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Forças de segurança vão estrangular financeiramente crime no Rio

A estratégia é inspirada na operação Lava Jato, que busca monitorar o caminho de recursos ilegais e identificar seus beneficiários

Rio: essa metodologia, afirmou o GSI, deverá se expandir para todo o território nacional (Ricardo Moraes/Reuters)
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Reuters

Publicado em 4 de agosto de 2017 às 19h33.

Rio de Janeiro - As forças de segurança que atuam no combate à violência no Rio de Janeiro definiram que é preciso estrangular financeiramente o crime organizado para reduzir o poder dos criminosos no Estado, disseram nesta sexta-feira integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e o ministro que comanda a pasta, general Sergio Etchegoyen.

A estratégia é inspirada na operação Lava Jato, que busca monitorar o caminho de recursos ilegais e identificar seus beneficiários, disseram as autoridades, que também manifestaram preocupação com o financiamento de campanhas eleitorais pelo crime organizado na eleição de 2018.

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Essa metodologia, afirmou o GSI, deverá se expandir para todo o território nacional, mas inicialmente se concentrará no Rio, apontado pelas autoridades como a situação mais delicada e simbólica, em função da representatividade no Brasil e no exterior.

"No duro, no duro, o Rio de Janeiro precisava hoje de intervenção federal, mas a intervenção tem custo financeiro e político que não tem como arcar", avaliou o ministro.

Diferentemente do passado, quando a estratégia das forças de segurança era ocupar territórios dominados pelo crime e realizar ações ostensivas por um período limitado, agora a ideia é mexer no bolso das quadrilhas para quebrar elos e enfraquecer os grupos criminosos.

"Queremos mexer no bolso do crime e estrangular sua fonte de renda", disse o major Alexandre Oliveira, do GSI. "Tem que reduzir poder ofensivo e desestabilizar as condições econômicas que sustentam o crime e acompanhar o caminho do dinheiro", acrescentou.

Organismos de acompanhamento e monitoramento do caminho percorrido pelo dinheiro --como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a Receita Federal-- vão colaborar na atuação da força integrada para identificar crimes como lavagem de dinheiro, evasão de divisas, fraudes fiscais, entre outros.

Segundo as autoridades do GSI, o Brasil já tem meios disponíveis para chegar até os chefes e beneficiários dos recursos movimentados pelo crime organizado.

"O crime é um negócio, tem território, uso da força, um CEO, um produto e logística, além de cliente que é a sociedade. O produto é de alto valor agregado. Temos que seguir o dinheiro, (o juiz) Sérgio Moro, está fazendo muito bem, quebrando as lideranças , deixar sem dinheiro a organização. O chefe não suja a mão, mas o dinheiro chega nele", declarou o general Carlos Bolivar, do GSI.

O militar, no entanto, alertou que este será um esforço que só deverá render frutos no médio prazo.

"Queremos enfraquecer as organizações, mas não tem como ser feito agora, no curto prazo. É um projeto até o fim de 2018, sendo que em 2018 estará plugado para o próximo governo e, pretendemos deixar um trabalho para próximos governos. É um projeto para 10 anos", disse Bolivar.

A partir do enfraquecimento financeiro das quadrilhas, será possível também fragilizar o poderio ofensivo dos criminosos, um problema crucial a ser enfrentado, de acordo com as autoridades.

"Tráfico de drogas tem em todo mundo, mas com muito fuzil só aqui", disse Etchegoyen.

No começo deste ano, autoridades policiais chegaram a apreender 1 fuzil a cada dois dias e, recentemente, cerca de 60 fuzis foram apreendidos no aeroporto do Galeão escondidos em aquecedores de piscina. O armamento veio dos Estados Unidos.

Em uma outra frente, o governo brasileiro vai tentar se aproximar de países como Peru e Bolívia, grandes produtores de cocaína, com busca de informações e acesso a bancos de dados.

O patrulhamento nas estradas brasileiras e nas de acesso ao Rio de Janeiro também deve ser aumentado e fortalecido. As investigações da força-tarefa apontam que as facções criminosas Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC) estão espalhadas em todo o país e há novos grupos criminosos se formando em modelos de "franquias".

"PCC tem estrutura organizacional impressionante e exemplar, e comandada das unidades carcerárias. Estão no esquema de home office mais seguro do mundo", disse Etchegoyen.

Eleições

Um dos motivos que também levam as autoridades de segurança a buscarem enfraquecer o poderio econômico do crime organizado é diminuir a influência desses grupos no financiamento de candidatos nas eleições de 2018. No ano que vem, serão escolhidos presidente, governadores, deputados estaduais e federais e senadores.

No ano passado, advogados bancados pelo PCC foram presos em São Paulo numa cruzada contra o financiamento ilegal de campanha. No Rio de Janeiro, mais de 10 pessoas morreram por motivação eleitoral. Houve ainda ataques comandados pelo crime organizado a ônibus e a instituições, o que pode se repetir no ano que vem.

Com o fim do financiamento empresarial de campanhas, as autoridades entendem que há basicamente três fontes de recursos aos candidatos: estatal, igrejas e crime organizado.

"Vamos prevenir as interferências do crime organizado nas eleições de 2018 e as milícias estão no mesmo pacote", disse o ministro.

"Ou nosso voto vai refletir a sociedade democrática ou o que o crime está impondo... temos uma clara ameaça à segurança institucional... entendemos que o crime vai buscar financiar candidatos em 2018", acrescentou Etchegoyen.

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