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Head do Google for Education: a educação não voltará mais ao 100% offline

À EXAME, Daniel Cleffi avalia que plataformas de educação à distância foram aliadas no processo de suspensão de aulas — e essa transformação veio para ficar

Cleffi: "América Latina foi uma das regiões que mais ampliaram a oferta das ferramentas de educação digital" (Google for Education/Divulgação)

Cleffi: "América Latina foi uma das regiões que mais ampliaram a oferta das ferramentas de educação digital" (Google for Education/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 3 de julho de 2020 às 18h30.

Última atualização em 6 de julho de 2020 às 09h36.

A pandemia do novo coronavírus acelerou uma importante transformação digital para o setor educacional que não deve mais voltar a ter um modelo focado apenas no ensino presencial. Essa é a avaliação de Daniel Cleffi, head do Google for Education na América Latina.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Cleffi diz que a plataforma foi uma importante aliada dos setores públicos e privados de educação para garantir a continuidade das aulas, mesmo com as escolas fechadas.

Apesar de não divulgar os números do crescimento dos acessos, ele revela que a América Latina foi uma das regiões que mais ampliaram a oferta das ferramentas de educação digital. Para o retorno das aulas, que ainda não têm data definida, a plataforma quer apoiar as escolas a adotar o ensino híbrido, que mescla técnicas presenciais e digitais.

Enquanto não houver uma imunização da covid-19, esse modelo deve ser o mais utilizado para tentar recuperar as perdas educacionais desse período e seus reflexos econômicos, como mostrou reportagem desta quinzena da EXAME Todos perdem — uns mais que outros.

A seguir leia os principais trechos da entrevista de Daniel Cleffi:

Quais as mudanças sobre a educação online vocês perceberam durante a pandemia?

Vamos pensar juntos sobre o que seriam os pilares principais da implementação de um projeto de ensino à distância, que foi o que as escolas tiveram de fazer de um dia para o outro. Eu digo que esses pilares são: um que geralmente nós [do Google for Education] não nos metemos, que é a necessidade de conectividade na casa das crianças que terão aulas online. Outro pilar são os dispositivos que os alunos precisam ter, porque não basta apenas ter acesso à internet, mas tem de ter um computador ou um celular para acessar a tecnologia que for disponibilizada. Tem um terceiro pilar chamado plataforma de ensino, e esse é justamente a nossa área que é o Google Classroom, especificamente. Tem também um pilar de conteúdo, ou seja, o conteúdo didático e, claro, o pilar de capacitação dos profissionais.

Contextualizado os pilares, o que fizemos na pandemia? Nós do Google for Education basicamente apoiamos o Brasil na implementação dessa plataforma tecnológica, muito focada no Google Classroom e Google Meet. Trabalhamos com diversos estados em projetos de larga escala, projetos públicos. Também apoiamos as redes privadas, chegando até aquelas escolas pequenas

Nossa plataforma é sem custo tanto para governos quanto para redes privadas. Depois de disponibilizada a plataforma, o segundo passo foi colocar no ar uma série de treinamentos digitais, capacitação para professores e educadores sobre como implementar nossa tecnologia. Também disponibilizamos um hub central de informações, que é o Teach From Home, ou "Ensine Em Casa." Isso se transformou em um repositório central, com diversas dicas, recursos e truques para os profissionais.

Por fim, nós fizemos parcerias para tentar também impactar na disponibilidade de conteúdo educacional dentro dessa plataforma de forma aberta. Nisso, existe um projeto com a Fundação Lemann.

Vocês têm estimativas de quantas redes impactaram nesse período?

Nós não abrimos números regionais, mas uma curiosidade é que a América Latina foi uma região muito participativa nesse crescimento. Nós nos digitalizamos, com certeza. Ou, como eu costumo dizer, aceleramos o processo de transformação digital da educação no Brasil de uma forma exponencial.

Em relação à procura dos setores públicos e privado. Qual buscou mais?

Em relação ao setor público, há formas e formas de mensurar isso. Se for por número de alunos e professores, o setor público teve mais procura. Mas acredito que construímos uma história no Brasil, em que o Google for Education já vinha sendo um negócio com diversas referências públicas.

Então, eu acredito que esse é um momento em que o tomador de decisão de tecnologia educacional tem de se sentir seguro. E eu sinto que a gente virou, de certa forma, um sinônimo dessa segurança pela trajetória e pelas referências do setor público.

Houve muita dificuldade para as escolas conseguirem implementar o ensino à distância? Vocês identificaram resistências?

Tivemos pouca resistência porque, na verdade, não havia muita opção. Nesse sentido, eu acredito que foi favorável à evolução da educação no Brasil. Muitos viram que talvez houvesse um mito, que talvez as pessoas estivessem com medo de algo, acreditando que era muito mais difícil. Esse é um ponto.

Segundo é que percebo que existe uma maturidade bacana que vimos em diversos projetos em que educadores perceberam que aula online não é replicar a aula offline em meios digitais. Temos observado projetos em que essas adaptações e ajustes estão sendo feitos.

Se o Google for Education é gratuito, como vocês geram renda?

Existe uma oferta muito ampla de serviços no Google for Education, com várias soluções gratuitas, mas nós temos uma oferta recente de uma versão premium, com algumas funcionalidades adicionais. Mas a ideia do Google não é monetizar em cima desse serviço, porque essa conta não fecha.

O que nós fizemos na pandemia, em que algumas dessas modalidades eram importantes para esse momento, foi liberar o acesso de graça a ferramentas dessa versão premium até setembro.

Na sua visão, essa mudança do ensino, com mais educação à distância, veio para ficar?

Sim, é uma transformação. E eu vou te dizer por quê: eu acredito que a gente evoluiu nesse processo de transformação digital. Existia, e ainda existe, a sala de aula offline e o mundo online, mas a experiência de educação que os alunos todos estão tendo agora, ou grande parte, é digital. O digital engaja mais, dá mais possibilidades, mais eficiência, permite a colaboração, a coautoria.

Então, imagina que o digital traz uma série de possibilidades novas, possibilidades muito mais engajadoras. Voltar para a sala de aula offline vai ser um desafio e acredito que as pessoas não vão querer abandonar esses recursos todos, esse mundo novo. Então o que eu vejo é que a tecnologia vai estar mais presente na escola, ela vai coexistir mais.

Quais são os planos para o futuro do Google for Education no Brasil?

O que fazemos, você deve ter percebido, mas vale dizer que não somos a solução completa do EAD, nós somos uma parte, somos um meio. Nossa frente é a tecnologia, e dentro do nosso compromisso continuaremos a evoluir para tornar a educação mais eficiente, mais inteligente.

Vale falar que essa nova escola, onde o computador está dentro da sala, é uma escola em que os alunos aprendem trabalho em grupo, aprendem por projetos, aprendem por desafios, vão pesquisar, usar a criatividade, solucionar problemas, exercer a liderança, a persistência... E essas palavras que estou te falando são as tais das competências do século 21, que nós estamos ajudando a construir.

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