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Green, da Univ. Brown: a imagem do Brasil em xeque  

Diante do impeachment de Dilma Rousseff e da ascensão de Michel Temer à presidência, como fica a imagem do Brasil no exterior? A democracia sai fragilizada ou fortalecida do processo? EXAME Hoje entrevistou o professor James Green, diretor da Brazil Initiative na Universidade Brown e ex-presidente da Associação de Estudos Brasileiros, nos Estados Unidos. Para […]

JAMES GREEN: se Temer continuar os processos de investigação que ajudaram a tirar Dilma do poder pode ter seu governo reconhecido  /

JAMES GREEN: se Temer continuar os processos de investigação que ajudaram a tirar Dilma do poder pode ter seu governo reconhecido /

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Da Redação

Publicado em 31 de agosto de 2016 às 20h51.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h01.

Diante do impeachment de Dilma Rousseff e da ascensão de Michel Temer à presidência, como fica a imagem do Brasil no exterior? A democracia sai fragilizada ou fortalecida do processo? EXAME Hoje entrevistou o professor James Green, diretor da Brazil Initiative na Universidade Brown e ex-presidente da Associação de Estudos Brasileiros, nos Estados Unidos. Para ele, a imagem do país depende da continuidade dos processos e das investigações da Lava-Jato, para que se concretize uma limpeza política no país e não fique a imagem de perseguição a um determinado governo.

Como é a imagem de Michel Temer fora do Brasil?
A imagem de Temer foi construída a partir de sua indicação de ministros, que pegou muito mal no exterior, entre especialistas que acompanham o Brasil há muitos anos e entre o público geral. O grupo de ministros, todos homens, brancos e aliados políticos, foi mal recebido. Essa foi uma primeira impressão. A dúvida agora é se ele vai conseguir apoio popular para governar efetivamente. Outra questão é o que vai acontecer com programas sociais brasileiros, que foram implementados ao longo dos governos Lula e Dilma. Será que esses programas continuarão, serão reduzidos ou eliminados? São essas as principais questões que as pessoas que não são especialistas em Brasil me perguntam para entender a realidade brasileira.

Ele será visto como um redentor ou como herdeiro de um governo corrupto que ele ajudou a criar?
A visão de corrupto de Temer depende muito da Lava-Jato. Se a operação continuar, e for realmente contra todos os partidos e políticos, parece que ele e seus aliados terão muitos problemas. Afinal, muitos partidos e pessoas estavam envolvidos nos escândalos. Creio que as delações premiadas vão confirmar isso. Abriu-se uma caixa de Pandora. Será que aqueles que assumem o poder agora podem colocar de volta nesta caixa as acusações contra os diversos partidos políticos? Vai ser muito difícil. Depende muito da maneira como a operação Lava-Jato vai seguir. Se Temer seguir apoiando as investigações, ganha legitimidade. Se não, Temer perde.

Jornais internacionais falam sobre como essa mudança de governo não muda o Brasil, mas traz o retorno de uma política conservadora. O que podemos esperar do Brasil?
Se um setor do congresso, conhecido por seu conservadorismo em questões sociais e culturais, fizer alianças com o PMDB e com o novo governo, eu me pergunto o que vai acontecer com pautas progressistas, como ações afirmativas, movimento LGBT, direitos das mulheres. Esses programas serão implementados neste novo governo? 


Mas o governo Dilma congelou o Bolsa Família, que acabou sendo deteriorado pela inflação; a pauta LGBT praticamente não teve avanços, tampouco a luta por direitos das mulheres. Então, o governo Dilma já não avançava nessas questões. É de se esperar o mesmo do governo Temer?
Por vários motivos, o governo Dilma não avançou nessas questões. O Brasil foi afetado pela crise que aconteceu nos Estados Unidos. Houve a implementação de uma série de programas sociais que não acompanhou a entrada financeira de investimentos e de capital. O grande outro erro de Dilma foi de confiar nos seus aliados no congresso, fazer alianças com setores que realmente não defendiam o programa histórico do PT. Cedeu sobre a questão do aborto, cedeu sobre a questão do Kit Gay, fez acordos e conciliações com setores mais conservadores e com uma política econômica muito mais à direita. E esses agentes políticos a traíram. O que vai acontecer com a esquerda brasileira agora é uma avaliação do passado, das alianças, dos acordos, das questões programáticas, para repensar como se faz política no Brasil.



Apoiadores do governo Dilma afirmam tratar-se de um golpe. A mídia estrangeira, por outro lado, é bem reticente em concordar com esse discurso. Como o impeachment vai ser lembrado no exterior?
É sempre complicado prever o futuro. Mas creio que Dilma pode sair digna. O fato de ela não ter perdido seus direitos políticos é muito significativo. Depois de anos, quando começarem a ser caçados um número de deputados e senadores que votaram a favor do impeachment, envolvidos na corrupção, na Lava-Jato, vai pairar a dúvida se o impeachment não era para tentar deter a operação. Dilma vai ser lembrada como uma pessoa ética, que não foi bem sucedida em fazer o que estava a seu alcance para melhorar o país. 


O impeachment fortalece a imagem do Brasil ou o marca como um país de instabilidade?
Depende de o que vai acontecer agora. Se for a primeira etapa de uma limpeza política, é possível que seja algo positivo para o país. Se for uma maneira de tirar uma presidente e um projeto de governo sem ir adiante, contra a corrupção, vai ser um dano enorme para a política brasileira.

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