O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Jorge Messias no início do governo (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 14h26.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve se reunir a portas fechadas com o advogado-geral da União, Jorge Messias, nos próximos dias para traçar uma estratégia a fim de quebrar as resistências à indicação do seu nome ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O primeiro passo para aparar as arestas com o Senado Federal foi dado no domingo, 30. De acordo com duas fontes próximas ao petista ouvidas pela Exame, foi por ordem do chefe do Executivo que a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), escreveu um texto em que tenta amenizar a crise entre os Poderes e desmente qualquer negociação por cargos com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para aprovar o indicado ao Supremo.
A afirmação de Gleisi foi uma resposta à nota em que Alcolumbre acusa “setores do Executivo” de tentar criar a impressão de que “interesse fisiológico” estaria por trás da divergência entre os Poderes. A crise foi desencadeada após Lula preterir o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para o STF.
Segundo Gleisi, o Palácio do Planalto “jamais” considerou “rebaixar a relação institucional com o presidente do Senado a qualquer espécie de fisiologismo”. A determinação de Lula à base aliada é que seja evitado o discurso de que os senadores resistem a Messias como forma de chantagem em busca de cargos.
A ordem é procurar uma aproximação nos bastidores para entender maneiras de contemplar os parlamentares e obter maioria de votos para o escolhido de Lula para o Supremo. A reunião com Messias deve ser no mesmo tom.
A estratégia, aliás, já começou na última semana. Pouco depois de o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) anunciar apoio ao escolhido para o Supremo, Lula sancionou a lei que estabelece o regime tributário especial para produtos que entram em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela.
Um aliado de Lula resume a ofensiva em prol de Messias em duas frentes: negociações no atacado com todos potenciais votos favoráveis, como a que ocorreu com Mecias e, no varejo, uma aproximação com os caciques do Senado.
No segundo caso, o Planalto admite ceder postos chaves do Executivo aos senadores mais influentes, apesar da ordem de manter as articulações sob total sigilo, sem vazamentos, para não dar azo à tese de fisiologismo de Alcolumbre e aliados.
No governo, a leitura é que será necessário negociar cargos como as presidências do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste. Além disso, para esvaziar o discurso de que Lula só indicou para o STF pessoas de sua extrema confiança e sem diálogo com os senadores, a ideia é aceitar indicações de parlamentares para cargos de direção em agências reguladoras e órgãos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
As articulações devem se intensificar nesta semana, uma vez que o governo a sabatina de Messias foi marcada para 10 de dezembro. Este, aliás, foi um dos motivos do entrevero entre governo e Alcolumbre. Isso porque, o Planalto interpretou o fato de o presidente do Senado ter marcado a sabatina para uma data tão próxima como uma estratégia para derrotá-lo.
O Executivo, porém, deu o troco: apesar da indicação, ainda não foi enviada a mensagem ao Congresso com o nome de Messias, etapa fundamental para votação da escolha do presidente.
"Feita a escolha pelo Presidente da República e publicada no Diário Oficial da União, causa perplexidade ao Senado que a mensagem escrita ainda não tenha sido enviada, o que parece buscar interferir indevidamente no cronograma estabelecido pela Casa, prerrogativa exclusiva do Senado Federal", afirmou Alcolumbre em nota no domingo. O governo não deve esticar a corda e a mensagem deve ser enviada, o que assegura a sabatina na próxima semana. Até lá, porém, muita negociação ocorrerá.