Juiz não deve se preocupar com consequências políticas, diz Moro
Moro defendeu a redução de pessoas com acesso ao foro privilegiado e o corte do excesso de cargos comissionados pelo governo
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de agosto de 2017 às 12h12.
Última atualização em 15 de agosto de 2017 às 16h03.
São Paulo - O juiz federal Sergio Moro , responsável pela Operação Lava Jato na primeira instância, afirmou nesta terça-feira, 15, em evento na cidade de São Paulo, que um juiz não deve se preocupar com consequências políticas de suas decisões, mas levar em conta o que está no processo. O magistrado defendeu a redução de pessoas com acesso ao foro privilegiado e o corte do excesso de cargos comissionados pelo governo, além do aumento do efetivo da Polícia Federal.
Moro disse estar especialmente preocupado com retrocessos no combate à corrupção no Brasil. "Retrocessos vão passar uma mensagem errada no sentido de que as instituições avançaram, não suportaram os avanços e é preciso voltar ao status anterior, de impunidade e corrupção sistêmica."
O enfrentamento da corrupção não custa tão caro, depende do empenho da classe política e precisa "ser feito sem hesitação" no judiciário e na polícia, disse Moro. O magistrado ressaltou que a Lava Jato já teve mais casos julgados do que a Operação Mãos Limpas, na Itália.
O juiz defendeu a delação premiada, destacando que há crimes que existem testemunhas, como um atropelamento ou até um homicídio, mas outros, como a corrupção, são cometidos em segredo, e a delação vai justamente revelar estas irregularidades.
"A ideia da colaboração é dar incentivo para que ocorra rompimento deste pacto de silêncio." Moro também afirmou ser contra o excesso de pessoas que têm direito ao foro privilegiado. As instâncias superiores, ressaltou o juiz, não estão preparadas para tantos casos.
O juiz destacou logo no início de sua palestra que o aspecto "mais assustador" da corrupção na Petrobras foi o quadro sistêmico com que as irregularidades eram praticadas. "Era a regra do jogo", disse ele, destacando que a recuperação de valores desviados com corrupção foi expressiva na petroleira após a Lava Jato. "O caso começou pequeno e foi crescendo."
Questionado na parte de perguntas e respostas sobre o prazo de duração da Lava Jato, Moro ressaltou que, sobre os crimes praticados na Petrobras, grande parte dos trabalhos da operação já foi realizada, com vários executivos já julgados e condenados.
"A operação da Lava Jato vai se encerrar em algum momento, mas o enfrentamento da corrupção tem ocorrer no dia a dia", disse ele, ressaltando que é preciso empenho da classe política para que este combate seja efetivo. "É preciso ter políticas públicas voltadas ao enfrentamento da corrupção."