Há dificuldade na tramitação do projeto de lei anticrime, admite Moro
Entretanto, Moro acredita que algumas medidas podem avançar por meio de ações do poder Executivo
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de outubro de 2019 às 11h28.
Última atualização em 11 de outubro de 2019 às 14h10.
O ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro , admitiu nesta sexta-feira, 11, que tem visto "alguma dificuldade" em levar adiante no Congresso o projeto anticrime, que ele apresentou no início do governo Jair Bolsonaro como um conjunto de medidas para combater a criminalidade violenta e a corrupção.
"Apresentamos o projeto no início como uma mensagem clara à população de que estamos aqui e compartilhamos essa solução com o Congresso, mas estamos vendo alguma dificuldade. Houve uma clara priorização da reforma da Previdência, que é compreensível. Mas temos a expectativa de avançar nessa pauta, que é extremamente importante", disse o ministro, em discurso no Fórum de Investimentos Brasil 2019, na Capital.
Moro acredita, no entanto, que é possível avançar nesse tema por meio de ações do poder Executivo. "Mas não ignoramos a importância do Legislativo", afirmou. Ele citou alguns pontos do projeto, como estimular que pessoas condenadas se desvinculem de facções criminosas e que todas as polícias trabalhem juntas com o compartilhamento de informações. "Precisamos integrar mais as ações das nossas instituições", disse.
Moro também falou sobre a Medida Provisória 885, aprovada nesta quinta-feira, 10, no Senado e que facilita a venda de bens apreendidos do tráfico de drogas. Segundo ele, a medida dá mais agilidade para a venda de bens e permitirá que o dinheiro seja usado pelo setor público de modo imediato, no combate ao próprio tráfico e no atendimento de dependentes químicos.
O ministro também comentou que a MP permitirá a contratação de engenheiros temporários para penitenciárias, para suprir falta de projetos nessa área. O ministro disse ainda que não concorda com a tese de abrir portas das cadeias para liberar presos.
"Licença para matar"
O ministro da Justiça também rechaçou nesta sexta-feira, 11, as críticas de que o projeto anticrime dê às forças de segurança uma "licença para matar". "Não existe qualquer espécie de licença para matar nesse projeto. A norma que mais questionam que é a da legítima defesa, é uma cópia de dispositivos dos códigos penais alemão e português. E ninguém chama esses projetos de fascistas", rebateu.
Moro acrescentou ainda que, muitas vezes, essas críticas vêm de pessoas que não querem avançar no combate à criminalidade, em especial, no combate à corrupção. "São pessoas que vivem nesse sistema e se dão bem dentro desse sistema", disse.
Moro também comentou sobre as denúncias de maus tratos a presos no Pará. Segundo ele, se ficar comprovado, haverá punição. "Se for comprovada violação daremos a devida punição", destacou, argumentando, contudo que ainda não há procedência dessas informações. "Temos de apurar toda e qualquer denúncia, não parece que as apresentadas são de fato corretas", emendou.
Presídios privados
Sergio Moro também defendeu as parcerias público-privadas no sistema carcerário para uma plateia de investidores. "O setor privado pode funcionar bem na construção e administração de presídios. A grande dificuldade é encontrar modelo adequado para isso", disse Moro.
Ainda sobre as PPPs, Moro ponderou que, mesmo com a administração empresarial, agentes públicos poderiam permanecer em presídios privados. "O controle da segurança pode ser feito pela iniciativa privada, mas a presença do Estado precisa continuar", observou Moro.
O ministro defendeu que as PPPs podem também servir para a reintegração dos presos na sociedade e defendeu a necessidade de oferecer trabalho para reinserção social. "Temos muito empresários que se dispuseram a construir barracões industriais em regiões de penitenciárias. Precisamos oferecer oportunidades para empresários para que possam auxiliar mas também auferir lucro com a operação", afirmou Moro.