Em novo livro, FHC fala sobre emenda da reeleição e real
Em novo livro, ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala do processo de aprovação da reeleição e questões econômicas do país na época
Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2016 às 09h02.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lança na próxima semana o segundo volume de seu Diários da Presidência - 1997-1998, no qual faz revelações sobre a segunda metade de seu primeiro mandato, iniciado em 1995.
No livro, o presidente de honra do PSDB aborda temas como as crises econômicas na Rússia e na Ásia e impactos no Brasil, o aumento da taxa de juros no País e a pressão especulativa sobre o Real, as negociações para aprovar a emenda da reeleição e também a acusação de compra de votos para sua aprovação.
Assim como o primeiro livro da série, este volume traz relatos do dia a dia do tucano no poder, gravados por ele em fitas e transcritos nas mil páginas desta edição.
O então presidente começou o ano de 1997 em meio às negociações com deputados e senadores para a aprovação da PEC da reeleição. Em trecho de 9 de janeiro daquele ano, o tucano narra um encontro com José Sarney, então presidente do Senado.
"Eu disse ao Sarney que era preciso segurar a Convenção do PMDB (sobre a emenda da reeleição, que estava marcada para 12 de janeiro), que o ideal era que a Convenção não decidisse nada. O Sarney acha o contrário. Que é melhor, embora a questão seja aberta, que ela recomende a reeleição. Aliás, ele acha que nós temos maioria para isso."
Ainda em 1997, FHC queixava-se das negociações com o PMDB para assumir cargos em seu governo. Em um dos trechos do livro, chega a dizer que a pressão do partido estava "cheirando mal".
Exterior
Não bastassem as questões política internas, FHC também teve de lidar, nestes dois anos, com as crises internacionais que abalavam Rússia e Ásia e a instabilidade que isso traria para o Brasil.
Em um trecho, ele narra a preocupação com a capacidade da classe política de entender a instabilidade econômica que a crise no exterior trazia ao País.
"A Bolsa de São Paulo fechou em queda, ou seja, a situação continua instável. Esse é o principal problema, parece que os políticos têm muita dificuldade em enxergar. Não é astúcia, não; é dificuldade de enxergar mesmo."
Além dos efeitos da crise internacional, o País tinha de lidar com a estabilização do câmbio. O Real valorizado ajudava no combate à inflação.
No livro, o tucano admite pela primeira vez que, durante a campanha à reeleição, seu governo sobrevalorizou a moeda e subiu os juros para atrair capitais externos e evitar a sua fuga.
Foi também neste período que FHC enfrentou uma das maiores crises de seu governo. O grampo ilegal na presidência do BNDES quando o governo privatizou as empresas de telefonia do País. O episódio resultou na queda do então ministro das Comunicações (Luiz Carlos Mendonça de Barros) e do presidente do banco (André Lara Resende).
"A informação que me foi dada pelo Sérgio Andrade (presidente da Andrade Gutierrez) é de que tais fitas teriam sido gravadas pelo Eduardo Cunha, um antigo presidente da Telerj no tempo do Collor e muito ligado também ao (Jorge) Serpa (um dos maiores lobistas na época)."
Lula
Em vários trechos, FHC cita Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário na campanha à reeleição em 1998.
"Vamos ganhar as eleições e vou ganhar um tremendo abacaxi para descascar, que é manter o Brasil no rumo da estabilidade econômica (...) O Lula diz que estou empurrando o Brasil, avançando para o abismo, mal sabe ele o tamanho desse abismo", narrou o então presidente na véspera das eleições daquele ano, que terminaram com a vitória em primeiro turno de FHC.
Em dezembro, o presidente reeleito se encontraria com o petista. Dias antes do encontro relatou: "Chegará o momento em que ele (Lula) ganha (as eleições). Não é nenhuma catástrofe. Aliás, estou chamando o Lula (...) Ninguém sabe, mas sabemos como é isso de ninguém saber no Brasil. Estou fazendo isso de caso pensado, porque acho que temos que dialogar mais intensamente pelo presente e pelo futuro."
Principais pontos do livro
Economia
Crise cambial, seus vários momentos e desdobramentos. Dificuldades no manejo da política monetária e cambial. Discussões entre a equipe econômica sobre a necessidade de desvalorização da moeda e o momento ideal para fazê-lo.
Bancos
Consolidação do saneamento do setor bancário privado: o segundo momento do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
'Caciques'
Relações com José Sarney e Antonio Carlos Magalhães.
Privatização
Sergio Motta e o processo de privatização das teles.
Grampos
Espionagem industrial nas privatizações e o escândalo dos grampos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES).
Reeleição
Reeleição em primeiro turno.
'Cayman'
O "dossiê", a falsificação, a tentativa de desmascará-la na mídia e o aproveitamento político do episódio.
Lula
Considerações sobre Luiz Inácio Lula da Silva. Encontro após a eleição e avaliação de um cenário em que o PT chegasse ao poder, considerado provável pelo então presidente.
