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Flávio Bolsonaro nega lavagem e diz que PM comprou R$ 21 mil em chocolate

Valores pagos pelo policial militar em três anos seriam suficientes para adquirir pelo menos 182 panetones vendidos na loja do senador

Flávio Bolsonaro: o senador também afirmou que um boleto em nome de sua mulher foi pago pelo PM porque os bancos já estavam fechados (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Flávio Bolsonaro: o senador também afirmou que um boleto em nome de sua mulher foi pago pelo PM porque os bancos já estavam fechados (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de dezembro de 2019 às 19h34.

Última atualização em 20 de dezembro de 2019 às 09h43.

Rio de Janeiro — Em vídeo publicado nas redes sociais na tarde desta quinta-feira (19), o senador Flávio Bolsonaro deu sua versão sobre as transações financeiras investigadas pelo Ministério Público (MP) do Rio em operação na última quarta-feira em endereços ligados a ele, ao seu ex-assessor Fabrício Queiroz e aos parentes da ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, Ana Cristina Valle.

A apuração do MP está relacionada à suposta prática de rachadinha no gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), no período em que ele atuou como deputado estadual.

Um dos pontos abordados por Flávio diz respeito aos depósitos recebidos na conta de sua loja de chocolates localizada em um shopping da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, e feitos pelo sargento da Polícia Militar do Rio Diego Sodré de Castro Ambrósio.

Os valores dos repasses variaram entre R$ 2,3 mil e R$ 5,6 mil, entre dezembro de 2015 e janeiro de 2018, quase sempre no fim do ano. Ao todo, a empresa de Flávio recebeu R$ 21,1 mil do PM. O parlamentar afirma que o dinheiro era referente ao pagamento de produtos da loja, adquiridos por Ambrósio para presentar clientes nas festividades do mês de dezembro.

"Como ele (Ambrósio) é um pequeno empresário, a realidade dele não é a Polícia Militar, ele é um pequeno empresário bem-sucedido, ele comprava produtos da minha loja no final do ano para dar de presente pros seus clientes. O que é que tem de absurdo nisso?", questiona Flávio no vídeo de 14 minutos, no qual também se explica sobre outros pontos apurados pelo MP.

No site da franqueadora à qual a loja de Flávio está associada, o panetone mais barato está sendo vendido este ano por R$ 84,90. Com R$ 21,1 mil, a quantia que Ambrósio destinou à conta da loja, seria possível adquirir 248 panetones.

Nos três fins de ano nos quais o PM teria feito as aquisições, ele conseguiria comprar, com seus depósitos:  52 panetones em 2015 (depósito de R$ 4,4 mil em dezembro); 35 panetones em 2016 (depósito de R$ 3 mi em dezembro) e 95 panetones em 2017 (dois depósitos de R$ 2,9 mil em dezembro e outro de R$ 2,3 mil em janeiro de 2018). Ao todo, os R$ 21,1 mil pagariam por 182 unidades do panetone mais barato.

No vídeo, o senador também rebateu outros pontos abordados na investigação do MP. Ele disse que recebe mais dinheiro da loja, em relação ao sócio Alexandre Ferreira Dias Santini, porque "leva mais público" para ao local. Flávio disse ainda que seria "mais fácil" lavar dinheiro em um "negócio particular" do que em uma franquia.

"Se eu fosse vagabundo, como muitos pensam, acham que eu estaria preocupado em abrir uma franquiazinha? Em abrir um negócio particular, fora do meu mandato? Se eu tivesse alguma sacanagem, eu não estava preocupado com isso. Dinheiro não seria problema pra mim. Mas eu sempre fiz tudo direitinho, dentro da lei", justificou.

Flávio também fez referência ao boleto de R$ 16,5 mil, referente a parcela de um apartamento, que Ambrósio pagou em nome da mulher do parlamentar, Fernanda Antunes Nantes Bolsonaro.

Na versão do senador, Ambrósio teria feito o pagamento para auxiliá-lo em uma ocasião na qual ele esqueceu de efetuar o pagamento e só se deu conta quando as agências bancárias já estavam fechadas.

Flávio diz que não tinha um aplicativo do banco instalado em seu celular para efetuar a operação e, por isso, solicitou ao amigo que o fizesse. Em seguida, um reembolso teria encerrado o empréstimo temporário.

"É um policial militar amigo meu, que em uma única ocasião na minha vida, se eu não me engano foi porque o banco já tinha fechado e eu não tinha o aplicativo na época, eu pedi para ele pagar uma conta pra mim, que era um boleto de uma parcela do apartamento, que eu tava pagando. Ele pagou e depois eu reembolsei. Qual o problema nisso?", disse Flávio, que alega ser casado em regime de comunhão parcial de bens com Fernanda, o que justificaria a comunicação entre os bens de ambos.

