Lula: no levantamento feito ao longo das 24 horas do dia 10 de maio no Facebook e no Twitter, este "terceiro campo político" foi responsável por cerca de um terço (32,3%) das interações sobre o evento (Leonardo Benassatto/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 15 de maio de 2017 às 16h47.
Última atualização em 15 de maio de 2017 às 18h00.
São Paulo - O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz Sérgio Moro na semana passada, em Curitiba (PR), reforçou a polarização entre grupos contrários e favoráveis ao petista nas redes sociais, mas fez aparecer uma "terceira via" que prevaleceu nas menções feitas ao interrogatório no Facebook e no Twitter, mostra estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV).
A partir disso, a instituição conclui que a tendência de cansaço da disputa tradicional deve influenciar o cenário em 2018, ano de eleições presidenciais.
No levantamento feito pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAAP) da FGV ao longo das 24 horas do dia 10 de maio no Facebook e no Twitter, este "terceiro campo político", que não se manifestou nem a favor nem contra ao petista, foi responsável por cerca de um terço (32,3%) das interações sobre o evento, enquanto que os perfis de oposição a Lula responderam por 20,7% das reações e os de apoio protagonizaram 19,2% das publicações.
Os demais 28% são formados por grupos menores e fragmentados da rede, aponta o estudo.
O grupo de terceira via, diz o relatório do levantamento, foi crítico em relação às posturas tanto de Lula quanto do juiz e procurou adquirir distância política em relação às pessoas que apoiavam e atacavam o ex-presidente.
"Embora menos organizado do que os grupos contra e a favor do ex-presidente Lula, este terceiro campo político revela uma tentativa de avaliação equidistante do depoimento do ex-presidente, muitas vezes criticando os dois protagonistas e o tom de guerra dos militantes partidários - e por vezes em tom satírico", diz o estudo.
A existência de uma "terceira força" na internet, como a FGV classificou o grupo, é reforçada por outro dado: o número de menções ao episódio nas redes.
O depoimento de Lula recebeu 650 mil menções no Twitter, volume considerado expressivo pelo estudo, mas inferior ao 1,5 milhão mobilizado em torno da greve geral contra as reformas na previdência e nas leis trabalhistas, no dia 28 de abril.
"Isso pode demonstrar que, embora Lula e Moro sejam catalisadores das posições políticas de milhares de brasileiros, não são os únicos. Questões como os direitos previdenciários (no caso do dia da greve geral) e da avaliação desapaixonada tanto de Lula como da Lava Jato também são temas mobilizadores", relata o levantamento.
A "maioria não alinhada", outro termo usado no estudo para se referir ao terceiro grupo, deve influenciar no cenário político de 2018.
"A análise sugere que, no debate visando o cenário de 2018, há um importante - e talvez crescente - campo que se mostra cansado da polarização tradicional", diz o estudo. Os especialistas afirmam ainda que o movimento tende a buscar separar a dicotomia cristalizada nos últimos anos e mobilizar "uma pauta de melhoria do sistema político como um todo e de geração de novas oportunidades".
Nesse grupo "nem pró nem contra Lula", a maioria são jovens. Por outro lado, o estudo mostra que a grande parte tanto dos apoiadores de Lula quanto dos críticos ao ex-presidente é composta por pessoas acima de 35 anos.
Para a instituição, há um importante grupo que não encontrou seus valores representados na polarização e que abre espaço para uma agenda que concilie as pautas dos campos tradicionais.
"Se, por um lado, essa parcela não encontra um movimento, uma liderança ou mesmo uma agenda única em torno da qual se aglutinar, por outro, verifica-se haver um espaço a ser ocupado no debate-disputa que se desenrolará nos próximos meses, podendo conciliar parte das agendas de ambos os polos - combate à corrupção e oposição a reformas, por exemplo."
O fator etário, conclui o levantamento, deve ser importante com a juventude adquirindo protagonismo na eventual viabilização de uma alternativa política para o próximo ano.