Na entidade em Zurique ninguém esconde que já perdeu a paciência com os diversos atrasos em obras, nas leis e nas definições sobre a Copa (Fabrice Coffrini/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2012 às 19h42.
São Paulo - Oficialmente, a Fifa se recusa a comentar a saída de Ricardo Teixeira da cúpula do Comitê Organizador da Copa de 2014. Mas, nos bastidores, a entidade quer pressa na definição da nova estrutura de poder no Brasil, temendo que o evento que já sofre de graves atrasos em obras agora fique paralisado por conta de disputas políticas entre federações locais, desafetos de Teixeira e novos grupos em busca de poder.
Paralelamente à guerra midiática entre o governo e a Fifa, na entidade em Zurique ninguém esconde que já perdeu a paciência com os diversos atrasos em obras, nas leis e nas definições sobre a Copa. Agora, a mudança na estrutura de poder da CBF é vista como mais um obstáculo, mesmo que Teixeira já vinha preparando o terreno para abandonar o comando da organização. O que a entidade quer é uma definição rápida de como trabalhará com a nova administração. A grande pergunta na entidade é: “Quem é José Maria Marin?” O novo presidente da CBF é um ilustre desconhecido na Fifa.
Um primeiro ensaio geral já ocorreu em janeiro, quando Ronaldo viajou sozinho para a Fifa e manteve reuniões sobre a Copa. No mesmo momento, Pelé se reunia com a entidade para falar em nome do governo. Mas o que a Fifa quer agora são garantias de que a estrutura que for estabelecida não será modificada nos próximos dois anos - cruciais - e que as pessoas no comando tenham de fato o poder para atuar.
Na Fifa, burocratas confirmam que há diversas considerações positivas em relação à saída de Teixeira. A primeira é a “vitória” pessoal do presidente da Fifa, Joseph Blatter, na quebra de braço com o brasileiro.
Teixeira tinha como meta concorrer à presidência da Fifa em 2015, candidatura que tinha a forte oposição de Blatter. O cartola suíço, nos últimos meses, já não escondia que gostaria de ver Teixeira fora da “família Fifa”. “A esperança é de que com o fim da disputa, portanto, poderá permitir um melhor diálogo entre Blatter e a CBF”, explicou uma fonte.
Um segundo elemento positivo, na avaliação da Fifa, é o acesso ao Palácio do Planalto. Teixeira não era recebido pela presidente Dilma Rousseff, um fato que frustrava a Fifa e que, para a entidade, impedia que problemas fossem solucionados.
Ausência - A decisão de Teixeira de abandonar a CBF e possivelmente a Fifa nas próximas horas coloca o Brasil em uma situação sui generis. Justamente nos anos em que o País irá realizar os dois principais eventos esportivos do mundo, todos os cartolas brasileiros abandonam as organizações esportivas internacionais e não há sinal de renovação.
João Havelange, membro do Comitê Olímpico Internacional, pediu em 2009 que o mundo o desse um presente de aniversário de 100 anos a ele em 2016, com a realização dos Jogos no Rio. Mas há poucos meses teve de renunciar ao COI alegando problemas de saúde. A renúncia ocorreu dias antes da conclusão de investigações que apontariam seu envolvimento no recebimento de subornos pela empresa ISL. Teixeira também caminha para abandonar o Comitê Executivo da Fifa para evitar a mesma investigação. Sua saída obrigará a Conmebol a eleger um novo membro da região para o cargo na Fifa.
Já o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, por atingir a idade máxima no COI, também abandonará a entidade. Enquanto essa geração deixa os palcos internacionais, fica claro que não houve renovação e não há nenhum outro brasileiro por enquanto.