Janot: "não nos sujeitaremos à condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o País precisa", afirmou o procurador-geral da República (José Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2016 às 20h06.
Brasília - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deu um recado claro e contundente nesta segunda-feira, 27, contra acordões e manobras políticas que, supostamente, tentam impedir o avanço da Lava Jato.
Na abertura de um seminário em Brasília sobre a Operação Mãos Limpas, versão italiana das investigações sobre corrupção na Petrobras, Janot afirmou que "não há força humana, de pessoas ou de grupos, que possa se interpor entre o caminhar coletivo e o futuro" contra a corrupção no Brasil.
"Hoje, algumas vozes reverberam o passado e ensaiam a troca do combate à corrupção por uma pseudo estabilidade, a exclusiva estabilidade destinada a poucos. Não nos sujeitaremos à condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o País precisa", afirmou o procurador-geral da República. Ele não citou nomes, mas a referência a descobertas recentes de manobras contra a Lava Jato ficou clara.
Em escutas obtidas pelo Ministério Público, caciques do PMDB aparecem em conversas que, para Janot, demonstram uma tentativa política de inviabilizar as investigações sob o argumento de manter a estabilidade institucional do Brasil.
A revelação ensejou pedidos de prisão contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-MA). Os pedidos, no entanto, acabaram vazando e foram negados pelo relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki.
"Se os nossos timoneiros não perceberem rapidamente a direção dos novos ventos, certamente estarão fadados à obsolescência democrática. Ficarão, com os seus valores ultrapassados, presos irremediavelmente no tempo do esquecimento e condenados pelo juízo implacável da história", advertiu Janot.
Pressão popular
O procurador-geral da República afirmou também que a Lava Jato não poderá salvar o País, e que o combate à corrupção depende também da mobilização popular.
"Afirmo, sem receios de equívoco, que a mudança desejada depende sobretudo da mobilização social. Não chegaremos ao fim dessa jornada pelos caminhos do Ministério Público ou do Judiciário. Esses são peças coadjuvantes no processo de transformação e de aprofundamento dos valores republicanos", disse.
Estavam presentes no evento, além de integrantes do Ministério Público, o presidente do STF, ministro Ricardo Lewandowski, parlamentares, como o segundo presidente do Senado, senador Jorge Viana (PT-AC), o ministro da Transparência, Torquato Jardim, o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório, e o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.
Em seu discurso, Moraes defendeu a aprovação do projeto de lei popular encabeçado pelo Ministério Público, conhecido como 10 Medidas Contra a Corrupção.
Ele afirmou que a pasta está estudando as propostas uma a uma, mas que as sugestões do órgão são "importantes porque fortalecem as instituições e aprimoram a aplicação das leis".