Governo é obrigado a mudar estratégia sobre CPI
Tática do Palácio do Planalto consiste em jogar todas as fichas na criação de uma segunda CPI, mista, formada por deputados e senadores
Da Redação
Publicado em 31 de março de 2014 às 21h31.
Brasília - Cinco dias após anunciar que pretendia ampliar o foco da CPI da Petrobras para desgastar a oposição, o governo foi obrigado a recuar dessa estratégia. Agora, a tática do Palácio do Planalto consiste em jogar todas as fichas na criação de uma segunda CPI, mista, formada por deputados e senadores, para investigar a formação de cartel no Metrô de São Paulo - plano que atinge o PSDB - e usar de manobras regimentais para retardar os trabalhos da comissão da Petrobras.
Se o PMDB se rebelar e criar mais dificuldades para o governo no Congresso, a Secretaria dos Portos, atualmente ocupada pelo técnico Antônio Henrique Silveira, pode entrar na negociação para apaziguar o aliado. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), garantiu que lerá amanhã o requerimento para a instalação da CPI da Petrobras, que deve apurar, entre outras coisas, a polêmica compra da refinaria de Pasadena (EUA), por parte da estatal.
O Planalto dá essa CPI como "favas contadas" desde a semana passada, mas apenas nesta segunda-feira ministros se encontraram com líderes da base aliada no Senado para discutir o assunto. A ideia de incluir em uma mesma CPI, no caso a da Petrobras, a investigação de denúncias do cartel dos trens e de irregularidades envolvendo o Porto de Suape, em Pernambuco, foi considerada "uma estupidez" até por integrantes do PT.
Embora o plano do governo continue sendo o de embaralhar o jogo dos adversários e atingir os dois desafiantes da presidente Dilma Rousseff na eleição - o senador Aécio Neves, do PSDB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB)-, ministros foram informados de que o Planalto não teria apoio necessário para o que já se chama nos bastidores de "CPI Combo". A estratégia, então, é investir na criação de uma segunda CPI, desta vez para investigar somente as denúncias atingindo tucanos, e usar os holofotes dessa comissão para esvaziar a outra, a da Petrobrás.
Reunião
O "corpo mole" na CPI da Petrobras foi acertado hoje em reunião no Planalto. Os governistas planejam usar o máximo do tempo possível até mesmo para indicar os integrantes da comissão, que deve ser presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) ou por seu colega João Alberto (PMDB-MA). Enquanto isso, em sintonia com o Planalto, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) contabiliza 150 assinaturas para a criação da comissão que pretende vasculhar eventuais falcatruas em licitações de trens e Metrô em São Paulo durante administrações do PSDB. Para criar uma CPI mista, formada por deputados e senadores, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado.
"Até quarta-feira acabamos de coletar as assinaturas na Câmara e aí encaminharemos para o Senado. O nosso foco é investigar a formação de cartel e corrupção no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)", disse Teixeira. Três senadores da base aliada traíram o governo e estão apoiando o pedido de criação da CPI da Petrobras.
O novo ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, que assume amanhã a articulação política do governo, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ainda tentam fazer com que eles recuem, mas admitem que a tarefa é quase impossível. "Não retiro minha assinatura nem mesmo se a presidente Dilma pedir. Vou ser candidato a governador de Minas", afirmou Clésio Andrade (PMDB-MG), que não conta com o aval do PT no Estado. "Eu mesmo já disse à presidente: 'Comigo você vai ouvir muitos sim, mas também tenha certeza de que ouvirá muitos nãos", emendou Eduardo Amorim (PSC-SE). "Nem adianta me procurarem. Apoio a CPI", insistiu Sérgio Petecão (PSD-AC).
Oposição
Aécio e Eduardo Campos conversaram novamente nesta segunda, por telefone, e combinaram de repetir o discurso em defesa da CPI da Petrobras. "O governo tem maioria e pode apresentar requerimentos de CPI sobre qualquer assunto. Que faça as investigações, porque não as tememos. Mas querer amordaçar a CPI da Petrobras, para que ela não investigue nada, com esse tipo de ameaça, não vai nos amedrontar. Não cederemos a esse tipo de chantagem", atacou Aécio.