Ainda sobre a investigação do MP, Flávio insinuou que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), pode ter interferido no caso e também criticou a atuação dos promotores e do juiz Flávio Itabaiana, do Tribunal de Justiça do Rio, responsável por autorizar a ação de busca e apreensão de quarta-feira e também a quebra de sigilo fiscal e bancário, em maio, de Flávio, Queiroz e outras pessoas investigadas no caso.

"Agora, esse juiz, que virou motivo de chacota no Judiciário do Rio, que quebrou o sigilo fiscal e bancário de 95 pessoas, incluídas aí pessoas jurídicas, com apenas quatro linhas, sem nenhuma fundamentação. Esse mesmo juiz que autoriza tudo que o MP pede, sem ter qualquer preocupação e o cuidado necessário para avaliar o que está sendo pedido", reclamou Flávio.

"Tenha cuidado para avaliar as coisas. O senhor está tratando de vida de pessoas trabalhadoras, honestas e inocentes. É esse mesmo juiz que no meu ponto de vista é incompetente para analisar o meu caso, já que eu era deputado estadual à época. Não tô aqui pedindo foro privilegiado nenhum não, até porque isso tá fora da minha escolha, tá na legislação".

Em relação a Witzel, Flávio afirmou que a filha do juiz Itabaiana, Natalia Menescal Braga Itabaiana Nicolau, trabalha com o governador. Ele sugeriu que ela pode ser uma funcionária fantasma e recomendou que o MP investigue o caso:

"Sabe aonde a filha desse juiz trabalha? A Natália Nicolau? Trabalha com o governador Wilson Witzel. Tá lá até hoje. E olha, é uma boquinha que parece ser boa, Ministério Público, vocês podem investigar. Inclusive, eu ouço falar, não sei se é verdade, que ela não aparece muito por lá, não. Então, era bom vocês investigarem se não tem um funcionário fantasma dentro do gabinete do governador, que é filha desse juiz Flávio Itabaiana", declarou Flávio.

Ao GLOBO, o governo do Rio informou que Natalia trabalha atualmente na Casa Civil do Estado como Secretária II, sendo responsável pelo fichamento de processos, elaborações de ofícios, atendimento, organização da agenda e arquivos, entre outros serviços.

A nomeação dela ocorreu no dia 1ª de abril e foi publicada com erro no dia 15 de abril. A ratificação foi divulgada em 12 de agosto.

O governo afirma que Natália não ocupou nenhum outro cargo na estrutura do governo. Ela é pós-graduada em processo Civil e Direito Civil e trabalhou em escritórios de advocacia. Atualmente, seu salário é de R$5.478.

Em nota, o governo estadual ressaltou que "a nomeação da advogada ocorreu 15 dias antes da distribuição eletrônica do processo de Flávio Bolsonaro ao Juízo de Direito da 27° Vara Criminal, onde atua o pai da servidora".

O governo afirmou que Natália "regularmente, todos os dias, sem faltar".

Sobre os imóveis que adquiriu na Zona Sul do Rio em transações nas quais o MP do Rio vê indícios de lavagem de R$ 638,4 mil que seriam provenientes de um esquema de rachadinha em seu gabinete, Flávio disse ter feito apenas negociações lucrativas.

O parlamentar defendeu que os dois apartamentos estavam em mau estado e, por isso, foram comprados por valores baixos. Os promotores indicaram que houve "lucratividade excessiva" quando Flávio vendeu os imóveis posteriormente, com lucro de R$ 800 mil em pouco mais de um ano.

"Só porque eu consegui comprar um apartamento com um preço bom, eu tô lavando dinheiro com imóveis agora?", disse o senador.

Flávio também apresentou justificativas sobre os depósitos recebidos por Queiroz de assessores lotados em seu gabinete. A versão dele é que "a esmagadora maioria" dos valores recebidos pelo assessor — R$ 2 milhões em 483 depósitos — teriam sido repassados por seus próprios parentes, que faziam parte da equipe de funcionários.

Pelo menos sete pessoas que tinham algum grau de parentesco com Queiroz estiveram lotados no gabinete, inclusive a mulher e a enteada dele, Márcia Aguiar e Evelyn Mayara de Aguiar Gerbatim.

"Ele (Queiroz) já falou isso publicamente, que geria os recursos da família. E a família depositava o dinheiro na sua conta e ele fazia o que queria com o dinheiro. Eu não tenho nada a ver com isso", disse Flávio.

O senador também fez reclamações quanto ao vazamento de informações do processo, que corre em segredo de justiça, e afirmou que a cobertura do caso tem o objetivo de desgastar sua imagem e a do pai, o presidente Bolsonaro.

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