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Homenagens relembram um ano de solidariedade em Santa Maria

Não deixar que a tragédia caia no esquecimento é o norte no qual se agarram os parentes e amigos das 242 vítimas do incêndio na boate Kiss

Boate Kiss: a programação que precede o primeiro aniversário do incêndio apresenta o Congresso Internacional Novos Caminhos, que discutirá temas como segurança e saúde (REUTERS/Ricardo Moraes)
DR

Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2014 às 06h54.

Santa Maria - Durante os últimos doze meses, as 239 famílias das vítimas da tragédia da boate Kiss, na cidade gaúcha de Santa Maria, buscaram força no abraço dos amigos e na dedicação dos voluntários para encarar o ano que apenas começava.

Agora, juntos, preparam as homenagens e o coração para mais uma data marcante: 27 de janeiro de 2014.

A programação que precede o primeiro aniversário do incêndio que causou 242 mortes em janeiro de 2013 apresenta o Congresso Internacional Novos Caminhos, que discutirá temas como segurança e saúde; a exibição do documentário "Janeiro 27", produção da Accorde Filmes com estreia nacional prevista para o dia 25; e um culto ecumênico.

Não deixar que essa tragédia caia no esquecimento é o norte no qual se agarram os parentes e amigos das vítimas e é esse o objetivo da pequena tenda de toldo branco cravada ao lado da Praça Saldanha Marinho, a poucas quadras da boate: relembrar aos passantes diários do calçadão de Santa Maria os retratos da sua luta por justiça e segurança.

Ao final de um caminho de barracas que rodeiam o chafariz central da praça vendendo pastel, artesanato e cuias de chimarrão, a "tendinha da vigília", como é conhecida, ergue-se calada e discreta, adornada com fotos das vítimas e mensagens de saudade.

Em uma tarde abafada de sexta-feira, em que sol e chuva se revezam intermitentes ao longo das horas, cerca de 20 pessoas trocavam olhares cúmplices e silenciosos sob o toldo branco.

"Aqui é um lugar para receber conforto, é uma forma que as pessoas têm de se encontrar no centro da cidade, nem que seja por acaso", explica o professor de educação física Alexandre Segatto, de 28 anos, voluntário nas vigílias.

"Quando (a tragédia) era recente, alguns amigos poderiam ficar com receio de fazer uma visita, de encontrar os familiares em um momento emocional ruim. Aqui, eles viam que a pessoa estava na tendinha e vinham encontrá-la".


A barraca atende os familiares das 8h às 18h, de segunda a sábado. O voluntário, que também recebe as doações direcionadas às famílias carentes de vítimas, acompanha as vigílias há tanto tempo que abraçou a causa como se fosse sua. "Tem familiares aqui que eu considero minha família também. E o respeito, o carinho são mútuos", diz.

Apesar do jeito tímido e quieto, o jovem alto de cabelos longos se mostra solícito e não hesita em dar toda a assistência que lhe cabe: quando conta as histórias que viveu ali no último ano, deixa escapar o riso ao lembrar a missa que improvisou sob uma marquise no gélido inverno da cidade, quando um vendaval levou a tendinha pelos ares.

"Havia uma vigília marcada para uma família de Santa Catarina. Mas não tínhamos mais a tenda, tinha caído. E a família veio. Os caras vieram de tão longe e não tínhamos nem onde recebê-los de uma forma confortável, já pensou?", questiona o professor, indignado. A solução foi driblar a forte chuva e compor um círculo de cadeiras sob a marquise de uma agência bancária que fica em frente à praça.

Ninguém sabia que a vigília receberia a presença do presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), o empresário Adherbal Ferreira. "Quando ele apareceu, os familiares ficaram muito contentes em vê-lo. E por acaso, na mesma hora, passou um padre, conhecido do Seu Adherbal", relata o voluntário.

Comovido com a vigília improvisada, o padre acabou celebrando uma missa ali mesmo, sob a marquise. "A família amou. Estávamos tão temerosos, pensando que ia dar tudo errado e, no final, foi bonito. Tenho saudade daquela família", conclui Alexandre, pensativo.


Adherbal Ferreira também guarda o episódio com carinho. "Tenho fotos desse dia! Chovia muito", lembra com um sorriso o presidente da associação, que perdeu na tragédia a filha Jennefer, de 22 anos.

O Congresso Internacional Novos Caminhos, que será realizado entre os dias 25 e 27 de janeiro no Centro Universitário Franciscano, tem inscrições gratuitas e deve debater questões técnicas e prestar homenagem às vítimas.

Para Jonathan Ferreira, 29 anos, filho de Adherbal, o evento é uma forma de alentar os familiares neste momento delicado. "Acho que vai ser excelente. Reunir essas pessoas durante três dias, na data que marca o primeiro aniversário, com diálogo, conversas, vai ajudar com que as famílias se fortaleçam. Imagina passar essa data sozinho?"

Um dos palestrantes do congresso é o cineasta Luiz Alberto Cassol, que dirigiu o filme "Janeiro 27" em parceria com o diretor Paulo Nascimento.

