Ipea: salário baixo afasta jovens do mercado de trabalho
Segundo levantamento da entidade, mais da metade dos jovens considera os salários baixos
Da Redação
Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 12h19.
As quatro principais causas apontadas para os trabalhadores inativos não ingressarem no mercado de trabalho são: não necessidade de trabalhar, salário oferecido baixo, afazeres domésticos como empecilho e problemas de saúde. O diagnóstico foi feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e divulgado hoje. A percepção da falta de qualificação, um dos principais problemas apontados hoje pelos empregadores, ficou no final do ranking.
Pela pesquisa, percebe-se que a situação das pessoas com mais de 61 anos de idade e que estão fora do mercado é bem diferente das demais faixas etárias. Para esse grupo, pesam mais os problemas de saúde - apontados como principal obstáculo por 55% dos participantes do levantamento do Ipea. Para 44% deles, a saída do mercado de trabalho se dá sob a avaliação de que não há necessidade de trabalhar. No questionamento, os consultados podiam escolher várias alternativas.
No caso dos jovens inativos (que compreende pessoas entre 18 e 39 anos), o principal inibidor é o salário oferecido, considerado baixo por 53,63% dos participantes. O segundo motivo apontado por essa faixa etária foi o de não se ter com quem deixar idoso, criança ou deficiente físico - item apontado por 50,41% dos participantes. Em seguida vieram a avaliação de que há muitos afazeres domésticos (48,39%) e não ter a qualificação ou experiência exigidos (46,56%). O perfil para quem tem de 40 a 60 anos é mais parecido com o resultado global, segundo o Ipea.
"Podemos perceber que existem dois mundos diferentes", disse Bruno Amorim, técnico do Ipea que detalhou os números da pesquisa. O primeiro é o das pessoas mais velhas, que normalmente ou não precisam mais trabalhar ou têm problemas de saúde. O outro é o dos mais jovens, que ou só querem sair da inatividade se ganharem salário maior ou têm fatores limitantes que o desmotivam de sair da inatividade, como falta de qualificação, afazeres domésticos ou a obrigação de cuidar de outras pessoas.
"A saúde e o fato de não haver necessidade de trabalhar apontados pelos idosos é esperado, apesar de muitos acharem que precisam trabalhar", considerou Amorim. "Nos jovens, a situação é oposta: procuram espaço no mercado de trabalho, mas o peso do salário é importante para eles", comparou.
Sexo
A grande diferença entre homens e mulheres detectado na pesquisa do Ipea é que eles colocam os problemas de saúde como o item mais importante da causa para a inatividade, enquanto elas atribuem aos afazeres domésticos o principal impedimento. Outra diferença é a importância muito maior dada pelas mulheres para o motivo "não tenho com quem deixar criança/idoso/deficiente" (45% contra apenas 17% dos homens). Como semelhança, ambos os sexos dão importância relativamente alta aos motivos "não preciso trabalhar", "o salário oferecido é sempre muito baixo" e "nunca tenho a qualificação/experiência exigidos nas seleções de trabalho".
"Aparentemente, há grupo de mulheres que tem vontade de trabalhar, mas possui outros afazeres, outras responsabilidades que as impedem", observou Amorim. Já os homens, conforme o técnico, muitas vezes estão fora do mercado, porque esperam ganhar mais. "É preciso haver mais creches para cuidar das crianças com base nos resultados dos inativos", concluiu o pesquisador durante entrevista à imprensa.
Escolaridade
Quando os participantes da pesquisa do Ipea foram divididos pela escolaridade (com até primeiro grau completo e com pelo menos o segundo grau incompleto) notou-se que os dois grupos deram importância muito significativa aos motivos "não preciso trabalhar", "o salário oferecido é sempre muito baixo" e "afazeres domésticos", e uma importância pouco menor aos motivos "nunca tenho a qualificação/experiência exigidos" e "não tenho com quem deixar criança/idoso/deficiente".
A principal diferença entre as divisões é que os problemas de saúde são mais vezes apontados como obstáculo por quem tem menos escolaridade. Também pesaram mais para este grupo itens como distância do local de trabalho, falta de dinheiro para procurar trabalho, e o motivo "meu cônjuge não me deixa procurar trabalho".
Ainda no âmbito dos inativos, o instituto detectou que o valor mínimo que aceitariam receber para assumir um emprego é, em média, de R$ 800,12. Para os homens, essa média é de R$ 1.007,22 e, para as mulheres, de R$ 744,17. Na faixa etária de 40 a 60 anos, a diferença entre homens e mulheres inativos é ainda maior: R$ 1.332,05 contra R$ 716,90.