Fumaça de queimadas da Amazônia e Pantanal atinge estados do Sul e do Sudeste neste sábado
Corredor de ar favorece o deslocamento das partículas de incêndios do Norte ao Sul do país, na direção do Oceano Atlântico; Poluição do ar no Rio está seis vezes acima do recomendado
Agência de notícias
Publicado em 7 de setembro de 2024 às 20h29.
A fumaça de queimadas da Amazônia, Cerrado e do Pantanal atingiu todos os estados do Sul e do Sudeste neste sábado. Consequentemente, meteorologistas indicam que as temperaturas no domingo estarão mais altas. Há mais de um mês as cidades do sul vêm sendo afetadas pelas fumaças, em meio à alta de queimadas e ao corredor de vento que vai do Norte ao Sul do país.
Diante da seca extrema, todos os biomas estão sofrendo com incêndios nos últimos dias. Entre sexta(6) e sábado (7), foram registrados 8225 focos de calor no país, de acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Mais da metade acontece no Mato Grosso (33% do total) e no Pará (27%). Em julho e agosto, o número de queimadas bateu recorde em diversos locais, inclusive na Amazônia, onde o nível de chuva está abaixo do normal, afetando as bacias hidrográficas e tornando a vegetação mais suscetível ao fogo.
Além dos estados do Norte e do Centro-Oeste, os satélites mostram que, neste sábado, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio foram afetados de forma mais intensa pela chegada da fumaça. Esse movimento acontece porque um forte corredor de ar desce do Norte do país até o Sul, passando inclusive por Bolívia e Paraguai, na direção do Oceano Atlântico, passando pelo. Depois, ele é "empurrado" para o Sudeste, devido ao ar frio do polo sul. Essa dinâmica é normalmente chamada de "rios voadores", pois traz a umidade da Amazônia e favorece as chuvas no Centro-Sul do país. Mas, com a seca e as queimadas, o corredor vem trazendo fumaça e calor.
Neblina intensa no Rio
Na quinta-feira, imagens já mostravam uma neblina intensa no Rio. Às 15h deste sábado, foi possível observar, nos satélites, partículas de queimadas vindo desde o extremo oeste da Amazônia Legal até o norte do Rio Grande do Sul, fazendo uma curva no litoral do Sul até chegar ao Rio de Janeiro e Espírito Santo, explica Henrique Bernini, pesquisador de sensoriamento remoto.
"No mesmo horário, as queimadas no sudoeste do Pará têm suas colunas de fumaça em direção ao sudoeste da Amazonia e, após a corrente de ar direcionar para o Sul, se junta aos grandes incêndios da fronteira entre Brasil e Bolívia, no Mato Grosso", explica Bernini. "Esse cenário é de guerra. Esse tanto de fumaça é suficiente para tornar a Amazonia um dos lugares que mais contribui para as mudanças climáticas, enquanto deveria ser o lugar com maior potencial de reverter a situação".
Segundo dados da IQAir, empresa suíça de tecnologia de qualidade do ar, a poluição do ar no Rio está seis vezes acima do recomendado pela OMS, neste sábado.
Meteorologista e coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites (Lapis), Humberto Barbosa afirma que essa situação vai gerar aumento das temperaturas acima da média nas cidades.
"É o DNA da mudança climática alterando o padrão de temperatura média", diz Barbosa, que destaca que a seca vai continuar inibindo a formação de chuva em grande parte do país, nos próximos dias. "A previsão da semana que vem no Centro-Sul é a atuação de uma ampla massa de ar seco, inibindo chuvas e deixando as temperaturas mais elevadas O sol deverá predominar e os índices de umidade relativa do ar ficarão mais baixos durante as tardes. O cenário é assustador".