PSOL é inexperiente. Não dá nem para dizer que são duas prefeituras porque, em Macapá, o prefeito saiu do PSOL justamente por divergências políticas. E a outra prefeitura [Itaocara-RJ] é muito pequena, não dá para considerar como uma grande experiência. Mas não é essa questão que está em jogo neste momento. Queremos mudar justamente essa lógica de poucos partidos governarem. O que eu tenho dito aqui em Porto Alegre é que eu quero governar com a inteligência da cidade, com as melhores cabeças, com os servidores de carreira, que conhecem o serviço público, com os movimentos e entidades que representam segmentos que têm conhecimento acumulado para a gestão pública. Hoje, meu principal rival aqui em Porto Alegue que é o vice-prefeito Sebastião Melo, ele tem 14 partidos na aliança dele. Como é possível governar com 14 partidos se acotovelando, disputando cargos e secretarias, disputando interesses mesquinhos que, obviamente, não vão resultar num melhor cuidado com a cidade?

Como ficaria a relação com o legislativo?
Com a câmara de vereadores eu tenho certeza que eu vou estabelecer uma relação muito democrática e transparente porque os projetos que eu vou apresentar serão projetos de interesse da cidade. E o problema que os gestores têm com a câmara é que, invariavelmente, eles apresentam projetos que não são bons para as pessoas. Agora, quando o projeto é bom, nenhum vereador se nega a votar. O próprio PSOL, seja na Câmara de Vereadores daqui de Porto Alegre, na Assembleia Legislativa ou na Câmara Federal, quando o projeto é bom, a gente vota a favor, mesmo que seja de oposição ao governo.

Mas a falta de maioria na Câmara não vai prejudicar sua governabilidade?
A governabilidade se dá a partir desse respaldo social das propostas. Veja a situação da Dilma. Ela estabeleceu a governabilidade a partir de um loteamento partidário. Assim que ela perdeu o respaldo popular, a governabilidade ruiu. Esse tipo de governabilidade, baseada no toma-lá -dá-cá e no loteamento partidário, não funciona para o bem público. E não funciona para o bem de uma gestão que queira ser transformadora e inovadora. Eu não tenho nenhum preconceito com o setor privado. Ele é importante para o desenvolvimento da cidade. Agora, eu como gestora teria prioridades. Uma das minhas propostas é que a população tenha um protagonismo maior nas decisões. Então, eu vou criar uma proposta de internet em que as pessoas vão mandar suas propostas e se essas propostas tiverem 2% do apoio do eleitorado na plataforma, elas irão a plebiscito e, se vencedoras, serão encaminhadas pelo governo. Seja através de projetos de lei à Câmara, seja através de programas que o governo possa tocar independente da aprovação da Câmara. Tanto o setor privado quando a população em geral vão poder participar ativamente das decisões do governo.

Onde a senhora busca inspiração para suas propostas?
A participação direta das pessoas através de plataformas digitais, já na campanha, construindo um programa de governo de forma colaborativa, veio em parte do Bernie SAnders. Uma inspiração para a plataforma dos 2% é Madri. Uma das propostas que eu apresentei é fazer parte de uma rede de Cidade Rebeldes, que está sendo articulada na Espanha, com o objetivo de unir as prefeituras, os governos municipais, que estãona contramão das políticas neoliberais, das políticas de ajuste fiscal e das políticas de restrição da participação popular.

Não é necessário um ajuste fiscal no Brasil?
Acho que sim, mas não desse tipo de ajuste fiscal que faz com que o povo pague a conta. Questionam-se, por exemplo, os gastos com a previdência, mas não se questionam os gastos com a dívida pública. O Temer propõe um teto de gastos que vai cortar recursos da saúde, da educação, está cortando a verba das universidades, mas ele não propõe um teto com os gastos da dívida pública. A questão do ajuste fiscal é: ajuste fiscal nas costas de quem? Quem vai pagar a conta? Quem se beneficiou ao longo de todo esse tempo não foram os pobres do Bolsa Família, que continuam pobres e precisando do Bolsa Família, mas foram os banqueiros que mais ganharam com a política econômica do FHC, do Lula e da Dilma. A ideia do Temer, e também a da Dilma, é fazer o povo pagar, com reforma na previdência, reforma trabalhista, com cortes na saúde, na educação, mas os benefícios fiscais para os bancos, para as montadoras de automóvel, para as grandes empresas que mamaram nas tetas do BNDES como a Friboi, como a Sadia e tantas outras, ninguém questiona. Mas nós questionamos.

A senhora foi candidata à Presidência e agora está disputando a prefeitura de Porto Alegre mais uma vez. Não faria mais sentido defender essas causas em Brasília?
Olha, eu não estou brigando por essas causas em Brasília porque infelizmente eu não fui eleita presidente da república. Agora eu estou num período de eleições municipais em que eu estou em primeiro lugar nas pesquisas. Então, seria difícil eu me negar a fazer essa disputa, quando o povo de Porto Alegre está do meu lado. Eu acho que eu tenho o dever de encarar esse desafio e eu me sinto plenamente preparada para ele. Em 2014, eu não fui candidata a deputada federal ou senadora, em primeiro lugar porque meu pai era governador e eu estava impedida de concorrer a qualquer cargo com vinculação no Rio Grande do Sul. Eu só podia concorrer a presidente ou a vice-presidente da República. Mas eu já fui deputada federal por dois mandatos e eu acho tinha mais a contribuir disputando a presidência da república e levando as propostas do PSOL a esse âmbito presidencial. Acho que foi uma experiência importante e produtiva para mim e para o PSOL.

Qual a estratégia do PSOL para aumentar sua presença municipal Brasil afora?
Temos chances de vitória em capitais importantes, como Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belém, Natal, São Paulo – embora seja difícil para a Erundina, ela está bem colocada nas pesquisas, na frente inclusive do Haddad. A partir de vitórias em prefeituras significativas como algumas dessas, nós podemos mostrar que é possível fazer política de uma outra forma. Nós podemos mostrar que existe um terceiro campo na política nacional, que não se resume a PMDB-PSDB de um lado e o PT do outro, mostrar que a esquerda não está demoralizada, que não se rendeu como o PT se rendeu e segue acreditando que é possível governar sem se corromper, sem mudar de lado. As prefeituras nos dão a oportunidade de passar do discurso para a prática. E é isso que eu estou pedindo aqui em Porto Alegre, que eles possam me dar a chance de mostrar tudo aquilo que eu falei nos meus 30 anos de vida pública como parlamentar e dirigente partidária.

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