Temer: "O presidente jamais cogitou qualquer saída que não fosse o enfrentamento da crise", disse uma fonte (Bruno Kelly/Reuters)
Reuters
Publicado em 18 de maio de 2017 às 21h36.
Brasília - O governo decidiu partir para o enfrentamento para reagir à mais grave crise desde que o presidente Michel Temer assumiu há um ano, e tentar tocar as reformas, especialmente a da Previdência, em um esforço para demonstrar que ainda tem força, depois de o peemedebista anunciar que não tem qualquer intenção de renunciar ao mandato.
"O presidente jamais cogitou qualquer saída que não fosse o enfrentamento da crise", disse uma fonte. "Vamos insistir nas reformas. Se algum partido achar que não deve votar, explicite seus motivos para a sociedade e arque com as consequências."
A crise se instaurou depois da notícia de uma gravação na qual Temer teria dado aval ao empresário Joesley Batista, um dos controladores da JBS, para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha. Mas a divulgação dos áudios no final da tarde melhorou o clima no Palácio do Planalto.
"Não existe nada de pagamento. É só sobre a relação entre eles", argumentou uma fonte do Planalto.
Aprovar as reformas, na avaliação de auxiliares de Temer, é o caminho que o governo ainda tem para recuperar alguma confiança do mercado.
Pela manhã, irritado, Temer afirmou que o que estava acontecendo parecia uma "conspiração", e que o governo vinha passando por um bom momento e que não iria deixar isso atrapalhar.
A tarefa, no entanto, não deve ser fácil. O governo já não tinha votos para aprovar a Previdência, e pode perder mais alguns agora.
Antes mesmo da acusação contra Temer, alguns parlamentares mostravam pouca vontade de se associar a uma reforma impopular com um governo mais impopular ainda.
Nesta quinta, tanto os relatores da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-MS), quando da Previdência na Câmara, Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), afirmaram, em notas, que não seria possível manter o calendário previsto das votações na atual situação.
Ao longo do dia, o Planalto tentou se movimentar para recompor a base, com a ameaça de vários partidos --inclusive o PSDB, considerado a principal base do governo-- ameaçando abandonar a aliança. Logo depois do pronunciamento, Temer chamou a seu gabinete os ministros tucanos Aloysio Nunes, das Relações Exteriores, e Antonio Imbassahy, da Secretaria de Governo, para pedir fidelidade.
Ao longo do dia, 14 ministros estiveram com o presidente. Entre eles, o da Defesa, Raul Jungmann, que em seguida divulgou uma nota afirmando que ficaria no governo, apesar de seu partido, o PPS, ter dito que estava deixando a base. Roberto Freira, da Cultura, seu colega de partido, entregou a carta de demissão no final da tarde.
"Nós vamos até o final, a base, o PMDB. Quem quiser pular fora, que pule", disse a fonte.
Questionado sobre as possíveis dificuldades de aprovar uma reforma complicada como a Previdência em um momento em que o governo está fragilizado, respondeu: "Já fizemos muita coisa. A Previdência era a cereja do bolo, mas se não der, paciência. Fica para o próximo presidente".
Pela manhã, depois de cancelar toda sua agenda após seu primeiro compromisso --que estava lotada de parlamentares das 8h às 19h-- reuniu-se seus aliados mais fiéis, entre eles o líder do governo no Senado, Romero Jucá, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, além da equipe de comunicação do governo.
Apesar de ter sido aconselhado por algumas pessoas próximas a renunciar ao mandato, fontes governistas afirmaram à Reuters que essa nunca foi a intenção de Temer. "Renúncia não foi analisada nem ontem, nem hoje", garantiu outra fonte.
No final da manhã, Temer pediu ao STF os áudios de Joesley Batista. Temer queria ter certeza do que havia na gravação antes de falar à imprensa, mesmo garantindo que tinha certeza de que não havia nada comprometedor.
A demora, no entanto, fez com que o presidente desistisse de esperar - os áudios só foram liberados depois das 18h."Nosso deadline era 16h. Não apareceu até ali, tinha que falar. O governo não podia fechar mais um dia sem falar", disse uma das fontes.
A interlocutores, o presidente afirmou que estava "angustiado" e "precisava falar".
No rápido pronunciamento pouco depois das 16h, Temer falou enfaticamente.
"Não renunciarei. Repito, não renunciarei. Sei do que fiz e sei da correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro."