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Justiça dá prazo para Bolsonaro mostrar exames da covid-19; AGU recorrerá

A pedido do jornal O Estado de S. Paulo, a juíza Ana Lúcia Petri deu 48 horas para o presidente apresentar laudos

Entrevistas: Bolsonaro e ministros usaram máscaras em diversas coletivas de imprensa mas o equipamento foi abandonado. (Isac Nóbrega/Agência Brasil)

Entrevistas: Bolsonaro e ministros usaram máscaras em diversas coletivas de imprensa mas o equipamento foi abandonado. (Isac Nóbrega/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 28 de abril de 2020 às 10h44.

Última atualização em 28 de abril de 2020 às 10h45.

A Justiça Federal determinou, nesta segunda-feira, 27, que a União terá um prazo de 48 horas para fornecer "os laudos de todos os exames" feitos pelo presidente Jair Bolsonaro para identificar a infecção ou não pelo novo coronavírus. A decisão, da juíza Ana Lúcia Petri Betto, atendeu a um pedido do jornal O Estado de S. Paulo. O presidente já disse que o resultado dos exames deu negativo, mas se recusou até hoje a divulgar os papéis.

Depois de questionar sucessivas vezes o Palácio do Planalto e o próprio presidente sobre a divulgação do resultado do exame, o jornal entrou com ação na Justiça na qual aponta "cerceamento à população do acesso à informação de interesse público", que culmina na "censura à plena liberdade de informação jornalística".

"Não se pode ignorar que Jair Bolsonaro detém o mais proeminente mandato da administração pública do Brasil. A sociedade tem interesse permanente, portanto, em conhecer o estado de saúde do seu mandatário e, por conseguinte, acompanhar a sua sanidade para comandar o País", afirmou o jornal.

Antes mesmo de ser oficialmente notificada, a Advocacia-Geral da União (AGU) enviou à Justiça Federal de São Paulo uma manifestação em que se opõe à divulgação do resultado do exame de Bolsonaro e disse ainda que vai recorrer da decisão. Em seis páginas, a AGU diz que o pedido deve ser negado, sob a alegação de que a "intimidade e a privacidade são direitos individuais". Procurado, o Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar.

Bolsonaro fez o teste para detectar o novo coronavírus nos dias 12 e 17 de março, após voltar de missão oficial nos Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Donald Trump. Nas duas ocasiões, Bolsonaro informou, via redes sociais, que os testes deram negativo para a doença, mas não exibiu cópia dos resultados.

Pelo menos 23 pessoas que acompanharam o presidente brasileiro na viagem aos Estados Unidos foram diagnosticadas posteriormente com a doença. Entre eles, auxiliares próximos, como o secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno.

Bolsonaro disse no mês passado que poderia fazer um novo teste para saber se contraiu o vírus. "Fiz dois testes, talvez faça mais um até, talvez, porque sou uma pessoa que tem contato com muita gente. Recebo orientação médica", afirmou ele ao deixar o Palácio da Alvorada no dia 20 de março.

A Presidência da República se recusou a fornecer as informações ao Estado via Lei de Acesso à Informação, argumentando que elas "dizem respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas, protegidas com restrição de acesso".

Presidente já minimizou pandemia: 'gripezinha'

Ao longo das últimas semanas, o presidente tem descumprido orientações da Organização Mundial da Saúde e do próprio Ministério da Saúde, fazendo passeios por regiões administrativas do Distrito Federal, cumprimentando populares e formando aglomerações em torno de sua pessoa.

Bolsonaro já minimizou a gravidade da pandemia, referindo-se ao novo coronavírus como "gripezinha" ou "resfriadinho". Nesta segunda-feira, o total de mortes por covid-19 chegou a 4.543 no Brasil. O número de pessoas infectadas já é de 66.501.

"A despeito da gravidade desse cenário, o Presidente da República segue minimizando a crise sanitária, em descompasso com as medidas preconizadas à população para conter a proliferação do vírus. Nesse cenário de menosprezo à doença, natural que a sociedade passasse a questionar o seu relato a respeito de sua condição de saúde, veiculado em rede social sem documento comprobatório", sustenta a defesa do jornal O Estado de S. Paulo.

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