Governo desiste de reeditar regras de indulto e vai aguardar STF
Membros do Ministério Público reagiram ao decreto de indulto como uma ameaça aos efeitos das operações contra corrupção
Reuters
Publicado em 29 de dezembro de 2017 às 15h39.
BRASÍLIA (Reuters) - O governo federal desistiu nesta sexta-feira de reeditar regras de indulto excluídas de um decreto do presidente Michel Temer por decisão liminar da presidente do Supremo Tribunal Federal ( STF ), ministra Cármen Lúcia , e vai aguardar o pronunciamento definitivo da Corte sobre o tema antes de tomar qualquer medida.
O ministro da Justiça, Torquato Jardim, dissera à Reuters na véspera que seu ministério estudaria, por orientação de Temer, um mecanismo para recolocar a possibilidade de indulto para as pessoas que foram excluídas do decreto pela decisão de Cármen Lúcia, mas o próprio Ministério da Justiça informou em nota nesta sexta que o governo decidiu aguardar o Supremo decidir "o mais breve possível" sobre a questão.
"O indulto é tradição humanitária praticada todos os anos e favorece condenados por crimes não violentos. Entendeu, todavia, a senhora presidente do Supremo Tribunal Federal que três das 27 hipóteses do indulto são incompatíveis com a independência e harmonia dos Poderes", afirmou o ministério na nota.
"A decisão impede, neste momento, que milhares de condenados por crimes sem grave ameaça ou violência à pessoa possam beneficiar se do indulto, contrariando a nossa tradição. Obediente à decisão de Sua Excelência, o governo aguarda, em face do exposto, que o Supremo Tribunal Federal possa decidir o mais breve possível sobre o tema."
Cármen Lúcia suspendeu cinco trechos do decreto presidencial sobre o indulto em que avaliou haver "aparente desvio de finalidade", após ação movida pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.
A suspensão alterou inovações trazidas pelo decreto, entre elas o indulto para quem cumprisse apenas um quinto da pena --o indulto anterior previa um quarto-- e para presos que ainda estejam inadimplentes no pagamento de multas aplicadas cumulativamente à pena.
Membros do Ministério Público reagiram ao decreto de indulto como uma ameaça aos efeitos das operações contra corrupção, já que as regras poderiam beneficiar condenados por crime de corrupção passiva. O Ministério da Justiça argumentou que existem hoje apenas 50 pessoas condenadas em segunda instância por esse crime e apenas um se encaixaria nas regras.