Na semana passada, Campos disse para Aécio que, se o governo continuasse com a tática de transformar a CPI da Petrobras em uma "CPI do Fim do Mundo", na tentativa de se "vingar" da oposição, ele também tinha mais denúncias contra o governo para incluir no rol das investigações. "Podemos, por exemplo, investigar o que ocorre na Transpetro, e não apenas os negócios da Petrobras", afirmou Campos. A Transpetro é controlada por Sérgio Machado (PMDB), um aliado de Renan Calheiros. (Colaboraram Débora Alvares e Ricardo Brito)
Brasília - Cinco dias após anunciar que pretendia ampliar o foco da CPI da Petrobras para desgastar a oposição, o governo foi obrigado a recuar dessa estratégia. Agora, a tática do Palácio do Planalto consiste em jogar todas as fichas na criação de uma segunda CPI, mista, formada por deputados e senadores, para investigar a formação de cartel no Metrô de São Paulo - plano que atinge o PSDB - e usar de manobras regimentais para retardar os trabalhos da comissão da Petrobras.
Se o PMDB se rebelar e criar mais dificuldades para o governo no Congresso, a Secretaria dos Portos, atualmente ocupada pelo técnico Antônio Henrique Silveira, pode entrar na negociação para apaziguar o aliado. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), garantiu que lerá amanhã o requerimento para a instalação da CPI da Petrobras, que deve apurar, entre outras coisas, a polêmica compra da refinaria de Pasadena (EUA), por parte da estatal.
O Planalto dá essa CPI como "favas contadas" desde a semana passada, mas apenas nesta segunda-feira ministros se encontraram com líderes da base aliada no Senado para discutir o assunto. A ideia de incluir em uma mesma CPI, no caso a da Petrobras, a investigação de denúncias do cartel dos trens e de irregularidades envolvendo o Porto de Suape, em Pernambuco, foi considerada "uma estupidez" até por integrantes do PT.
Embora o plano do governo continue sendo o de embaralhar o jogo dos adversários e atingir os dois desafiantes da presidente Dilma Rousseff na eleição - o senador Aécio Neves, do PSDB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB)-, ministros foram informados de que o Planalto não teria apoio necessário para o que já se chama nos bastidores de "CPI Combo". A estratégia, então, é investir na criação de uma segunda CPI, desta vez para investigar somente as denúncias atingindo tucanos, e usar os holofotes dessa comissão para esvaziar a outra, a da Petrobrás.
Reunião
O "corpo mole" na CPI da Petrobras foi acertado hoje em reunião no Planalto. Os governistas planejam usar o máximo do tempo possível até mesmo para indicar os integrantes da comissão, que deve ser presidida pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR) ou por seu colega João Alberto (PMDB-MA). Enquanto isso, em sintonia com o Planalto, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) contabiliza 150 assinaturas para a criação da comissão que pretende vasculhar eventuais falcatruas em licitações de trens e Metrô em São Paulo durante administrações do PSDB. Para criar uma CPI mista, formada por deputados e senadores, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado.
"Até quarta-feira acabamos de coletar as assinaturas na Câmara e aí encaminharemos para o Senado. O nosso foco é investigar a formação de cartel e corrupção no Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM)", disse Teixeira. Três senadores da base aliada traíram o governo e estão apoiando o pedido de criação da CPI da Petrobras.
O novo ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, que assume amanhã a articulação política do governo, e o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ainda tentam fazer com que eles recuem, mas admitem que a tarefa é quase impossível. "Não retiro minha assinatura nem mesmo se a presidente Dilma pedir. Vou ser candidato a governador de Minas", afirmou Clésio Andrade (PMDB-MG), que não conta com o aval do PT no Estado. "Eu mesmo já disse à presidente: 'Comigo você vai ouvir muitos sim, mas também tenha certeza de que ouvirá muitos nãos", emendou Eduardo Amorim (PSC-SE). "Nem adianta me procurarem. Apoio a CPI", insistiu Sérgio Petecão (PSD-AC).
Oposição
Aécio e Eduardo Campos conversaram novamente nesta segunda, por telefone, e combinaram de repetir o discurso em defesa da CPI da Petrobras. "O governo tem maioria e pode apresentar requerimentos de CPI sobre qualquer assunto. Que faça as investigações, porque não as tememos. Mas querer amordaçar a CPI da Petrobras, para que ela não investigue nada, com esse tipo de ameaça, não vai nos amedrontar. Não cederemos a esse tipo de chantagem", atacou Aécio.
Na semana passada, Campos disse para Aécio que, se o governo continuasse com a tática de transformar a CPI da Petrobras em uma "CPI do Fim do Mundo", na tentativa de se "vingar" da oposição, ele também tinha mais denúncias contra o governo para incluir no rol das investigações. "Podemos, por exemplo, investigar o que ocorre na Transpetro, e não apenas os negócios da Petrobras", afirmou Campos. A Transpetro é controlada por Sérgio Machado (PMDB), um aliado de Renan Calheiros. (Colaboraram Débora Alvares e Ricardo Brito)