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Itália condena 8 agentes por Plano Condor, mas absolve 18

Entre os condenados estão dois bolivianos, três peruanos, dois chilenos e um uruguaio, todos autoridades reconhecidas do Plano Condor

Condor: a 1ª sentença na Europa sobre o brutal dispositivo usado para sequestrar opositores, torturá-los, executá-los ou entregá-los para seus países de origem foi recebida com um silêncio comovedor (Thinkstock)

Condor: a 1ª sentença na Europa sobre o brutal dispositivo usado para sequestrar opositores, torturá-los, executá-los ou entregá-los para seus países de origem foi recebida com um silêncio comovedor (Thinkstock)

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AFP

Publicado em 17 de janeiro de 2017 às 22h29.

A Justiça italiana condenou nesta terça-feira à prisão perpétua oito repressores sul-americanos e absolveu 18 oficiais e civis acusados do desaparecimento e morte de mais de 40 opositores no âmbito do "Plano Condor", sentença que decepcionou parentes das vítimas.

Os juízes da Terceira Corte de Roma condenaram firmemente oito responsáveis pela operação militar acertada entre as ditaduras dos anos 1970 e 1980 na América do Sul para sequestrar e executar opositores.

Entre os condenados estão dois bolivianos, três peruanos, dois chilenos e um uruguaio, todos autoridades reconhecidas do Plano Condor, aplicado pelas ditaduras militares de Brasil, Argentina, Uruguai, Bolívia, Peru e Chile.

Entretanto, os juízes decidiram absolver 18 outros acusados, porque o crime prescreveu ou por falta de provas, gerando decepção e raiva entre familiares das vítimas - metade deles de origem italiana - e autoridades que assistiram a leitura da sentença na sala de segurança máxima da prisão romana de Rebibbia.

Entre os condenados à revelia estão os bolivianos Luis García Meza e Luis Arce Gómez, atualmente detidos em La Paz.

Também foram condenados à prisão perpétua os chilenos Hernán Jerónimo Ramírez e Rafael Ahumada Valderrama, e os peruanos Francisco Morales Bermúdez, Pedro Richter Prada e Germán Ruiz Figueroa.

Os juízes também decretaram prisão perpétua para o uruguaio Juan Carlos Blanco, ex-ministro de Relações Exteriores, condenado pela morte de Alvaro Daniel Banfi, metralhado junto com outros militantes de esquerda em outubro de 1974 perto de Buenos Aires.

A maioria dos absolvidos é de uruguaios, militares, agentes dos serviços secretos aos quais a Justiça italiana considera não haver provas suficientes de que cometeram os crimes pelos quais são julgados.

Após cinco horas de deliberações, os juízes absolveram o capitão da Marinha Jorge Néstor Troccoli, único dos acusados residente na Itália, que não compareceu à leitura da sentença.

Transtorno e dor

"Não tenho palavras para comentar uma sentença como esta. Depois de uma luta tão longa, os juízes não reconheceram a responsabilidade individual dos acusados. Um critério muito discutível. Vamos apresentar recurso", afirmou, desconcertada, à AFP e com lágrimas nos olhos Cristina Mihura, viúva do desaparecido ítalo-uruguaio Armando Bernardo Arnone Hernández.

"Por meu caso estou comovida, finalmente consegui uma condenação. Pelos demais, estou transtornada", reconheceu Aurora Melloni, uma das ítalo-uruguaias que iniciaram a batalha há mais de quinze anos para conseguir Justiça para seus familiares.

A primeira sentença na Europa sobre o brutal dispositivo usado para sequestrar opositores, torturá-los, executá-los ou entregá-los para seus países de origem foi recebida com um silêncio comovedor.

"O que mais nos surpreendeu foi a absolvição por insuficiência de provas de Tróccoli. Terei que ler a sentença com atenção", reconheceu a procuradora do caso Tiziana Cugini, que solicitou 27 condenações e uma absolvição.

Ao final de dois anos e 60 audiências, durante as quais compareceram testemunhas, especialistas, familiares e companheiros de prisão das vítimas, os juízes da Terceira Corte de Roma emitiram uma sentença polêmica.

Entre as mais indignadas com a sentença está a neta recuperada argentina Victoria Moyano Artigas.

"É uma vergonha o que está acontecendo. Não queremos mais impunidade. Viemos buscar respostas e pedir condenações para os genocidas. Estou indignada. Viajei milhares de quilômetros para obter uma condenação, porque meus pais estão desaparecidos. Mas vou continuar lutando", assegurou a argentina de 39 anos, testemunha no julgamento, após o veredito.

O vice-presidente uruguaio, Raúl Sendic, que viajou para a Itália para assistir a sentença, também manifestou sua decepção.

"Esperávamos outra coisa. Nos sentimos desapontados. Era uma possibilidade, sabíamos que podia acontecer. Não posso julgar o tribunal, nós reconhecemos a independência dos poderes. Não estou em condições de avaliar os elementos pelos quais chegaram a essa sentença. Temos a tranquilidade de ter feito todo o possível", declarou à imprensa.

"Entendo a dor, há muita dor acumulada ao longo dos anos. Conheço de perto a situação. Entendo a indignação e a dor, mas não posso julgar o tribunal que chegou a essa sentença", afirmou Sendic, filho do líder histórico dos Tupamaros, que cresceu vendo seu pai sendo preso durante a ditadura.

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