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"Fui vítima de bandidos que saquearam o país", diz Temer

Presidente disse estranhar que a delação da JBS que o atingiu tenha sido selada "no momento em que a economia começa a se recuperar"

Michel Temer: presidente fez pronunciamento no sábado, dia 20 (José Cruz/Agência Brasil)

Michel Temer: presidente fez pronunciamento no sábado, dia 20 (José Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de maio de 2017 às 10h21.

Última atualização em 21 de maio de 2017 às 10h52.

São Paulo - Minutos depois do pronunciamento que fez sobre a crise que atinge seu governo, Michel Temer reafirmou ontem ao Estado sua recusa em renunciar à Presidência, se disse vítima de "armação", negou que tenha participado de um plano para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha e disse estranhar que a delação da JBS, que o atingiu, tenha sido selada "no momento em que a economia começa a se recuperar".

"Fui vítima de bandidos que saquearam o País nos governos passados e não obtiveram acesso ao nosso. E negociaram um acordo pelo qual querem sair impunes!", afirmou o presidente na entrevista, por telefone.

O presidente disse estar convencido da capacidade de rearticulação política do governo e deu sua versão para o encontro que teve com Joesley Batista, da JBS, em março - que foi gravado e entregue ao Ministério Público Federal, o que desencadeou a delação do grupo. "Esse sujeito me ligou seguidamente, ao longo de vários dias, me pedindo para ser recebido", afirmou o presidente.

Segundo ele, a segurança da Presidência vive repreendendo-o por "atender o celular". "Eu tenho o hábito, que a segurança do Planalto vive reclamando, de atender o celular, responder mensagem. É um mau hábito pela liturgia do cargo, mas que eu adquiri da experiência parlamentar", disse.

Segundo ele, depois de muita insistência por parte de Joesley, ele concordou em recebê-lo no Palácio do Jaburu. Questionado sobre o horário tardio da conversa, Temer disse que a razão foi o fato de que, anteriormente, ele compareceu à festa de aniversário da carreira do jornalista Ricardo Noblat. "Disse a ele: estou na festa do Noblat. Se quiser, passa mais tarde no Jaburu. E ele concordou."

Temer afirmou que já conhecia Joesley, e que tem o costume de receber empresários para conversas. "Já recebi dezenas de empresários. Em São Paulo, no Jaburu, no Planalto. Muitas dessas reuniões acontecem fora da agenda", disse o peemedebista.

Questionado sobre os assuntos tratados na reunião, dentre eles a confissão de crimes como o suborno a um procurador e supostamente a dois juízes, Temer disse ter atribuído o teor da conversa ao fato de Joesley ser alguém acuado por investigações e contrariado por não obter acesso que tinha antes a altas autoridades do governo. "Logo de cara, vi que ele era um falastrão", afirmou.

Ele afirmou ter achado "estranho" o teor da conversa, mas que não levou a sério as afirmações. "Mas você veja que comecei a ser cada vez mais monossilábico, quando a conversa dele começou a enveredar para o pedido de que precisaria ter acesso a esse ou aquele setor do governo."

Temer afirmou que a divulgação do áudio da conversa demonstra que ele não deu aval à compra do silêncio de Cunha, conforme se divulgou inicialmente. "Veja que ele diz que está mantendo uma boa relação com ele (Cunha), e incentivo que deveria manter, apenas isso."

Sobre o eventual interesse em evitar uma delação de Cunha, Temer evoca o fato de o ex-aliado tê-lo arrolado como testemunha: "Que silêncio do Cunha eu poderia comprar? Se ele me mandou 21 perguntas num processo e 17 em outro, todas claramente tentativas de me incriminar, e o próprio juiz Sérgio Moro tratou de indeferir?".

Rocha Loures

A respeito da sugestão para que Joesley procurasse o ex-assessor especial da Presidência e deputado afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), Temer disse que apenas confirmou uma sugestão do empresário. "Falei que poderia falar com o Rodrigo sobre assuntos do grupo, como poderia falar o Moreira (Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência), ou o (Eliseu) Padilha (chefe da Casa Civil)", justificou.

Temer disse acreditar que Rocha Loures "deve ter sido seduzido" pela promessa de receber R$ 500 mil ao longo de 20 anos. Questionado se tomou conhecimento, em algum momento, da negociação de recursos por Rocha Loures, ou se autorizou a transação, o presidente negou.

Afirmou que o suborno ao deputado foi negociado pela obtenção de um acordo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que foi negado. "O Cade resolveu? Não resolveu! Ele estava desesperado porque a Maria Silvia (presidente do BNDES) saneou o BNDES, ele teve de mudar a operação da empresa para outro país porque fechamos a torneira do BNDES", afirmou.

"Querem me tirar para continuar com as mesmas reformas que eu propus, com o meu programa. A quem interessa desestabilizar o governo?"

"Logo de cara, vi que ele (Joesley) era um falastrão"

"Veja que ele diz que está mantendo uma boa relação com ele (Eduardo Cunha), e incentivo que deveria manter, apenas isso"

"Querem me tirar para continuar com as mesmas reformas que eu propus, com o meu programa.

A quem interessa desestabilizar o governo?"

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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