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Financial Times: Eleição no Brasil é a mais incerta desde redemocratização

De acordo com o jornal, os dois primeiros colocados dificilmente farão "o que é necessário" em termos das reformas, consideradas imprescindíveis

Urna: o "FT" salienta que o Brasil já foi uma economia emergente de alto nível e um dos integrantes dos Brics (José Cruz/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 1 de outubro de 2018 às 15h23.

Última atualização em 1 de outubro de 2018 às 15h25.

Londres - O jornal britânico de economia "Financial Times" trouxe nesta segunda-feira, dia 1º, uma reportagem sobre o que estaria preocupando os brasileiros. De acordo com economistas consultados pela publicação, os dois primeiros colocados nesta eleição dificilmente farão "o que é necessário" em termos das reformas, consideradas imprescindíveis para o país.

"Em menos de uma semana, o Brasil terá as eleições presidenciais mais incertas desde seu retorno à democracia em 1985. Em uma nação que se dividiu em proporções drásticas, pesquisas de opinião sugerem que a eleição chegará a um impasse no segundo turno entre os duas visões distintas", trouxe a reportagem, citando que, de um lado, está Jair Bolsonaro (PSL), da extrema direita, e, do outro, o esquerdista Fernando Haddad (PT).

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O "FT" salienta que o Brasil já foi uma economia emergente de alto nível e um dos integrantes dos Brics (formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul).

Mas um escândalo de corrupção centrado na Petrobras, o descontentamento com a classe política, níveis assustadores de violência, uma frágil recuperação após a pior recessão da história moderna do País e o aumento dos gastos públicos afetaram as perspectivas de crescimento e o otimismo de seu povo, na visão do jornal.

"Economistas concordam que o Brasil precisa de reformas, incluindo uma revisão do generoso sistema de pensões, para sustentar o crescimento econômico e tornar sua dívida sustentável. Mas muitos duvidam que qualquer um dos candidatos faria o que é necessário", pontuou a publicação.

Cerca de 85% dos brasileiros, conforme o texto, acham que o País está indo na direção errada - a maior proporção nas 27 maiores economias pesquisadas pela Ipsos Mori.

O "Financial Times" apresentou, então, uma lista dos motivos que estariam afetando o Brasil:

Brasil foi pego pela corrupção

O País foi engolido pelo escândalo de corrupção da Operação Lava Jato, que provocou a ira contra o establishment. No Brasil, as percepções de corrupção pioraram mais do que em outros países da América Latina, segundo a Transparency International.

O Brasil está no último lugar dos 137 rastreados pelo Fórum Econômico Mundial no quesito confiança em políticos. Entre as críticas estão a percepção do uso ilícito de recursos públicos, a eficiência dos gastos do governo, a transparência da formulação de políticas públicas e o custo comercial do crime e da violência.

"Isso está abaixo de qualquer outro país vizinho, exceto a Venezuela, que é um Estado falido", comparou.

Homicídio está em ascensão

Bolsonaro se posicionou como o candidato da "lei e ordem" perante uma população que está farta de crime e violência: o número de homicídios aumentou quase 10%, para quase 64 mil em 2017. Esse é o maior número desde que os registros começaram em 2008, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"Suas visões ultraconservadoras sobre o controle do crime lembram outra linha-dura do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte", disse Robert Muggah, diretor do Instituto Igarapé, um centro de estudos de segurança no Rio de Janeiro. "A primeira prioridade de Bolsonaro é ampliar as abordagens repressivas ao combate ao crime."

O progresso econômico e social parou

Ajudado por um boom de commodities, associado a políticas redistributivas, o progresso econômico e social do Brasil entre 2003 e 2014 tirou 29 milhões de pessoas da pobreza e viu a desigualdade cair significativamente, de acordo com o Banco Mundial. Mas a taxa de redução da pobreza e desigualdade estagnou desde 2015.

A economia perdeu cerca de 10% de sua produção entre o terceiro trimestre de 2013 e o segundo trimestre de 2017. A maior economia da América Latina continua a se recuperar de sua pior recessão de todos os tempos.

Mais de 6 milhões de pessoas ficaram desempregadas no Brasil nos quatro anos até julho

No ano passado, cerca de 12% da força de trabalho estava desempregada - essa é a taxa mais alta em mais de 30 anos, segundo o monitor fiscal do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O número de pessoas que procuram um emprego está em declínio, mas ainda oscila em torno de 12% por mês.

O desmatamento está em ascensão

O Brasil, lar do maior pedaço da floresta amazônica, fez grandes progressos na redução do desmatamento até 2012. Naquele ano, cerca de 23 mil quilômetros quadrados de floresta foram cortados em comparação a oito anos atrás.

Essa tendência se inverteu. Ambientalistas temem que o desmatamento possa aumentar mais rapidamente se Bolsonaro vencer a eleição. Ele ameaçou retirar-se do acordo climático de Paris em um eco do presidente dos EUA, Donald Trump.

O déficit fiscal do Brasil é preocupante

O saldo fiscal do Brasil deteriorou-se dramaticamente nos últimos cinco anos. O déficit fiscal subiu de 2% do PIB em 2012 para 10% em 2015. Espera-se que este ano fique em torno de 8% - quase 3% acima da média da América Latina. O próximo presidente enfrentará uma carga fiscal que provavelmente definirá seu mandato.

Queda nas receitas e crescimento das despesas

A crise econômica do Brasil significou uma queda nas receitas do governo, enquanto os gastos continuaram a aumentar. As transferências sociais através do bem-estar aumentaram os gastos, mas "apenas alguns deles atingem os pobres", escreveu a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em seu último relatório. "A reforma da 'inchada' Previdência do Brasil está atrasada", disse Angela Bouzanis, da Focus Economics.

O Brasil gasta cerca de 12% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em pensões

Peru, México e Chile têm uma parcela similar de suas populações com 65 anos ou mais, mas gastam apenas cerca de 2% do seu PIB com Previdência. "Sem reforma, as despesas previdenciárias mais que dobrarão", alerta a OCDE. Com 82% dos gastos com esses benefícios indo para os 60% mais ricos, a falta de reformas significará crescentes desequilíbrios e desigualdade.

Cassiana Fernandez, uma economista do JPMorgan, disse: "Sem a aprovação da reforma previdenciária no próximo ano, acreditamos que o risco de uma crise financeira no Brasil aumentará substancialmente".

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