Igreja simples é arma do Papa para frear perda de fiéis
Uma igreja simples, próxima dos pobres e do Evangelho, é o recurso do pontífice para tentar frear a perda de fiéis para as igrejas evangélicas no Brasil
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2013 às 12h26.
Rio de Janeiro - Uma igreja simples, próxima dos pobres e do Evangelho, é a arma do Papa Francisco para tentar frear a perda de fiéis para as igrejas evangélicas no Brasil, destino de sua primeira viagem internacional.
O ex-arcebispo de Buenos Aires, argentino e filho de imigrantes italianos, chega na segunda-feira ao país com o maior número de católicos do mundo (123 milhões), mas onde o número de evangélicos tem crescido fortemente nos últimos 30 anos.
A viagem do Papa Francisco não busca fazer proselitismo, mas seu desejo de aproximar os fiéis do Evangelho e de dar destaque ao lado social da Igreja pode diminuir a tendência segundo a qual o catolicismo brasileiro funciona como um "doador universal" para as outras famílias cristãs, especialmente as neo-pentecostais, dizem os especialistas.
"Limitar o crescimento evangélico não é seu objetivo (...) Francisco é um pastor, um Papa mais humilde (...) que recupera uma Igreja coerente com os valores fundamentais do Evangelho" e que se opõe "à Igreja do esplendor, da doutrina portadora da verdade" das últimas décadas, declarou à AFP Faustino Teixeira, professor de Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (sudeste) .
Durante seus sete dias no Brasil, o Papa visitará uma favela, um hospital para tratamento de dependentes químicos e estará em comunhão com 1,5 milhão de jovens peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
O pontífice quer se apresentar como o "Papa do povo, próximo das pessoas", de acordo com fontes ligadas à organização da JMJ.
"O Papa não vem fazer proselitismo contra outros grupos religiosos", a sua intenção é defender "o aspecto social da Igreja", é "voltar para a igreja original, para fortalecer a Igreja Católica", disse Ivan Esperança Rocha, historiador e especialista em religião da Universidade de São Paulo.
Cerca de 123 milhões de brasileiros se declararam católicos em 2010, ou seja, 64,6% da população contra 91,8% em 1970, de acordo com os últimos dados do censo.
Os evangélicos, por sua vez, não param de aumentar, apoiados por seus programas de televisão, rádio, redes sociais e inúmeros templos espalhados pelo país. Eles passaram de 5,2% em 1970 para 22,2% em 2010, totalizando 42,3 milhões de seguidores.
O discurso do Papa se opõe diretamente ao dos evangélicos, ressalta Rocha.
"O discurso evangélico está ligado aos resultados, à riqueza, ao sucesso, à igreja do bem-estar", enquanto o Papa defende os ensinamentos de São Francisco de Assis, o santo do século XIII que dedicou sua vida aos pobres, diz ele.
Além disso, as reivindicações atuais da juventude brasileira, que foi às ruas para exigir melhores serviços públicos e criticar a corrupção, "estão em harmonia com o discurso do Papa, que aqui se sente em casa", ressalta o historiador.
Milhões de brasileiros se dizem católicos, mas não são praticantes ou vão à missa ao mesmo tempo em que participam de sessões espíritas ou de Candomblé.
Este sincretismo é tolerado pela Igreja Católica, que não quer perder mais fiéis.
O censo de 2010 mostra que a diminuição do número de católicos é particularmente forte entre aqueles com menos de 30 anos.
Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de Ciências da Religião da Universidade Católica de Minas Gerais, afirma que isso ocorre porque "nos últimos 30 anos, a Igreja Católica tornou-se muito clerical, muito centralizada, uma igreja de padres onde os laicos não têm voz".
"Em vez de modernizar, a liturgia tem andado para trás, então é difícil ir à missa aos domingos" e os paroquianos estão ficando cada vez mais velhos, diz.
Pedro Ribeiro acredita que o catolicismo não conseguirá reverter a tendência de perda de fiéis, "mas pode ganhar forças se Francisco conseguir impulsionar as organizações de base da Igreja, as pastorais sociais e da juventude".
