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José Pimentel: os dilemas do PT

Em entrevista a EXAME Hoje, Pimentel defendeu a decisão do partido de compor a mesa, ainda que a ação tenha causado um racha dentro do partido

JOSÉ PIMENTEL, SOBRE LULA: “eu nunca vi um partido político lançar para candidato os quadros menos qualificados”  / Divulgação

JOSÉ PIMENTEL, SOBRE LULA: “eu nunca vi um partido político lançar para candidato os quadros menos qualificados” / Divulgação

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 2 de fevereiro de 2017 às 18h25.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h04.

Por 7 votos a 3, a bancada do PT optou por apoiar o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), eleito presidente do Senado na quarta-feira, e ocupar um cargo na mesa diretora da Casa. O escolhido para representar o partido foi José Pimentel, do Ceará, que vai ocupar a 1ª Secretaria, que funciona como uma espécie de prefeitura do Senado e cuida de assuntos administrativos e financeiros.

Em entrevista a EXAME Hoje, Pimentel defendeu a decisão do partido de compor a mesa, ainda que a ação tenha causado um racha dentro do partido — parte dos congressistas e da militância viram o ato como um apoio ao grupo que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff.

O PT era, com Dilma, integrante da mesa de situação e agora passa para a oposição. Qual a importância dessa 1ª Secretaria e como o partido vai atuar sendo oposição na mesa?
O Partido dos Trabalhadores sempre participou da mesa dos trabalhos do Senado. Esse partido e essa bancada nunca abriu mão de defender os mais pobres com um projeto econômico que permita o seu crescimento, com inclusão social e distribuição de renda. E é com esse mesmo olhar com que nós vamos conduzir o processo no Senado Federal. A mesa cuida da gestão, e o colégio de líderes, da pauta coletiva.

Houve uma rusga no partido por conta dessa negociação. Chegou a se criar um conflito entre Humberto Costa e Jorge Viana, de um lado, e Lindbergh Farias e Gleisi Hoffman, de outro. Como isso se resolveu?
O nosso partido completa 37 anos agora. E ao longo da sua história, sempre foi um partido dinâmico, de debates, de ideias e de projetos para se oxigenar. Esse debate é um debate aberto. Quando não tem unanimidade, é o voto que decide. E por 7 votos a 3, a banca deliberou para cumprir o princípio constitucional. E essa deliberação veio também com o apoio do diretório nacional do partido, que em janeiro de 2017, autorizou que a bancada tivesse a posição mais adequada para a realidade política.

O fato de o partido ter esse racha representa alguma perda de força, na opinião do senhor?
De forma alguma. O princípio é respeitar as urnas e a proporcionalidade em cada mesa.

Houve algum recuo por conta da militância, ou não?
O fato é que a nossa bancada da Câmara quer a participação na mesa. E não é favor de ninguém, é o resultado que o partido teve nas urnas. É isso que alguns não compreendem. Acham que o nosso partido vai para a mesa porque foi feito um acordo. Não é verdade. O nosso partido vai para a mesa a partir do resultado das urnas e a partir do princípio da proporcionalidade que está na Constituição e também no regimento interno, tanto da Câmara quanto do Senado.

O senhor falou que o partido é dinâmico. O senhor vê a necessidade de se renovar?
Não tenha dúvida. Na vida, quem não se renova é atropelado na política. E é por isso que esse partido tem seu foro de debate, suas tendências de elaboração teórica, e em seguida tem eleição para os diretórios com suas renovações. Agora mesmo estamos preparando uma grande renovação no Partido dos Trabalhadores. Até o dia seis de março temos o registro das chapas e das candidaturas para os diretórios municipais. Esse processo evoluirá e vamos chegar a julho para homologar o nome do presidente Lula para ser nosso candidato a presidente da República em 2018.

Mas o presidente Lula não é o contrário da renovação? Até por conta de desgastes da Lava Jato – ele pode chegar a 2018 como réu -, isso não é a contradição do discurso de que o PT precisa se renovar?
O primeiro registro é que o maior líder dos últimos anos, nacional e internacionalmente, é exatamente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele, na sua gestão, conseguiu tirar 40 milhões de pessoas da miséria, fazendo-as ter um pouco mais de dignidade, direito a três refeições. É evidente que uma burguesia, uma classe média que não olha para os pobres, tem uma visão diferenciada. Mas para nós, para os movimentos sociais e para os mais pobres, é outra visão.

Mas o que seria a renovação do PT, então?
Renovação em todos os espaços. O partido lança candidato aquele que tem o maior acúmulo, o melhor conhecimento da realidade do seu povo, para que possa disputar. Eu nunca vi um partido político lançar para candidato os quadros menos qualificados. Até porque isso seria totalmente injusto para com a população.

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