Vacina russa: Paraná deve receber resultados da eficácia em um mês
Em entrevista à EXAME, o presidente do Tecpar, Jorge Callado, diz que as etapas de pesquisa e de produção "não serão queimadas"
Clara Cerioni
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 18h05.
Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 19h24.
Se todos os testes forem positivos, o Instituto de Tecnologia do Paraná ( Tecpar ), em Curitiba, deve ser o local onde será fabricada a vacina Sputnik V, anunciada pelo governo russo como a primeira capaz de combater o coronavíru s.
Na quarta-feira, 12, o governo do Paraná e a Rússia assinaram um “memorando de entendimentos”, para abrir um caminho que deve envolver o compartilhamento de toda a pesquisa desenvolvida pelos russos, além da total transferência de tecnologia.
Diante da desconfiança da comunidade científica internacional e da falta de informações sobre as primeiras fases de testes da vacina, o presidente do Tecpar, Jorge Callado, diz que nenhuma etapa será deixada de lado e que todos os protocolos sanitários serão seguidos no Brasil. A previsão é que ela esteja disponível somente no segundo semestre de 2021.
Além da vacina russa, o governo do Paraná conversou com o embaixador da China no Brasil,QU Yuhui, paranegociar a produção da vacina do laboratório Sinopharm.
Leia a entrevista que Jorge Callado concedeu à EXAME, por telefone.
Quais as diferenças entre os contatos com o laboratório chinês e o russo?
Com a China nós temos um início de conversa. Com os russos é um memorando de entendimentos. Ainda estamos na fase das tratativas técnicas para fazer um convênio. Tem questões técnicas e científicas que ainda precisam ser definidas. O memorando abre uma conversa oficial e muito mais ampla.
Quais são os próximos passos?
Na semana que vem, provavelmente na segunda-feira, vamos instalar um comitê interinstitucional entre as partes. Ele está sendo formatado e a equipe terá membros do governo do estado do Paraná, Ministério da Saúde, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, vamos ter apoio da Sociedade Brasileira de Infectologia, além de integrantes do laboratório russo. Depois disso, vamos reunir todas as informações técnicas, com resultados dos testes, e submeter à Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o que deve ocorrer em 30 dias.
Por que a escolha da vacina russa?
O governo do Paraná não está fazendo um investimento financeiro neste momento. As tratativas são para que isso ocorra em forma de parceria, incluindo aspectos financeiros e econômicos. Sempre é bom ter mais uma alternativa. Até agora nós temos notícias de avanços mas nada totalmente confirmado. E os institutos científicos devem estar abertos sempre a novos projetos e a novas experiências. Nós esperamos que todos os resultados que estão em pesquisa no Brasil sejam promissores e o que país tenha várias alternativas de imunização.
Pouco se sabe ainda sobre os testes desta vacina russa. O Paraná teve acesso a alguma informação sobre o andamento da pesquisa?
Ainda não. E é claro que esses relatos são fundamentais para fechar qualquer tipo de acordo. Não vamos queimar etapas, vamos seguir todos os protocolos técnicos sanitários estabelecidos. Até chegar a fase de produção é um processo longo, então no meio do caminho pode ocorrer até a importação da vacina já pronta. Tudo isso pode durar um ano.
Quais foram as exigências que o Paraná fez para fechar este memorando?
Uma das condicionantes é ter a total transferência de tecnologia. O Brasil precisa ter autonomia na produção da vacina contra a covid-19.
Como o Tecpar está se preparando para produzir a vacina?
Hoje nenhum laboratório do Brasil está preparado para começar a produzir a vacina. O Tecpar já tem uma estrutura que pode ser reaproveitada. Nós precisamos de cerca de 80 milhões de reais em investimento na planta do instituto. Vamos buscar parceiros, como o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Ministério da Saúde e iniciativa privada.