Paulo Skaf e Jair Bolsonaro: simpatia de Bolsonaro por Skaf é antiga (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 13h48.
Última atualização em 13 de dezembro de 2019 às 13h57.
São Paulo — “Problema orçamentário existe. Se bem que aqui o Paulo Skaf se comprometeu e cumpre a hora que eu quiser: ele arranja 50 milhões para a gente, via doações de empresários de São Paulo”.
O trecho do discurso de Jair Bolsonaro na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército no último dia 23 trata do investimento em um de seus projetos preferidos, os Colégios Militares, mas revela também uma mudança no xadrez político nacional e, principalmente, paulista: com o fim do "BolsoDoria" – a aproximação do governador João Doria (PSDB) a Bolsonaro –, o presidente adotou Skaf como seu aliado de primeira hora no estado, inclusive na formação de seu partido.
Nos últimos meses, o presidente e seus auxiliares começaram a receber Skaf para audiências e em eventos no Palácio do Planalto. O presidente da Fiesp, por sua vez, retribuía organizando eventos que reuniam ministros e industriais.
O vice Hamilton Mourão e os ministros Sergio Moro, Paulo Guedes, Ricardo Salles, Marcos Pontes, Tarcisio Freitas e Ernesto Araújo deram palestras na Fiesp este ano. Durante a viagem de Bolsonaro à China, o empresário também ofereceu um jantar à delegação brasileira, encontro que contou com um vídeo com ambos.
A pessoas próximas, Skaf relata ser um incentivador do partido Aliança Pelo Brasil e alguns nomes próximos ao empresário participaram da formação do partido.
Estes mesmos interlocutores descrevem a relação Skaf-Bolsonaro como algo ancorado em uma boa dose de pragmatismo: Skaf espera receber o apoio do presidente na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes em 2022. Em troca, Bolsonaro consegue um aliado que conseguiu 5 milhões de votos nas últimas eleições e já disputou outras duas vezes o governo do estado de São Paulo.
A aliança informal já gera efeitos para as eleições municipais do ano que vem. Aliados do presidente não escondem que sua opção preferencial para a prefeitura de São Paulo é lançar o apresentador José Luiz Datena, que no ano passado chegou a se lançar ao Senado mas voltou atrás logo depois. Em outubro, Bolsonaro esteve com Datena em São Paulo, e Skaf acompanhou o encontro.
Hoje o presidente da Fiesp é filiado ao MDB, mas a saída dele do partido é considerada apenas uma questão de tempo. Ele se filiou à legenda em 2011, mas nunca teve vida partidária intensa.
Dirigentes da sigla apontam como maior sinal do do distanciamento de Skaf do partido a ausência dele na convenção nacional que elegeu o novo presidente do MDB, deputado Baleia Rossi. O cacique emedebista é de São Paulo e, mesmo assim, Skaf não compareceu para votar no deputado.
"Se ele quisesse ser candidato na próxima eleição para governador pelo partido esse seria um gesto importante", disse um integrante nacional da legenda.
Baleia e Skaf tiveram uma conversa recente e o presidente da Fiesp não descartou deixar o MDB, mas disse que não era uma decisão tomada. A reticência dele se dá por causa das dúvidas colocadas em relação ao Aliança pelo Brasil, que pode não se estabelecer antes das eleições do ano que vem. Caso isso não seja possível, tanto aliados de Skaf como do presidente Bolsonaro enxergam em Andrea Matarazzo, do PSD de Gilberto Kassab, um possível herdeiro do apoio do presidente.
A simpatia de Bolsonaro por Skaf é antiga. Em maio do ano passado, antes da eleição para presidente, ele acenou apoio ao empresário na disputa pelo governo do Estado. Àquela altura, no entanto, as chances do atual presidente vencer a edisputa pelo Planalto ainda não eram levadas a sério por políticos e analistas. Skaf preferiu manter o apoio a Henrique Meirelles - o apoio a Bolsonaro veio apenas dias antes do primeiro turno.
Um possível ponto de estresse entre Skaf e Bolsonaro surgiu no início do governo, quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, levantou a hipótese de cortes no Sistema S – grupo de instituições ligadas a categorias profissionais, como o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Antes da posse, Guedes chegou a afirmar que era preciso "meter a faca" nos recursos destinados ao Sistema S, gerando reação pública do presidente da Fiesp.
Embora o governo mantenha o desejo de reduzir as alíquotas dos repasses para o caixa do Sistema S, projeto que ainda caminha tanto no Congresso como em negociações da equipe econômica, a declaração de Guedes até agora ficou na promessa. E, hoje, interlocutores de Skaf dizem que o tema não é visto como um entrave político para a relação entre Skaf e Bolsonaro.