Rio de Janeiro - Uma igreja simples, próxima dos pobres e do Evangelho, é a arma do Papa Francisco para tentar frear a perda de fiéis para as igrejas evangélicas no Brasil, destino de sua primeira viagem internacional.
O ex-arcebispo de Buenos Aires, argentino e filho de imigrantes italianos, chega na segunda-feira ao país com o maior número de católicos do mundo (123 milhões), mas onde o número de evangélicos tem crescido fortemente nos últimos 30 anos.
A viagem do Papa Francisco não busca fazer proselitismo, mas seu desejo de aproximar os fiéis do Evangelho e de dar destaque ao lado social da Igreja pode diminuir a tendência segundo a qual o catolicismo brasileiro funciona como um "doador universal" para as outras famílias cristãs, especialmente as neo-pentecostais, dizem os especialistas.
"Limitar o crescimento evangélico não é seu objetivo (...) Francisco é um pastor, um Papa mais humilde (...) que recupera uma Igreja coerente com os valores fundamentais do Evangelho" e que se opõe "à Igreja do esplendor, da doutrina portadora da verdade" das últimas décadas, declarou à AFP Faustino Teixeira, professor de Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora (sudeste) .
Durante seus sete dias no Brasil, o Papa visitará uma favela, um hospital para tratamento de dependentes químicos e estará em comunhão com 1,5 milhão de jovens peregrinos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
O pontífice quer se apresentar como o "Papa do povo, próximo das pessoas", de acordo com fontes ligadas à organização da JMJ.
"O Papa não vem fazer proselitismo contra outros grupos religiosos", a sua intenção é defender "o aspecto social da Igreja", é "voltar para a igreja original, para fortalecer a Igreja Católica", disse Ivan Esperança Rocha, historiador e especialista em religião da Universidade de São Paulo.
Cerca de 123 milhões de brasileiros se declararam católicos em 2010, ou seja, 64,6% da população contra 91,8% em 1970, de acordo com os últimos dados do censo.
Os evangélicos, por sua vez, não param de aumentar, apoiados por seus programas de televisão, rádio, redes sociais e inúmeros templos espalhados pelo país. Eles passaram de 5,2% em 1970 para 22,2% em 2010, totalizando 42,3 milhões de seguidores.
O discurso do Papa se opõe diretamente ao dos evangélicos, ressalta Rocha.
"O discurso evangélico está ligado aos resultados, à riqueza, ao sucesso, à igreja do bem-estar", enquanto o Papa defende os ensinamentos de São Francisco de Assis, o santo do século XIII que dedicou sua vida aos pobres, diz ele.
Além disso, as reivindicações atuais da juventude brasileira, que foi às ruas para exigir melhores serviços públicos e criticar a corrupção, "estão em harmonia com o discurso do Papa, que aqui se sente em casa", ressalta o historiador.
Milhões de brasileiros se dizem católicos, mas não são praticantes ou vão à missa ao mesmo tempo em que participam de sessões espíritas ou de Candomblé.
Este sincretismo é tolerado pela Igreja Católica, que não quer perder mais fiéis.
O censo de 2010 mostra que a diminuição do número de católicos é particularmente forte entre aqueles com menos de 30 anos.
Pedro Ribeiro de Oliveira, professor de Ciências da Religião da Universidade Católica de Minas Gerais, afirma que isso ocorre porque "nos últimos 30 anos, a Igreja Católica tornou-se muito clerical, muito centralizada, uma igreja de padres onde os laicos não têm voz".
"Em vez de modernizar, a liturgia tem andado para trás, então é difícil ir à missa aos domingos" e os paroquianos estão ficando cada vez mais velhos, diz.
Pedro Ribeiro acredita que o catolicismo não conseguirá reverter a tendência de perda de fiéis, "mas pode ganhar forças se Francisco conseguir impulsionar as organizações de base da Igreja, as pastorais sociais e da juventude".