Nos últimos meses, a Fiesp tem sido palco de uma disputa entre empresários ligados a Jair Bolsonaro (PL) e os que são considerados mais próximos do presidente Lula (Mauricio Santana/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de janeiro de 2023 às 12h14.
Última atualização em 21 de janeiro de 2023 às 13h20.
Sob impasse sobre sua permanência como presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o executivo Josué Gomes, herdeiro da Coteminas, recebeu neste sábado o apoio do apresentador de TV Luciano Huck, do ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, o ator Antonio Fagundes e de outros membros do conselho superior de economia criativa da entidade.
"O que mais precisamos nesse momento no Brasil é pacificar e dialogar com toda a sociedade, e testemunhamos seu empenho nessa direção’, diz o manifesto de apoio à gestão Josué à frente da Fiesp. A carta também é assinada pelo ex-secretário de Cultura da cidade de São Paulo Alê Yousseff e pela presidente do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) Elizabeth Machado, além do produtor musical KondiZilla e do presidente da Central Única das Favelas (Cufa) Preto Zezé.
"Defender a democracia e resgatar a importância política da Fiesp no debate público, coisas que o senhor tem feito com tanta competência, deveriam ser motivo de honra e aplauso de todos os membros da entidade", diz o texto, que repudia o afastamento Josué da presidência da entidade.
Ontem, o vice-presidente Elias Miguel Haddad enviou um e-mail para diretores, conselheiros e presidentes de sindicatos informando que assumiu o comando da entidade de forma interina no lugar de Josué Gomes. Em nota, o herdeiro da Coteminas rebateu seus opositores e disse que não "tem efeito toda e qualquer deliberação tomada em minha ausência".
A guerra de versões se deu num dia em que Josué se encontrou em Brasília com presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir a indústria de defesa com os comandantes das Forças Armadas.
No comunicado - disparado pelo endereço oficial da Fiesp -, Elias Miguel Haddad disse que a sua nomeação ocorre por decisão de assembleia geral extraordinária. Ele chegou a desmarcar uma reunião convocada por Josué na próxima segunda-feira, 23, para discutir a governança da entidade. O empresário tem 95 anos e, caso a destituição de Josué se confirme, assume o comando de forma interina por ser o vice-presidente mais velho.
O ato ocorre após decisão da Assembleia Geral Extraordinária, convocada por meio de edital regular a pedido da maioria absoluta do Conselho de Representantes, que, após ouvir os argumentos de defesa e os rejeitar, deliberou pela destituição de Josué Gomes do cargo, na última segunda-feira (16)", diz o e-mail assinado por Elias Miguel Haddad .
Em nota divulgada pela assessoria de imprensa da Fiesp, Josué disse que recebeu com surpresa a "informação de que teria sido dado posse ao diretor Elias Miguel Haddad". Há, de acordo com o comunicado divulgado pelo executivo, um "escuso propósito de destituir um presidente regularmente eleito". O empresário também classificou de "clandestina" a assembleia que votou pela sua saída do cargo.
"Advirto, outrossim, que os responsáveis sofrerão consequências administrativas, trabalhistas e eventualmente em outras esferas, servindo a presente notificação para ciência inequívoca da ilegalidade dos atos praticados nesta tarde, que comprovam a desabrida reiteração de atos ilícitos e a ambição de a qualquer modo ocupar ocupar indevidamente a Presidência", afirma Josué em nota.
De acordo com o jurista Miguel Reale Júnior, um dos advogados de defesa de Josué, o empresário deve levar o caso para a Justiça já no início da próxima semana.
Na segunda-feira, 16, Josué não esteve na assembleia que votou pela sua destituição. A defesa do empresário sempre tratou a decisão como um "golpe". O executivo participou de uma assembleia anterior, convocada por ele para o mesmo dia, para explicar pontos questionados da sua gestão, como a acusação de que tem pouco interesse por assuntos setoriais.
Nos últimos meses, a Fiesp tem sido palco de uma disputa entre empresários ligados a Jair Bolsonaro (PL) e os que são considerados mais próximos do presidente Lula.
O embate político dentro da instituição começou a ficar evidente com o manifesto a favor da democracia, divulgado em agosto do ano passado nos principais jornais do País. Uma parte da entidade avaliou que a carta tinha como objetivo atingir Bolsonaro, então candidato à reeleição.
Embora a Fiesp tenha sede em São Paulo, seus posicionamentos têm repercussão nacional. Em 2015, por exemplo, ainda presidida por Paulo Skaf, foi uma das principais vozes a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
O manifesto também marcou o rompimento definitivo entre Josué e Skaf, que ficou 18 anos no comando da entidade e passou a estimular um movimento contra o seu sucessor. Skaf sempre foi aliado de Bolsonaro.