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"Local errado, hora errada", diz mãe de jovem morto em Paraisópolis

Mais oito pessoas morreram na confusão, que começou após a chegada do Polícia Militar no local

Paraisópolis: polícia entrou em confronto com suspeitos de moto, o que gerou correria e pisoteamento (Wikimedia/Divulgação)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de dezembro de 2019 às 18h04.

Última atualização em 1 de dezembro de 2019 às 18h05.

São Paulo — A vendedora Maria Cristina Quirino Portugal estava com raiva do filho Denys Henrique Quirino da Silva, de 16 anos. Ele havia saído para trabalhar na tarde do sábado, 30, e até a manhã do domingo, 1º, não havia dado notícia. A informação do seu paradeiro veio do pior modo possível: o hospital telefonou informando sobre a morte do jovem em tumulto no baile funk de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Mais oito pessoas morreram na confusão, que começou após a chegada do PM no local.

Moradora do Limão, na zona norte, onde vive com os quatro filhos, Maria Cristina não entendeu como o filho foi parar em um baile funk tão longe de casa. "Ele saiu para trabalhar e não voltou. Até eu receber a ligação do hospital, eu estava brava com ele e isso só passou quando o vi gelado no IML (Instituto Médico-Legal)", disse a mãe da vítima, em frente ao 89º Distrito Policial (DP), onde o caso está sendo investigado. Ela acredita que era a primeira vez que o filho, que era auxiliar de serviços gerais em uma loja de tapetes, tinha ido a esse baile.

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Maria Cristina contou que cresceu na Brasilândia, na zona norte, onde a muvuca de bailes funks a incomodava bastante. Sobre a ação policial, porém, acredita que poderia ter sido feita de forma a evitar a confusão. "Nasci e cresci em periferia e sei que nem todo mundo ali é bandido. Ao contrário. Sou a favor da polícia, mas isso que aconteceu não poderia ter acontecido, sou cidadã. A estratégia tem de ser diferente, sem bala de borracha, sem gás. Tem de acabar com os bailes antes de começarem. Caso contrário, outras mães vão perder seus filhos", disse.

O corpo do seu filho, contou, não tem nenhuma marca mais expressiva que pudesse explicar a morte, como alguma perfuração de tiro, o que para ela torna plausível a explicação de pisoteamento. "Não tem marca de nada, mas ele não conseguiu se defender", lamentou. "Estou vazia. Ele estava no local errado, na hora errada."

Ela classificou o temperamento do filho, a quem chamou de teimoso, como difícil e problemático na escola. Por faltas, foi desligado de um colégio, mas a mãe tentava uma nova vaga em outra instituição. Para o futuro, seu plano era se alistar no Exército. "Cansei de falar para deixar de andar com más companhias, mas não adiantou."

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