Política externa
Tentativa de repor o Brasil no cenário internacional.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lança na próxima semana o segundo volume de seu Diários da Presidência - 1997-1998, no qual faz revelações sobre a segunda metade de seu primeiro mandato, iniciado em 1995.
No livro, o presidente de honra do PSDB aborda temas como as crises econômicas na Rússia e na Ásia e impactos no Brasil, o aumento da taxa de juros no País e a pressão especulativa sobre o Real, as negociações para aprovar a emenda da reeleição e também a acusação de compra de votos para sua aprovação.
Assim como o primeiro livro da série, este volume traz relatos do dia a dia do tucano no poder, gravados por ele em fitas e transcritos nas mil páginas desta edição.
O então presidente começou o ano de 1997 em meio às negociações com deputados e senadores para a aprovação da PEC da reeleição. Em trecho de 9 de janeiro daquele ano, o tucano narra um encontro com José Sarney, então presidente do Senado.
"Eu disse ao Sarney que era preciso segurar a Convenção do PMDB (sobre a emenda da reeleição, que estava marcada para 12 de janeiro), que o ideal era que a Convenção não decidisse nada. O Sarney acha o contrário. Que é melhor, embora a questão seja aberta, que ela recomende a reeleição. Aliás, ele acha que nós temos maioria para isso."
Ainda em 1997, FHC queixava-se das negociações com o PMDB para assumir cargos em seu governo. Em um dos trechos do livro, chega a dizer que a pressão do partido estava "cheirando mal".
Exterior
Não bastassem as questões política internas, FHC também teve de lidar, nestes dois anos, com as crises internacionais que abalavam Rússia e Ásia e a instabilidade que isso traria para o Brasil.
Em um trecho, ele narra a preocupação com a capacidade da classe política de entender a instabilidade econômica que a crise no exterior trazia ao País.
"A Bolsa de São Paulo fechou em queda, ou seja, a situação continua instável. Esse é o principal problema, parece que os políticos têm muita dificuldade em enxergar. Não é astúcia, não; é dificuldade de enxergar mesmo."
Além dos efeitos da crise internacional, o País tinha de lidar com a estabilização do câmbio. O Real valorizado ajudava no combate à inflação.
No livro, o tucano admite pela primeira vez que, durante a campanha à reeleição, seu governo sobrevalorizou a moeda e subiu os juros para atrair capitais externos e evitar a sua fuga.
Foi também neste período que FHC enfrentou uma das maiores crises de seu governo. O grampo ilegal na presidência do BNDES quando o governo privatizou as empresas de telefonia do País. O episódio resultou na queda do então ministro das Comunicações (Luiz Carlos Mendonça de Barros) e do presidente do banco (André Lara Resende).
"A informação que me foi dada pelo Sérgio Andrade (presidente da Andrade Gutierrez) é de que tais fitas teriam sido gravadas pelo Eduardo Cunha, um antigo presidente da Telerj no tempo do Collor e muito ligado também ao (Jorge) Serpa (um dos maiores lobistas na época)."
Lula
Em vários trechos, FHC cita Luiz Inácio Lula da Silva, seu adversário na campanha à reeleição em 1998.
"Vamos ganhar as eleições e vou ganhar um tremendo abacaxi para descascar, que é manter o Brasil no rumo da estabilidade econômica (...) O Lula diz que estou empurrando o Brasil, avançando para o abismo, mal sabe ele o tamanho desse abismo", narrou o então presidente na véspera das eleições daquele ano, que terminaram com a vitória em primeiro turno de FHC.
Em dezembro, o presidente reeleito se encontraria com o petista. Dias antes do encontro relatou: "Chegará o momento em que ele (Lula) ganha (as eleições). Não é nenhuma catástrofe. Aliás, estou chamando o Lula (...) Ninguém sabe, mas sabemos como é isso de ninguém saber no Brasil. Estou fazendo isso de caso pensado, porque acho que temos que dialogar mais intensamente pelo presente e pelo futuro."
Principais pontos do livro
Economia
Crise cambial, seus vários momentos e desdobramentos. Dificuldades no manejo da política monetária e cambial. Discussões entre a equipe econômica sobre a necessidade de desvalorização da moeda e o momento ideal para fazê-lo.
Bancos
Consolidação do saneamento do setor bancário privado: o segundo momento do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer).
'Caciques'
Relações com José Sarney e Antonio Carlos Magalhães.
Privatização
Sergio Motta e o processo de privatização das teles.
Grampos
Espionagem industrial nas privatizações e o escândalo dos grampos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BDNES).
Reeleição
Reeleição em primeiro turno.
'Cayman'
O "dossiê", a falsificação, a tentativa de desmascará-la na mídia e o aproveitamento político do episódio.
Lula
Considerações sobre Luiz Inácio Lula da Silva. Encontro após a eleição e avaliação de um cenário em que o PT chegasse ao poder, considerado provável pelo então presidente.
Política externa
Tentativa de repor o Brasil no cenário internacional.