A Praça Saldanha Marinho, a mesma que testemunhou a missa debaixo da marquise na metade do ano, será o palco do culto ecumênico que encerrará o programa de homenagens às vítimas. Dessa vez, sem que improvisos façam falta.

A celebração, organizada por uma comissão da AVTSM, fará ecoar a batida de 242 percussões de tambor e tarol a partir das 20h do dia

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Agora, juntos, preparam as homenagens e o coração para mais uma data marcante: 27 de janeiro de 2014.

A programação que precede o primeiro aniversário do incêndio que causou 242 mortes em janeiro de 2013 apresenta o Congresso Internacional Novos Caminhos, que discutirá temas como segurança e saúde; a exibição do documentário "Janeiro 27", produção da Accorde Filmes com estreia nacional prevista para o dia 25; e um culto ecumênico.

Não deixar que essa tragédia caia no esquecimento é o norte no qual se agarram os parentes e amigos das vítimas e é esse o objetivo da pequena tenda de toldo branco cravada ao lado da Praça Saldanha Marinho, a poucas quadras da boate: relembrar aos passantes diários do calçadão de Santa Maria os retratos da sua luta por justiça e segurança.

Ao final de um caminho de barracas que rodeiam o chafariz central da praça vendendo pastel, artesanato e cuias de chimarrão, a "tendinha da vigília", como é conhecida, ergue-se calada e discreta, adornada com fotos das vítimas e mensagens de saudade.

Em uma tarde abafada de sexta-feira, em que sol e chuva se revezam intermitentes ao longo das horas, cerca de 20 pessoas trocavam olhares cúmplices e silenciosos sob o toldo branco.

"Aqui é um lugar para receber conforto, é uma forma que as pessoas têm de se encontrar no centro da cidade, nem que seja por acaso", explica o professor de educação física Alexandre Segatto, de 28 anos, voluntário nas vigílias.

"Quando (a tragédia) era recente, alguns amigos poderiam ficar com receio de fazer uma visita, de encontrar os familiares em um momento emocional ruim. Aqui, eles viam que a pessoa estava na tendinha e vinham encontrá-la".


A barraca atende os familiares das 8h às 18h, de segunda a sábado. O voluntário, que também recebe as doações direcionadas às famílias carentes de vítimas, acompanha as vigílias há tanto tempo que abraçou a causa como se fosse sua. "Tem familiares aqui que eu considero minha família também. E o respeito, o carinho são mútuos", diz.

Apesar do jeito tímido e quieto, o jovem alto de cabelos longos se mostra solícito e não hesita em dar toda a assistência que lhe cabe: quando conta as histórias que viveu ali no último ano, deixa escapar o riso ao lembrar a missa que improvisou sob uma marquise no gélido inverno da cidade, quando um vendaval levou a tendinha pelos ares.

"Havia uma vigília marcada para uma família de Santa Catarina. Mas não tínhamos mais a tenda, tinha caído. E a família veio. Os caras vieram de tão longe e não tínhamos nem onde recebê-los de uma forma confortável, já pensou?", questiona o professor, indignado. A solução foi driblar a forte chuva e compor um círculo de cadeiras sob a marquise de uma agência bancária que fica em frente à praça.

Ninguém sabia que a vigília receberia a presença do presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), o empresário Adherbal Ferreira. "Quando ele apareceu, os familiares ficaram muito contentes em vê-lo. E por acaso, na mesma hora, passou um padre, conhecido do Seu Adherbal", relata o voluntário.

Comovido com a vigília improvisada, o padre acabou celebrando uma missa ali mesmo, sob a marquise. "A família amou. Estávamos tão temerosos, pensando que ia dar tudo errado e, no final, foi bonito. Tenho saudade daquela família", conclui Alexandre, pensativo.


Adherbal Ferreira também guarda o episódio com carinho. "Tenho fotos desse dia! Chovia muito", lembra com um sorriso o presidente da associação, que perdeu na tragédia a filha Jennefer, de 22 anos.

O Congresso Internacional Novos Caminhos, que será realizado entre os dias 25 e 27 de janeiro no Centro Universitário Franciscano, tem inscrições gratuitas e deve debater questões técnicas e prestar homenagem às vítimas.

Para Jonathan Ferreira, 29 anos, filho de Adherbal, o evento é uma forma de alentar os familiares neste momento delicado. "Acho que vai ser excelente. Reunir essas pessoas durante três dias, na data que marca o primeiro aniversário, com diálogo, conversas, vai ajudar com que as famílias se fortaleçam. Imagina passar essa data sozinho?"

Um dos palestrantes do congresso é o cineasta Luiz Alberto Cassol, que dirigiu o filme "Janeiro 27" em parceria com o diretor Paulo Nascimento.

A Praça Saldanha Marinho, a mesma que testemunhou a missa debaixo da marquise na metade do ano, será o palco do culto ecumênico que encerrará o programa de homenagens às vítimas. Dessa vez, sem que improvisos façam falta.

A celebração, organizada por uma comissão da AVTSM, fará ecoar a batida de 242 percussões de tambor e tarol a partir das 20h do dia

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