Presidente Michel Temer no Palácio do Planalto (Ueslei Marcelino/Reuters)
Luiza Calegari
Publicado em 13 de setembro de 2017 às 13h49.
Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 14h24.
São Paulo - O corretor Lúcio Funaro afirmou, em delação premiada, que buscou R$ 1 milhão da Odebrecht que seriam destinados a Michel Temer no escritório de José Yunes, amigo do presidente.
O presidente teria recebido a propina por intermédio de Geddel Vieira Lima, ex-secretário do governo.
Na semana passada, a PF divulgou imagens do bunker onde Geddel guardava R$ 51 milhões em dinheiro vivo. Ele está preso na Papuda.
A versão de Funaro casa com a delação de Cláudio Mello Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht. Ele tinha dito que negociou caixa 2 com Temer e aliados.
Conforme Funaro, dirigentes da Odebrecht usaram o doleiro Álvaro Novis para fazer com que os valores destinados a Temer chegassem a Yunes. Ele contou que, na ocasião, recebeu um telefonema de Geddel pedindo que retirasse R$ 1 milhão, a ser entregue em Salvador.
Geddel "informou que o dinheiro que iria retirar com José Yunes era referente a uma doação via caixa 2 da Odebrecht, acertada juntamente (com) Eliseu Padilha e Michel Temer", diz trecho do anexo intitulado "Intermediação de Pagamentos de Propinas para Interpostos do Presidente", obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo.
"Estes valores eram de Michel Temer, o qual estava enviando uma parte do dinheiro arrecadado para Geddel", continua o documento.
Foi Geddel, segundo Funaro, quem lhe passou o telefone de Yunes. A retirada, segundo ele, foi feita no escritório do advogado no Itaim Bibi, em São Paulo.
No local, após uma conversa com Yunes, na qual teriam trocado cartões, uma caixa com a quantia acertada teria sido repassada pela secretária e o motorista do amigo de Temer.
Funaro, então, disse que retornou com os valores até o seu escritório e pediu para que um funcionário fosse até a Bahia levar a encomenda para Geddel.
"O dinheiro foi entregue em Salvador por um funcionário de logística de transporte de valores do doleiro Tony, o qual retirou os valores em São Paulo e, no dia seguinte, fez a entrega na sede do PMDB da Bahia", registra o anexo.
Um dos políticos mais próximos de Temer, Geddel chefiava a Secretaria de Governo até novembro do ano passado, quando pediu demissão por ter, supostamente, tentado influenciar o Ministério da Cultura a lhe conceder uma decisão favorável.
Ele está preso em Brasília desde a semana passada, depois que a Polícia Federal descobriu que escondia R$ 51 milhões em notas num apartamento da capital baiana.
O jornal O Estado de S. Paulo procurou o Palácio do Planalto, que ainda não se manifestou. A defesa de Geddel disse que não se manifestaria, pois não teve acesso aos anexos. José Yunes ainda não foi localizado pela reportagem.